Doença é considerada epidemia pela OMS e afeta 17% das crianças alagoanas de até 10 anos
A saúde dos filhos é uma das principais preocupações dos pais após o nascimento. Quanto mais forte for o bebê, imagina-se que ele será muito saudável. Afinal, quem não gosta de desfilar com o filho robusto, chamando a atenção pelas ruas?
No entanto, segundo o Núcleo de Nutrição da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), a gordura não deve ser interpretada como um sinal de que a criança é saudável, pois ela pode acarretar um dos principais problemas de saúde pública no mundo atual: a obesidade infantil.
O Dia Internacional de Combate à Obesidade será lembrado em todo o mundo nesta quinta-feira (11). Segundo a nutricionista da Sesau, Sibele de Araújo, atinge 17% das crianças alagoanas com idade entre zero e 10 anos de vida, de acordo com o cadastro do Sistema de Vigilância Alimentar Nutricional do Ministério da Saúde (MS). Problema que segundo ela, é fruto de hábitos alimentares errados, iniciados geralmente nos primeiros meses de vida da criança. Essa realidade afeta, principalmente, crianças que até os seis primeiros meses de vida não foram alimentadas exclusivamente com o leite materno, como recomenda a Organização Mundial de Saúde (OMS).
A nutricionista da Sesau esclarece que a obesidade não é apenas uma questão estética – poderá acarretar consequências mais graves, quando a criança passa a frequentar a escola, parques e outros setores – elas passam a ser vítimas de bullying. No contato com os colegas, muitos adquirem traumas, em função do tratamento preconceituoso. E, como se não bastasse, a obesidade pode desencadear uma série de doenças ao longo de sua vida, como o diabetes e problemas cardiovasculares.
Diabetes e cardiovasculares
No caso do diabetes, o Ministério da Saúde (MS) não sabe precisar o percentual exato de crianças que são vítimas da doença em Alagoas. O tipo mais frequente é o diabetes 1. No entanto, em razão da epidemia de obesidade infantil nos últimos anos, existem crianças que são afetadas pelo tipo 2, aumentando as chances do desencadeamento de doenças cardiovasculares futuramente, segundo aponta a Associação Brasileira de Diabetes Juvenil.
Entre os principais fatores para o desencadeamento do diabetes infantil, ainda de acordo com a Associação Brasileira de Diabetes Juvenil, está o desmame precoce e a introdução de leites industrializados na alimentação do bebê. “Entre os principais sintomas da doença, destaque para o aumento da urina, da sede e o emagrecimento rápido. Como a doença não tem cura, o controle é realizado por meio da aplicação de insulina, que é um hormônio produzido em baixa escala pelo organismo da criança com diabetes, aumentando assim os níveis de açúcar no sangue”.
No caso das doenças cardiovasculares em crianças, elas também têm ligação direta com a obesidade infantil e ocorrem principalmente entre os sete e 10 anos de idade, segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). Daí porque, segundo a entidade, a importância de amamentar as crianças pelo menos até o sexto mês de vida, estimular hábitos saudáveis de alimentação, com a ingestão de frutas e verduras, aliada à pratica de exercícios físicos, como natação e futebol, ou brincadeiras que os façam abandonar o sedentarismo.
Cuidados alimentares
O fato de a obesidade atingir 17% das crianças alagoanas com idade entre zero e 10 anos é consequência do processo nutricional por que passaram no período em que eram bebês. Essa é a conclusão da nutricionista da Sesau, que alerta para que o problema seja evitado já nos primeiros dias de vida. “A criança até os seis meses de idade deve se alimentar apenas do leite materno, que é mais nutritivo e evita doenças, tornando-a mais saudável”.
Sibele Araújo explica que os cuidados com a alimentação devem ser iniciados nos primeiros meses de vida, em especial com aqueles que não são amamentados. “O ideal é que esses bebês se alimentem apenas de leite, sem a introdução de qualquer tipo de farinha ou massa, como alguns costumam se referir às farinhas industrializadas”, recomenda.
Aos seis meses de vida, quando acontece a introdução de outros alimentos, “devem ser oferecidas frutas e legumes, tanto no lanche como no almoço e jantar. O açúcar, o mel, doces, balas e refrigerantes não devem ser associados à comida”, diz a nutricionista.
