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Dirigente do PSOL fala sobre desfiliações: ‘São cem contra mil’

Alexandre Fleming disse que Ricardo Barbosa, responsável pela divulgação da nota com as desfiliações, quer enfraquecer o PSOL, 'com quem o casamento já tinha se encerrado'.

Divulgação

Alexandre Fleming renuncia à presidência do PSOL

Depois que o vereador Ricardo Barbosa (PSOL) divulgou, na tarde desta quinta-feira, 19, uma nota a respeito de 91 desfiliações ocorridas hoje no PSOL em Alagoas, o presidente do partido em Maceió, Alexandre Fleming, desabafou: “Matematicamente, se compararmos desde o início da crise, o saldo é positivo. Hoje temos 1.100 filiados, o dobro do que tínhamos antes da crise”, afirmou.

A crise a qual Fleming se refere teve início durante o processo eleitoral do ano passado, quando alguns integrantes do partido passaram a discordar de posicionamentos da vereadora Heloísa Helena, então candidata do PSOL ao Senado.

Na ocasião, a divulgação de um documento interno com críticas à entrada do Padre Eraldo no partido e um possível apoio de setores de outros partidos a Heloísa Helena. Além do fato da vereadora ter declarado apoio a Marina Silva (PV), durante campanha presidencial.

“Ele (Ricardo Barbosa) lançou o documento em um momento de fragilidade, quando Heloísa Helena perdeu a eleição, para tentar ocupar a marca partidária, mas não conseguiu isso democraticamente”, afirmou Fleming, acrescentando que, desde a divulgação do documento, a desfiliação ocorrida hoje já era esperada.

“O Ricardo Barbosa quer enfraquecer o PSOL, com quem o casamento já tinha se encerrado. O meu sentimento é de alívio e lamento por alguns nomes que deixam o partido, mas, em geral, o PSOL que sai hoje tinha um projeto particular de dirigir o partido de dentro do gabinete do vereador, e os que ficam fazem parte de um PSOL democrático. Numericamente, são cem contra mil”.

Fleming também rebateu a informação, contida na nota divulgada hoje, sobre o suposto esfacelamento do partido no Estado: “Isso é irreal. Reestruturamos o partido que estava se esfacelando com a política liquidacionista do vereador Ricardo Barbosa, que distribuiu cargos entre membros do diretório".

Fleming contou à reportagem que recebeu a lista dos desfiliados por e-mail, e que o procedimento correto seria protocolar a desfiliação junto ao diretório estadual do partido, para que o presidente procedesse a desfiliação. “Infelizmente, eles fazem o caminho inverso. Primeiro criam o ‘fato político’ e depois comunicam ao partido”.

Abaixo, segue a íntegra do documento encaminhado à imprensa, assinado pelos 91 desfiliados do PSOL em Alagoas:

Caros(as) Companheiros(as) do PSOL de Alagoas;

Os abaixo assinados são filiados, militantes e dirigentes do PSOL de Alagoas os quais, nos últimos 06 meses, viram frustradas todas as esperanças de uma discussão franca, democrática e honesta acerca do balanço das eleições de 2010, em Alagoas e no Brasil.

Fomos subscritores de um documento político o qual procurou, tão somente, iniciar um debate que acreditávamos ser fundamental para a construção e consolidação do PSOL, já que ainda em sua segunda experiência eleitoral nacional.

Somos uníssonos em afirmar, categoricamente, que a campanha do PSOL alagoano em 2010 navegou por mares errantes entre o nada e coisa nenhuma. Em meio a uma eleição histórica, a que poderia marcar, de vez, o lugar do PSOL na esquerda alagoana, elegendo uma senadora, demarcando espaço com três candidaturas ao governo diretamente envolvidas com a miséria de Alagoas e participando ativamente da renovação de uma Assembléia podre, perdemos o “trem da história” e permitimos que alguns políticos igualmente podres o ocupassem e escrevessem uma página da história que estava reservada para o PSOL por direito.

