"Perícia de local é três quartos do caso", diz o perito.
O perito George Sanguinetti, médico que a defesa do goleiro Bruno quer contratar para uma investigação particular, afirmou nesta quinta-feira que é preciso procurar mais por resíduos no local onde Eliza Samudio, ex-amante do jogador, teria sido morta – apontado pela polícia como a casa do ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, em Vespasiano (MG). "Perícia de local é três quartos do caso", afirmou.
Para Sanguinetti, se a versão de que Eliza teria sido desmembrada e depois jogada aos cães for verdadeira, a perícia deve procurar por resíduos do corpo, como fragmentos ósseos e cabelo. "Tem que haver provas técnicas para dar veracidade aos depoimentos", disse. "Nada foi encontrado que desse materialidade ao fato", afirmou.
O perito criticou ainda a possibilidade de ser usado luminol nos cães. "Como vou usar luminol no cão? O luminol não é um reagente de certeza, é de probabilidade", afirmou. "Se o cão ingeriu, é mais fácil encontrar resíduos no local", disse.
Além disso, Sanguinetti citou outros pontos em que uma perícia particular poderia atuar: a identificação do sangue com DNA masculino, encontrado no jipe Range Rover do goleiro, e uma vistoria no sítio onde ela teria ficado. Sanguinetti disse ainda que uma investigação paralela poderia inclusive analisar os depoimentos sobre o papel de cada um dos suspeitos no crime. Para ele, não há, até o momento, uma ordem direta do jogador para matar Eliza. "Bruno não teria dito claramente ‘mate, execute’, e sim ‘resolva ao problema’".
Em 2008, Sanguinetti foi contratado pelo casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, condenados pela morte de Isabella Nardoni, para investigar o caso e contestar a perícia feita pela Polícia Civil de São Paulo. Sobre o convite da defesa de Bruno, o perito disse que aguarda laudos oficiais para se pronunciar, mas que há um pedido de sua família para que ele não atue no caso.
O caso
Eliza desapareceu no dia 4 de junho, quando teria saído do Rio de Janeiro para Minas Gerais a convite de Bruno. No ano passado, a estudante paranaense já havia procurado a polícia para dizer que estava grávida do goleiro e que ele a agrediu para que ela tomasse remédios abortivos. Após o nascimento da criança, Eliza acionou a Justiça para pedir o reconhecimento da paternidade de Bruno.
No dia 24 de junho, a polícia recebeu denúncias anônimas dizendo que Eliza havia sido espancada por Bruno e dois amigos dele até a morte no sítio de propriedade do jogador, localizado em Esmeraldas, na Grande Belo Horizonte. Durante a investigação, testemunhas confirmaram à polícia que viram Eliza, o filho e Bruno na propriedade. Na noite do dia 25 de junho, a polícia foi ao local e recebeu a informação de que o bebê apontado como filho do atleta, de 4 meses, estava lá. A atual mulher do goleiro, Dayane Rodrigues do Carmo Souza, negou a presença da criança na propriedade. No entanto, durante depoimento, um dos amigos de Bruno afirmou que havia entregado o menino na casa de uma adolescente no bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves, onde foi encontrado. Por ter mentido à polícia, Dayane Souza foi presa. Contudo, após conseguir um alvará, foi colocada em liberdade. O bebê foi entregue ao avô materno.
Enquanto a polícia fazia buscas ao corpo de Eliza seguindo denúncias anônimas, em entrevista a uma rádio no dia 6 de julho, um motorista de ônibus disse que seu sobrinho participou do crime e contou em detalhes como Eliza foi assassinada. O menor citado pelo motorista foi apreendido na casa de Bruno no Rio. Ele é primo do goleiro e, em depoimento, admitiu participação no crime. Segundo o delegado-geral do Departamento de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa (DIHPP) de Minas Gerais, Edson Moreira, o menor apreendido relatou que o ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, conhecido como Bola ou Neném, estrangulou Eliza até a morte e esquartejou seu corpo. Ainda segundo o relato, o ex-policial jogou os restos mortais para seus cães. Segundo o delegado, no dia do crime, o goleiro saiu do sítio com Eliza e voltou sem ela, o que indicaria que o goleiro presenciou a ação.
No dia seguinte, a mulher de Bruno foi presa. Após serem considerados foragidos, o goleiro e seu amigo Luiz Henrique Romão, o Macarrão, acusado de participar do crime, se entregaram à polícia. Os três negam participação no desaparecimento. A versão do goleiro e da mulher é de que Eliza abandonou o filho. No dia 8, a avó materna obteve a guarda judicial da criança.