Quem faz irrigação e produz na entressafra obtém melhor preço.
As condições climáticas de Alagoas oferecem, em média, três meses de chuva e nove meses de insolação durante o ano. Talvez por isso, e pelo fato do período seco ser muito rigoroso, o escritor Graciliano Ramos tenha criado o romance Vidas Secas (1938), um marco em sua carreira e um dos livros mais lembrados quando o assunto é a vida sofrida do agricultor nordestino.
Contrariamente à falta de oportunidades de trabalho no período de estiagem, é no período chuvoso que os agricultores familiares mais se dedicam ao campo: alguns plantam, outros limpam o mato que cresce na plantação, fazem o controle de pragas e outros realizam a colheita.
“Apesar da estiagem na maior parte do ano, em Alagoas é possível produzir o ano inteiro, desde que se tenha água para fazer a irrigação. Quem produz na entressafra, por exemplo, consegue aumentar o lucro e tem melhor retorno financeiro”, cita o engenheiro agrônomo Péricles Grabriel.
De acordo com um levantamento feito pela Diretoria de Irrigação da Secretaria de Estado da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário (Seagri), em todo o Estado existem 202.275 hectares irrigados. Desse total, 39,24 hectares são de goiaba irrigada, 368,8 de mamão, 83,45 de caju, 66 de pinha, 50,5 de graviola, 34,79 de atemoia, 16,8 de manga e 10 hectares de abacaxi. Mas a maior parte da área irrigada é com cana de açúcar, que representa 58% da área cultivada em todo o Estado.
O levantamento aponta também que se pratica a irrigação nas seguintes culturas: arroz, capim de corte, hortaliças, batata doce, milho, amendoim, umbu e inhame. É justamente o inhame irrigado que está mudando a vida da família de José Silvânio, na zona rural de Taquarana. Com a irrigação, a produtividade passou de 100 para 150 sacos de inhame por tarefa — cerca de 1/3 de hectare. “A vida também melhorou”, conta José Silvânio.
E melhorou mesmo: nesse período, ele e a família compraram, com o dinheiro da venda do inhame e de outros produtos, mais oito tarefas de terra, construíram uma casa e irrigaram também a plantação de mamão, batata e cebolinha.
“Assim como ele, tem muita gente aqui na região que fez irrigação de outras culturas e conseguiu melhorar a produção e a vida”, citou o técnico agrícola Jorge Tomé, do escritório da Seagri em Taquarana.
Outro agricultor beneficiado com a irrigação é José Augustinho Francisco, também de Taquarana. Ele possui 6,5 tarefas de terra, das quais três são usadas para o cultivo de goiaba. No entanto, até três anos atrás a produção não era boa e ocorria apenas em um período do ano.
Em 2007, José Augustinho foi atendido por técnicos da Secretaria de Estado da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário (Seagri) e orientado a obter um empréstimo do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) para irrigar a produção de goiaba.
Ele obteve R$ 7 mil para fazer a irrigação, foi orientado em todas as etapas, desde a ida ao banco até a implantação dos equipamentos, e hoje colhe goiaba pelo menos duas vezes por semana. “Trabalhamos aqui eu e mais três pessoas da minha família. Quando precisa, a gente chama mais algum trabalhador pra ajudar”, relata o agricultor. De acordo com ele, cada um dos 300 pés de goiaba produz em média 30 quilos da fruta por safra.