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Agrotóxico provoca anomalia em criança

Matheus, de oito anos, está com problemas na genitália.

jornal da cidade

Vital Araújo, que também está com problemas de saúde, relata que tem que cuidar do filho o dia inteiro.

Texto: Fernando Pires

Um casal humilde de Aracaju busca atendimento médico de qualidade para o filho, que sofre pela contaminação com agrotóxicos, transmitida geneticamente pelo pai. Matheus, de oito anos, está com problemas na genitália e sofre com problemas nervosos e oculares. Os pais, que se assustaram com a informação de que o problema pode atingir ainda seus netos e bisnetos, buscam no poder público a solução para o drama familiar.

O aposentado Vital Araújo Dória, que também sofre pela contaminação com agrotóxicos, relata o sofrimento do filho, Matheus. “Eu estou morrendo, com vários problemas de saúde. E agora tenho que cuidar do menino o dia inteiro. Se não fosse por mim, ele já tinha morrido. Ele tem problemas nervosos, não consegue dormir, e também não come. Fica sem apetite o dia inteiro. Além disso, a vista dele está atrofiando. É um sofrimento muito grande”, comentou Vital.

A servidora pública Maria do Carmo Dória, que corre atrás de toda a documentação para garantir qualidade de vida para o esposo e o filho, relata as dificuldades. “Em 2008 eu dei entrada em um pedido no Ministério Público Federal para conseguir atendimento médico ao meu marido e somente esta semana recebi um ofício. Também já entrei com um processo de insalubridade para Vital, mas até agora não recebemos nada. Também denunciamos o médico perito que o analisou por conta de negligência”, declarou.

Vital trabalhou por vários anos como balconista na Companhia Agrícola de Sergipe, até que um dia começou a se sentir mal, quando trabalhava em Itabaiana. Após exames médicos, foi constatado que estava sofrendo de vários males por causa do contato frequente com agrotóxicos, sendo diagnosticados problemas no coração, fígado e próstata. “Quando ele soube, chorou demais, principalmente quando começou a ver o depoimento de outras pessoas que já haviam sido contaminadas”, comentou a esposa.

A servidora, que chegou a sofrer cinco abortos por conta da contaminação sofrida pelo esposo, falou também sobre o medo de ver os futuros descendentes sofrerem dos mesmos males. “Ele só começou a sofrer os efeitos depois de muitos anos. Aqui no Brasil, esses produtos entram com facilidade e depois as pessoas começam a morrer sem saber o motivo. O pior é que a gente viu uma pesquisa falando que esses problemas podem chegar até a quarta geração da família, o que significa que os filhos e os netos de Matheus também podem ter o mesmo problema”, desabafou Maria do Carmo.

Emdagro fiscaliza uso e venda de agrotóxicos

Os principais pólos agrícolas de Sergipe e estabelecimentos comerciais que vendem agrotóxicos passam por uma fiscalização periódica. A Empresa de Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe (Emdagro), órgão estadual responsável pela fiscalização, verifica o cumprimento de regras como apresentação de receita agronômica, equipamentos de proteção individual e o intervalo para aplicação dos agrotóxicos e a colheita da produção. Esse trabalho visa controlar o uso indiscriminado do produto, que atinge principalmente as hortaliças.

A coordenadora de Defesa Vegetal da Emdagro, Maria Aparecida Nascimento, ressaltou a necessidade de medidas de segurança no uso desses produtos. “O uso de agrotóxicos é uma tecnologia importante no controle de pragas, doenças e ervas daninhas, mas podem ser perigosos se forem usados de forma errada. Portanto, para ser utilizado deve existir uma estrutura técnica capacitada, para que sejam obedecidas as exigências legais e não ocorra nenhum impacto em toda cadeia produtiva”, explicou.

Nas propriedades agrícolas, a equipe da Emdagro exige a apresentação das receitas agronômicas dos agrotóxicos encontrados, o armazenamento correto dos produtos, equipamentos de proteção individual em perfeitas condições de uso e pulverizadores em perfeitas condições. Também é verificado se está sendo respeitado o período de carência na lavoura e o período de reentrada no local da pulverização, além da devolução correta das embalagens vazias. Já nos estabelecimentos comerciais, as exigências são: cópias das receitas agronômicas, conferência do estoque com a quantidade declarada na Emdagro, armazenamento dos agrotóxicos, validade dos produtos, validade do certificado, entre outros itens.

A Coordenadoria de Defesa Vegetal da Emdagro realiza também um trabalho de Educação Sanitária junto ao agricultor, com objetivo de alertar os riscos do uso inadequado dos agrotóxicos. Além disso, o órgão divulga tecnologias alternativas de controle de pragas na agricultura, com uma nova abordagem de agricultura, a agroecologia, que tem como objetivo produzir alimentos mais saudáveis e naturais tendo como principio básico o uso racional dos recursos naturais.

Cuidados a serem adotados

1. Só comprar agrotóxicos através da receita agronômica emitida por engenheiro agrônomo;

2. Usar equipamento de proteção individual em todas as etapas, lavando corretamente o equipamento após o final da pulverização;

3. Proibir menores de 18 anos, maiores de 60 anos e mulheres de manusear agrotóxicos;

4. Transportar agrotóxicos;

5. Armazenar os agrotóxicos em local seguro;

6. Respeitar o período de carência ou intervalo de segurança de cada produto;

7. Devolver embalagens vazias aos estabelecimentos comerciais em que foram adquiridos em até um ano após a compra.