Nos decepcionamos com o primeiro suplente de Heloísa, o recém chegado Padre Eraldo, participando ativamente dos comícios de Téo Vilela e com seus carros plotados com sua “chapa completa”: Téo, Renan, Heloísa, Célia Rocha (PTB) (para federal) e Luiz Dantas (PMDB) (para estadual).

Vimos, estarrecidos, Heloísa e o candidato a governador do PSOL proibindo a utilização de suas fotos e seus respectivos números nos materiais de campanha dos candidatos proporcionais.

Enquanto os adesivos de Heloísa eram procurados por seus eleitores ou militantes e filiados do PSOL como se procura “pé em cobra”, em viagens pelo sertão, vimos carros adesivados de Téo Vilela e Renan distribuindo fartamente materiais de Heloísa.

Ainda vimos, ouvimos e testemunhamos as acusações morais proferidas contra o companheiro Ricardo Barbosa, então candidato a Deputado Estadual, por membros do Partido, incluindo Mário Agra, Presidente do Diretório Estadual e Hélio Moraes, irmão de Heloísa Helena, de ser o companheiro “ladrão”, “mensaleiro do Prefeito”, de ter, ainda o companheiro, feito conluio para apoiar a eleição da Mesa Diretora na Câmara para ser membro de Comissões importantes na Casa ou enriquecido ilicitamente, possuindo patrimônio incompatível com sua renda, inclusive um apartamento luxuoso à beira mar, além de carros (sic), isto mesmo, no plural, “carros” de luxo de sua propriedade.

Enfim, o debate e as diferenças deixaram, definitivamente, de ser políticas e passaram para o pântano das acusações morais levianas de um grupo que preferiu “comandar” o PSOL através da truculência, do totalitarismo, das ameaças veladas e dos ataques histéricos e verborrágicos.

Talvez a realidade do PSOL de Alagoas não seja diferente de outros Estados onde uma importante coluna de quadros e muitos filiados estão abandonando o PSOL sob o argumento de que o Partido está comandado por “tendências”, sejam elas alagoanas, gaúchas ou paulistas, enfim, mas todas impedindo que o verdadeiro debate flua em seu interior.

Infelizmente, pela atuação destas “tendências”, foi calada a voz da militância partidária e empurrada “goela abaixo”, sem direito a nenhum protesto sequer, a contribuição financeira dada pela GERDAU ao PSOL no RS, ou o fato de Heloísa rasgar, reiteradamente, o programa e as resoluções do Partido, como fez em 2010, apoiando Marina Silva, permitindo que seu primeiro suplente fizesse campanha escancarada para “tucanos” e “peemedebistas”, ou como sempre fez em relação à bandeira histórica da defesa da legalização do aborto, dentre outras. Também nos calam quando o tema é o apoio de Sarney a uma candidatura nossa a Senador no Amapá! Imaginem se a militância também cobrar explicações acerca da relação duvidosa da ex-Deputada Luciana Genro, nova “empresária da filantropia” gaúcha e o Governo do Estado do RS.

Não, o PSOL não é a alternativa que imaginamos! Jamais foi a melhor, talvez, se não a pior, no máximo… igual! O PSOL se igualou, luta com as mesmas armas e com os mesmos métodos de seus algozes. A diferença é que seus dirigentes se acham puros e santificados, ungidos na pia batismal do “templo do comunismo” com o suor e o sangue legítimos dos maiores “donos da verdade” do movimento socialista mundial, os que não erram ou, quando erram, a ameaça do terror e da perseguição impede qualquer tipo de debate ou crítica.

Por estes e mais, muitos mais motivos, RESOLVEMOS NOS DESFILIAR DO PSOL. Reconhecemos o direito de este Partido seguir no caminho que ele crê ser o mais correto para atingir seus objetivos. Mas também temos o direito de acreditar em nossos sonhos sem termos que ser julgados por isto (e com a certeza de sermos condenados!).

Outrossim, para efeitos da legislação eleitoral, os subscritores deste texto solicitam que seus nomes sejam retirados da relação de filiados ao PSOL, mormente a que será entregue por ocasião da entrega das últimas relações de filiados até o final do mês de setembro.