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O Campeão de Anadia

Nos áureos tempos dos anos 50 quando nossa terra Anadia respirava e transbordava alegria, festas, boemia, poesia, música e futebol, foi aí que surgiu – pra mim, o maior craque que já desfilou suas habilidades futebolísticas por estas bandas, e como Pelé, Garrincha, Tostão, eu também não o vi jogar.

Como posso esquecer algo que está fincado bem dentro do peito e me deixa com uma imensa vontade de compartilhar, dividir e indicar para quem não sabe ou ainda não sentiu saudade.
Beba! Beba!
Pois a água viva ainda tá na fonte
Tente outra vez
Você tem dois pés para cruzar a ponte
Nada acabou! Não! Não! Não…
Há uma voz que canta, uma voz que dança, uma voz que gira, gira, bailando no ar!(Raul Seixas)
Início dos anos setenta foi guardado com imenso carinho por aqueles que o viveram intensamente, formando a romântica geração daquele tumultuado período. Era a chamada geração ‘Pra frente Brasil’.
A festa da democracia acabou de passar – as eleições -, dela se tiram lições ou até mesmo reflexões e campeões de votos, mas não é desse assunto que vou falar.
Nunca neguei as minhas origens, um lado vem lá de Bom Conselho (PE) e de Pindoba e o outro da Atalaia e do principado Tapera, em Anadia. E foi exatamente na Tapera que nasceu o campeão que agora vou descrever.
É inegável a capacidade brasileira de produzir craques de futebol e como é fenomenal esse fato, com o surgimento de tantos jogadores, é comum cometermos alguma injustiça, muitas vezes não damos a determinados jogadores o destaque que eles mereciam.
Ah, se a noite anadiense falasse!
A meu ver a boemia é como futebol: é ritmo de jogo, sequência; se você larga por uns dias, ela te pega na volta, mesmo que peça suplicante, a sua nova inscrição.
Nos áureos tempos dos anos 50 quando nossa terra Anadia respirava e transbordava alegria, festas, boemia, poesia, música e futebol, foi aí que surgiu – pra mim, o maior craque que já desfilou suas habilidades futebolísticas por estas bandas, e como Pelé, Garrincha, Tostão, eu também não o vi jogar.
Era dotado de uma técnica apurada para o drible e faro impressionante para balançar as redes adversarias, dono de uma elegância impar no toque da bola, fazia o que queria com a bola, tornava-a escrava de sua técnica.
Relatos são os mais variados: contam que subia muito alto, parava no ar, olhava e escolhia o canto onde ia colocar a bola, humilhava os goleiros, tamanha sua técnica no cabeceio.
Disputado por times como Santa Cruz do Recife – onde jogou, Bahia, Vitória, trocou todos por uma paixão avassaladora – uma princesa de nome Graziela, que com uma flecha certeira acertou seu coração, o retirou dos gramados e aproximou das serenatas, do convívio com os amigos e os irmãos, acrescentando algo a mais, quando a monotonia queria invadir a Tapera…
De lá, vinham às peripécias dos filhos do seu Zacarias – Lolito, Juarez, Zé Draga e Zi. E narro aqui uma das histórias a ele creditada:
Depois de uma noite inteira de serenata e farra, quando abriu a porta da casa de sua mãe – Dona Licôr, deparou-se com um cortejo fúnebre e segui-o estrada afora, da Tapera até chegar a Anadia, chorando copiosamente.
Ao chegar na entrada do cemitério foi amparado por um amigo, que tentando dar-lhe uma força, perguntou quem era o morto? Respondeu que se tratava de um grande amigo…
Mas não demorou muito e logo se aproximou um parente do defunto, que entre abraços e lágrimas agradeceu ato de solidariedade e em nome da família enlutada sentenciou! – A minha família é grata ao seu ato de piedade a minha adorável avó de 97 anos.
Só aí, foi que o meu tio Zi, “O Campeão”, notou que tinha exagerado na serenata e nas doses na noite anterior.
Não dar pra contar tudo em um só artigo, teria que ser muitos para relembrar e descrever o cara que com um sorriso largo e um incrível dom de colecionar amigos, subiu bem alto e nos deixou muitas saudades.
Sei que são coisas do passado, mas as lembranças estão vivas na memória.E digo sem medo de errar: foi Rufino Melo da Trindade – Zi; O verdadeiro campeão de Anadia. Pode até aparecer outros, mas terão que fazer como profetizou o grande Raul Seixas “Tente outra Vez”.
(*) Ex-secretário de Estado e filho de Anadia

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