Vamos chamá-lo de Cinquecento para manter o charme ok?
Se você gostou do Fiat 500 (vamos chamá-lo de Cinquecento para manter o charme clássico do carrinho, ok?), não é difícil imaginar a pergunta que ronda sua cabeça: é besteira pagar R$ 62 880 por um hatchzinho deste tamanho (3,56 m, mais precisamente)? Seja sincero e não se prenda ao que dizem os que veem carro como investimento: você gostou dele? Então, faça um test drive antes de chegar a qualquer conclusão. O Cinquecento, assim como o MINI Cooper, seu principal rival – já falaremos sobre o smart –, não é só um arrancador de sorrisos nato. É um modelo feito para quem gosta de automóveis – também para exibi-los, mas, antes de tudo, para dirigi-los com prazer.
O novo Cinquecento, lançado em uma festa que parou Turim (cidade-sede da Fiat na Itália) em 2007, não tem nada a ver com a charmosa caixinha sobre rodas que estreou o nome em 1957. O novo Fiat abandonou o antigo motor bicilíndrico de 13 cv (isso mesmo, 13 cavalos, a potência de uma moto de 125 cm3) e o trocou pelo novo 4 cilindros 1.4 16V Fire de 100 cv a 6 000 rpm e 13,4 kgfm de torque a 4 250 rpm, engordou 431 kg, cresceu 0,57 cm no comprimento e agora faz uso de uma combinação de aços mais resistentes na dianteira para se adequar às rígidas regras de segurança europeias. Resultado: charme de sobra e segurança (o Cinquecento novo tem nada menos que 7 airbags, ABS e controle de estabilidade) num carro que consegue ser tão bom de dirigir quanto de olhar – sim, concordamos que parece exagero, mas carisma é isso aí.
Fiel ao que a Fiat chama de “Family Feeling” (algo como característica familiar), o 500 (ops, Cinquecento!) faz mais sucesso na rua que aquele belo Labrador que todo mundo quer fazer carinho. “É seu?”, perguntou um vendedor no posto de gasolina querendo saber o preço. “Nossa, que bonito seu carro, moço! Que modelo é?”, disse a atendente do pedágio. “Olha pra frente se não você vai bater, $%#¨#!”, reclamou a provável esposa de um rapaz a bordo de uma VW Parati que se esqueceu do trânsito para olhar o carrinho de cabo a rabo. Esse é o Cinquecento. Portanto, se você quer um, acostume-se a andar num aquário sobre rodas. Não é preciso dizer como isso é interessante para rapazes e moças solteiros (as), certo?
Curiosidade é a palavra de ordem quando se assume o volante do pequeno Fiat pela primeira vez, e as questões são muitas. Como anda este motor Fire 1.4 diferente do que estamos acostumados? – o nacional é flex, tem cabeçote de 8 válvulas e 86 cv, enquanto o italiano só roda a gasolina, traz 16 válvulas, 100 cv e a tecla Sport, que muda o gerenciamento eletrônico do carro. Outras perguntas: será que a cabine passa uma sensação de aperto? E os câmbios (manual de 6 marchas ou automatizado Dualogic de 5 velocidades), ficaram bem acertados?
Para tirar essas dúvidas, o Carro Online percorreu um trecho urbano dentro do Rio de Janeiro com o Cinquecento manual e mais 400 km na Rodovia Presidente Dutra (BR-116) até São Paulo com o hatch Dualogic. E ele não começou bem: no trânsito carioca, o 500 estava amarrado e só andava quando o acelerador era pressionado da metade em diante. Parecia apenas a característica ruim de alguns motores de 16 válvulas, mas descobrimos o “milagre” que mudaria o Cinquecento por completo: a tecla S no painel, que altera o comportamento de câmbio, motor e centralina (unidade de gerenciamento eletrônico).
De repente, o pequeno Fiat despertou e parecia outro carro, esperto no trânsito e muito mais linear na entrega de potência, sem exigir que o motorista precisasse afundar o pé no acelerador quando precisasse de força. Daí em diante, a tecla S não foi mais desligada (se você for fazer um test drive, lembre-se de acioná-la para não ficar com má impressão). Com o modo ativo, o Cinquecento fica ideal sem ser arisco (e nem tem potência para isso), mas sem o S vira um carro lento. Essa não deu para entender.
