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Polícia Comunitária comemora um ano no Selma Bandeira

População aprova projeto piloto instalado para conter violência.

Adailson Calheiros/Agência Alagoas

Dona Rosana aprova novo modelo de policiamento

Antes de a Polícia Comunitária se instalar no conjunto Selma Bandeira, então considerada uma das áreas mais violentas da capital alagoana, a comunidade registrava em média quatro homicídios por mês. O residencial fica no bairro do Benedito Bentes, um complexo habitacional onde vivem cerca de 70 mil pessoas, na periferia de Maceió, na região do Tabuleiro do Martins.

Passado quase um ano da implantação da novidade, a aposentada Rosana Lopes de Oliveira atesta os resultados da iniciativa. “Para mim, meu filho, agora aqui é o céu para o que era esse lugar, cheio de traficantes, violência e muito roubo”, diz a senhora, no auge dos seus 82 anos e habitante do Selma há mais de cinco anos, junto com o companheiro, Antônio João dos Santos, 90 anos.

Segundo os registros atuais da Polícia Militar, o índice de homicídios neste período praticamente zerou na localidade, excetuando-se o terceiro mês, onde foi registrado um assassinato, depois da instalação do núcleo de Polícia Comunitária.

O testemunho dado por Rosana Lopes, natural da cidade de Capela, mostra que tudo começou a mudar para um horizonte mais humano e com menos violência na periferia no dia 12 de agosto de 2009.

Nessa data, foi inaugurada a primeira base de Polícia Comunitária do Estado, com apoio do governo de Alagoas, dentro do Programa Nacional de Segurança Pública e Cidadania (Pronasci), do governo federal, e também com apoio da prefeitura de Maceió. E nesta quinta-feira, 12, a apartir das 8h, começa a comemoração.

A bem-sucedida experiência alagoana de quase um ano com a Polícia Comunitária, de acordo com os índices apresentados pela própria PM, indica que esse pode ser um dos caminhos para a diminuição da criminalidade, principalmente nas regiões consideradas mais violentas. Mas para isso existe uma explicação, segundo explica o cabo José Cícero Pereira, um dos 17 policiais que integram o Núcleo de Polícia Comunitária do Selma Bandeira.

“A relação de confiança tem sido fundamental para o sucesso e o entendimento nosso com a comunidade”, diz o cabo Pereira, nome de “guerra” com que é conhecido o policial na corporação e já com os próprios moradores.

“Claro que a violência não diminuiu cem por cento, porque ainda há problemas e isso é até natural em comunidades muito pobres como a nossa. Mas, pelo menos, em torno de noventa por cento melhorou em tranquilidade”, diz o motorista Leandro Ferreira, 43 anos, pai de quatro filhos, inclusive de um bebê de dois meses, sobre a atuação da Polícia Comunitária.

Com a sensível diminuição dos homicídios, os casos mais corriqueiros no Selma Bandeira são o som alto e as brigas de casal, além de problemas envolvendo álcool. “Mas tudo isso tem sido contornado com muita conversa”, garante Pereira.

A mudança de uma cultura de violência para a de paz no conjunto resultou até na mudança do nome de uma rua no local. “Aqui antes essa rua era conhecida como ‘Inferninho’. Depois da Polícia Comunitária, com a tranquilidade reinando agora, os moradores colocaram Rua Nova Canaã”, diz a moradora Rosa Maria Ferreira, mãe de nove filhos.

Projeto-piloto foi implantado no dia 12 de agosto de 2009

Implantado como projeto-piloto em Alagoas no dia 12 de agosto de 2009, a instauração da Polícia Comunitária contou com a presença de diversas autoridades da segurança pública, entre elas o secretário de Estado de Defesa Social, Paulo Rubim; o comandante da Polícia Militar de Alagoas, coronel Dalmo Sena, e representantes da comunidade.

Mas antes mesmo do dia da inauguração do primeiro núcleo, o ministro da Justiça, Tarso Genro, esteve no local durante a instalação também dos chamados Territórios de Paz, programa inserido no Pronasci e onde ainda se inclui a Polícia Comunitária, juntamente a programas como o Mulheres da Paz, também voltado a regiões violentas.

“Para se ter ideia do que isso representa para nós enquanto policiais e da satisfação do trabalho, tem morador no Selma Bandeira que iria vender a sua casa e desistiu, justamente por sentir que nós somos parceiros da comunidade e que é possível viver com mais tranquilidade aqui. Um das nossas alegrias é que conseguimos evitar até homicídio no conjunto durante esse tempo”, revelou o coordenador do Núcleo de Gerenciamento de Crises e Polícia Comunitária da PM, major Antônio Casado Farias.

De acordo com a equipe de policiais que atualmente forma o Núcleo do Selma Bandeira, até profissionais pertencentes ao Programa Saúde da Família (PSF) que presta serviços em toda a comunidade hoje se sentem mais seguros para fazer o trabalho.

No Selma Bandeira, a coordenação da equipe é do sargento Hamilton Fernando Heliziário, que comanda a base dos 16 policiais no bairro.

O trabalho desenvolvido no bairro pela Polícia Comunitária também foi aprovado por quem comercializa no conjunto. Caso de Charles Ferreira, 41, que possui um estabelecimento e mora em das ruas centrais do conjunto e três meses atrás já sentia a mudança para melhor.

“Hoje, podemos fechar até um pouco mais tarde, sem ficarmos tão preocupados com os assaltos”, disse a filha Érica Ferreira, 24, que mora com o pai no conjunto desde sua fundação, há 11 anos.