Fase preocupante
A fase mais preocupante com a obesidade infantil está entre 2 e 10 anos, quando a criança passa a frequentar outros ambientes, a exemplo da escola, que pode ofertar lanches gordurosos e refrigerantes. Nessa fase da vida, adverte a nutricionista da Sesau, “alguns terminam se tornando obesos". Isso porque, nesse período, "os comerciais exibidos na TV também interferem na alimentação, principalmente os comercializados em fast foods, que são gordurosos e ricos em calorias”.
Sibele de Araújo enfatiza que cabe aos pais a missão de ofertar aos filhos uma alimentação saudável, quando os meios de comunicação divulgam outros pratos recheados de guloseimas, que enchem os olhos e representam uma tentação. A nutricionista afirma que, “em meio a esses comerciais convidativos, é possível oferecer alimentos saudáveis, sem que a criança se sinta diferente das demais”.
Ela orienta que é importante oferecer alimentos saudáveis ainda durante os primeiros meses de vida, incentivando a prática de exercícios que devem começar a partir dos quatro anos. “Salgadinhos e outras guloseimas devem passar distante da dieta nutricional das crianças, pois são ricos em sódio e gorduras, provocando sérios problemas de saúde”.
Confira os 10 passos para evitar a obesidade infantil
1º passo – Dar somente leite materno até os seis meses, sem oferecer água, chás ou quaisquer outros alimentos. O leite materno contém tudo o que a criança necessita até os seis meses de idade, inclusive água, além de proteger contra infecções.
2º passo – A partir dos seis meses, oferecer de forma lenta e gradual outros alimentos, mantendo o leite materno até os dois anos de idade ou mais. Mesmo recebendo outros alimentos, a criança deve continuar a mamar no peito até os dois anos ou mais, pois o leite materno continua alimentando a criança e protegendo-a contra doenças.
3º passo – A partir dos seis meses, dar alimentos complementares (cereais, tubérculos, carnes, leguminosas, frutas e legumes) três vezes ao dia se a criança receber leite materno, e cinco vezes ao dia se já tiver desmamado. Algumas crianças precisam ser estimuladas a comer.
4º passo – A alimentação complementar deve ser oferecida sem rigidez de horários, respeitando sempre a vontade da criança.
5º passo – A alimentação complementar deve ser espessa desde o início e oferecida de colher. Deve começar com consistência pastosa (papas e purês) e, gradativamente, deve ter a sua consistência modificada até chegar à mesma apresentada à família. No início da alimentação complementar, os alimentos oferecidos à criança devem ser preparados especialmente para ela. A partir dos oito meses, podem ser oferecidos os mesmos alimentos preparados para a família, desde que amassados, desfiados, picados ou cortados em pedaços pequenos.
6º passo – Oferecer à criança diferentes alimentos ao dia. Uma alimentação variada é uma alimentação colorida. Desde cedo, a criança deve-se acostumar a comer alimentos variados. Só uma alimentação variada evita a monotonia da dieta e garante a quantidade de ferro e vitaminas de que a criança necessita. Os alimentos devem ser oferecidos separadamente, para que a criança aprenda a identificar as suas cores e sabores. É importante colocar as porções de cada alimento no prato sem misturá-las.
7º passo – Estimular o consumo diário de frutas, verduras e legumes nas refeições. As crianças devem se acostumar a comer frutas, verduras e legumes desde cedo, pois esses alimentos são importantes fontes de vitaminas, cálcio, ferro e fibras.
8º passo – Evitar açúcar, café, enlatados, frituras, refrigerantes, balas, salgadinhos e outras guloseimas nos primeiros anos de vida. Usar sal com moderação, pois o seu excesso pode trazer problemas de saúde no futuro.
9º passo – Cuidar da higiene no preparo e manuseio de alimentos; garantir o seu armazenamento e conservação adequados. Para uma boa alimentação, devem-se usar alimentos frescos, maduros e em bom estado de conservação. Os alimentos oferecidos às crianças devem ser preparados pouco antes do consumo; nunca oferecer restos de uma refeição. Antes de preparar as refeições, lavar bem as mãos e os alimentos que serão consumidos, assim como os utensílios em que serão preparados e servidos.
10º passo – Estimular a criança doente e convalescente a se alimentar, oferecendo sua alimentação habitual e seus alimentos preferidos, respeitando sua aceitação. As crianças doentes, em geral, têm menos apetite. Por isso, devem ser estimuladas a se alimentar, aumentar a oferta de líquidos sem, no entanto, serem forçadas a comer.