Com o motor 1.4 mais acordado, a impressão foi excelente. Mesmo entregando os 13,4 kgfm de torque a altas 4 250 rpm, o Fire italiano, apesar de áspero e ruidoso em certas rotações, faz uma ótima parceria com o câmbio manual de 6 marchas. A caixa oferece mais relações para que o motorista explore a agilidade do carrinho nas brechas do trânsito e o torna uma delícia na cidade. A posição da alavanca (clique em “Fotos”, acima, e veja a galeria de imagens), fixada no painel, também ajuda na rapidez das trocas.
Quem gosta de esportividade à flor da pele poderia se decepcionar ao trocar o Cinquecento manual de 6 marchas pelo Dualogic de 5 velocidades para cair na estrada. Poderia, mas só até ver o caminho livre à frente na subida da Serra das Araras e poder usar as borboletas para troca de marchas. Sem precisar tirar as mãos do volante que comanda a ótima direção elétrica Dual Drive, responsável por boa parte da agilidade do Fiat graças à sua relação direta, a condução do Cinquecento nas curvas é mais segura e agradável.
Mesmo provocado em curvas mais fechadas, o italianinho mantinha a trajetória num balanço de carroceria sem sustos e com pouca inclinação (isso porque a Fiat ainda recalibrou a suspensão para o Brasil com molas mais macias e amortecedores de curso alongado). Sempre com a tecla S acionada, o câmbio Dualogic casou bem com o hatch (apesar de sofrer um pouco na cidade) e vai satisfazer mais ainda quem optar pelas trocas manuais, que permitem explorar melhor os 100 cv e diminuem as desacelerações nas mudanças.
O novo Fiat, fabricado na terceira maior unidade da marca no mundo (em Tychy, na Polônia), será no Brasil o que as montadoras costumam chamar de “carro de imagem”. Com previsão de vendas de 250 a 300 unidades por mês, o Cinquecento chega em quatro versões: Sport manual (R$ 62 880), Sport Dualogic (R$ 66 940), Lounge manual (R$ 64 910) e Lounge Dualogic (R$ 68 970). Apesar de charmoso, o carro traz algumas deficiências no acabamento, como plásticos que aparentam qualidade inferior ao restante do padrão do modelo, mas nada que comprometa muito a boa impressão geral do possível comprador.
Todas as opções já trazem de série ar-condicionado, direção, travas e vidros elétricos, 7 airbags (dois frontais, dois laterais, dois de janela e um para os joelhos do motorista) ABS com distribuição eletrônica da força de frenagem, sistema Hill Holder (um dispositivo que segura o carro durante 2 segundos numa rampa para que ele não desça enquanto se engata a marcha), ESP (controle de estabilidade), ASR (evita que uma das rodas gire em falso), CD player compatível com MP3, sistema multimídia Blue&Me, faróis de neblina, sensor de estacionamento, chave com comando do alarme e rodas de liga leve de 15”, entre outros. O Cinquecento Sport traz como opcionais rodas de 16”, teto solar Sky Window, retrovisor interno eletrocrômico e bancos de couro – o do motorista incorpora regulagem de altura.
A versão mais completa é a Lounge, que agrega ao pacote da Sport teto fixo de vidro, ar-condicionado digital, banco do motorista com regulagem de altura, retrovisores com revestimento prateado e comando elétrico, interior diferenciado e volante com comandos do rádio.
O pacote de opcionais também traz Sky Window e retrovisor eletrocrômico, mas os bancos têm forração de couro diferente e as rodas de 16” trazem desenho exclusivo para a opção top de linha do pequeno hatch.
A Fiat venderá o modelo em 150 concessionárias e promete prestar assistência técnica em todas as 520 autorizadas espalhadas pelo país, além de integrar o comprador do Cinquecento ao Clube L’Unico, lançado com o Linea no ano passado para oferecer vantagens como ingressos para shows aos compradores de modelos da Fiat mais caros.
Mas vale investir num carro que ainda é uma incógnita? Para começar, esqueça o termo “investimento”. Carro já não é investimento há muito tempo. Ainda assim, se você quiser comparar, o Cinquecento é mais negócio que o smart, que custa R$ 57 900, só carrega duas pessoas, tem menos espaço para bagagens e uma suspensão que sofre demais nas ruas brasileiras. Além disso, o retro da Fiat é R$ 23 620 mais barato que o MINI Cooper, que oferece pacote semelhante, apesar de ser um pouco maior e mais potente.
Mas vamos responder a pergunta feita no primeiro parágrafo: não, não é besteira (muito menos loucura) desembolsar os mais de R$ 60 000 que a Fiat pede pelo Cinquecento. Se você gostou, não ligue para o que dizem os “entendidos”, vá em frente e invista no carro. Ou melhor: invista na sua vontade. Ele o recompensará a altura.