Vilela considerou morte de médica uma tragédia.
O governador Teotonio Vilela Filho decretou nessa quarta-feira (13) luto oficial de três dias pela trágica e inesperada morte da médica sanitarista e fundadora da Pastoral da Criança, Zilda Arns. Ela morreu na madrugada da terça-feira, soterrada pelo terremoto que atingiu o Haiti, onde se encontrava em missão humanitária. A Pastoral da Criança atende 26 mil alagoanos.
“A morte de dona Zilda é uma tragédia para a cidadania brasileira e mundial. Ela deixa um legado de ensinamentos e coragem cívica por um mundo mais justo e igualitário, que, com toda certeza, servirá de referência para as futuras gerações. Em nome do povo alagoano, solidarizo-me à tristeza e ao luto de todos os que choram a morte desta mulher exemplar que, há cerca de um ano, em Maceió, encorajou-me a não desistir, a não esmorecer, sob qualquer hipótese, da cruzada que travamos contra a mortalidade infantil, onde temos como parceira primordial a Pastoral da Criança”, assinalou o governador.
Teotonio lembrou do diálogo que teve que a doutora Zilda Arns, que foi recebida, em agosto, no Palácio República dos Palmares.
“Ela considerou um grande feito o nosso esforço em baixar os índices de mortalidade infantil e disse que eu não tivesse receio, pois a Pastoral da Criança estava a serviço de Alagoas para assegurar a melhoria desses índices. Ela é uma dessas pessoas que percebeu logo cedo que encontrar a felicidade é conquistar a felicidade geral e coletiva de todas as pessoas, principalmente das crianças”, disse Teotonio.
O governador estendeu suas condolências aos 11 militares brasileiros e aos mais de 100 mil haitianos mortos em consequência do terremoto.
O secretário-chefe da Casa Civil, Álvaro Machado, também lamentou a morte de Zilda Arns, afirmando que perdeu uma grande amiga e parceira do Estado de Alagoas.
“Lamento profundamente a perda de uma das mulheres mais importantes da história brasileira. Perdi uma grande amiga, e lembro com carinho de nossa última missão em Washington (EUA), quando estivemos juntos em um fórum da Organização Panamericana de Saúde (Opas). Ela deixou um legado de vida e futuro para as crianças brasileiras”, afirmou.
Nascida em 25 de agosto de 1934, em Forquilhinha (Santa Catarina), Zilda Arns Neumann, era médica pediatra e sanitarista, fundadora e coordenadora internacional da Pastoral da Criança, fundadora e coordenadora nacional da Pastoral da Pessoa Idosa, organismos de ação social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Zilda também era representante titular da CNBB, do Conselho Nacional de Saúde e membro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (CNDES).
Ela morava em Curitiba, no Paraná, e deixa cinco filhos e dez netos. Escolheu a medicina como missão e enveredou pelos caminhos da saúde pública. Sua prática diária como médica pediatra do Hospital de Crianças Cezar Pernetta, em Curitiba, e posteriormente como diretora de Saúde Materno-Infantil, da Secretaria de Saúde do Estado do Paraná, teve como suporte teórico diversas especializações como Saúde Pública, pela Universidade de São Paulo (USP), e Administração de Programas de Saúde Materno-Infantil, pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas/OMS).
Sua experiência fez com que, em 1980, fosse convidada a coordenar a campanha de vacinação Sabin para combater a primeira epidemia de poliomielite, que começou em União da Vitória (PR), criando um método próprio, depois adotado pelo Ministério da Saúde.
Em 1983, a pedido da CNBB, a médica Zilda Arns criou a Pastoral da Criança, juntamente com Dom Geraldo Majela Agnello, cardeal arcebispo primaz de São Salvador da Bahia, que na época era arcebispo de Londrina.
Em 2004, Zilda Arns recebeu da CNBB outra missão semelhante, fundar, organizar e coordenar a Pastoral da Pessoa Idosa. Atualmente, mais de 129 mil idosos são acompanhados todos os meses por 14 mil voluntários.
Pelo seu trabalho na área social, Zilda Arns recebeu condecorações como: Woodrow Wilson, da Woodrow Wilson Fundation, em 2007; o Opus Prize, da Opus Prize Foundation (EUA), pelo inovador programa de saúde pública que ajuda a milhares de famílias carentes, em 2006; Heroína da Saúde Pública das Américas (Opas/2002); 1º Prêmio Direitos Humanos (USP/2000); Personalidade Brasileira de Destaque no Trabalho em Prol da Saúde da Criança (Unicef/1988); Prêmio Humanitário (Lions Club Internacional/1997); Prêmio Internacional em Administração Sanitária (Opas/1994), entre outros prêmios.