Ministro diz não ter tido a intenção de desafiar a presidente.
O ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi (PDT), negou nesta quinta-feira a existência de um esquema de corrupção em sua pasta, admitiu a possibilidade de haver irregularidades pontuais em determinados convênios e defendeu os auxiliares apontados como participantes de uma rede de cobrança de propina de organizações não-governamentais (ONGs).
O pedetista, que afirmara anteriormente que "duvidava" que a presidente Dilma Rousseff seria capaz de retirá-lo do governo, chegou a fazer uma declaração de amor à chefe do Executivo durante audiência pública na Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara dos Deputados. Lupi criticou ainda o fato de a acusação sobre o suposto esquema de corrupção ser anônima e pediu desculpas à presidente pelo tom de sua defesa. No início das acusações, ele afirmara que só deixaria o cargo de ministro "abatido à bala".
"A gente fica revoltado. Nunca vou desafiar a presidente Dilma, independentemente de cargo. Não é cargo que nos guia na vida, é causa. Posso ser tudo, mas não sou uma pessoa deseducada, deselegante e muito menos despreparada. Presidente Dilma, desculpa se fui agressivo, não foi minha intenção. Eu te amo", disse Lupi. O tom agressivo da defesa inicial de Carlos Lupi após o estouro das denúncias havia incomodado o Palácio do Planalto.
"Cada um tem uma maneira da reagir. Tem gente que reage indo para debaixo da cama e tomando remédio. Eu reajo enfrentando, reagindo. Peço desculpas públicas porque tenho humildade suficiente para isso", afirmou.
O ministro do Trabalho coordena a pasta cujos subordinados participariam de um suposto esquema de cobrança de propina de organizações não-governamentais (ONGs) para viabilizar o repasse de recursos públicos a cursos de capacitação profissional.
De acordo com reportagem da revista Veja, o Instituto Êpa, sediado no Rio Grande do Norte, teria sido um dos alvos do esquema de cobrança de propina no ministério, tendo sido orientado a verificar com Weverton Rocha, então assessor especial de Lupi, ou Anderson Alexandre dos Santos, coordenador-geral de qualificação, como pagar propina e conseguir parcerias com o governo.
À reportagem da revista, representantes das ONGs disseram que as organizações contratadas pelo ministério tinham o repasse de recursos bloqueados após enfrentar problemas com a fiscalização da pasta. Assessores do ministro então procuravam os dirigentes das entidades para resolver o problema e cobravam propinas que variavam entre 5% e 15%.
Aos deputados, Carlos Lupi disse que as acusações anônimas contra sua pasta refletem uma sociedade que beira um "tribunal de inquisição". "Que sociedade é essa que crucifica sem perguntar o nome, que odeia sem conhecer, que condena com denúncia anônima sem nenhuma prova? O que nos incomoda é que estamos vivendo em uma sociedade que é um verdadeiro tribunal de inquisição, se condena sem defesa baseado em uma denúncia anônima. Se coloca nome de pessoas honradas até o momento – porque se deve trabalhar com a presunção de inocência – sem qualquer prova", disse ele, saindo em defesa de seu então chefe de gabinete, Marcelo Panella, suposto arrecadador da propina.
"Corrupção dentro do Ministério do Trabalho, no meu partido, não há. Àqueles que estão afirmando que existe cabe o ônus da prova. Quando a gente vê o filho da gente olhando a face da gente na TV dizendo que havia um esquema de desvio de recursos a gente se sente profundamente agredido, profundamente maculado. Coloco as mãos, as pernas, o corpo inteiro no fogo (por Panella) porque o conheço há 20 anos", explicou ele.
Conforme o ministro, de 2003 até hoje, foram assinados 491 convênios diretos com instituições sem fins lucrativos. Atualmente, 97 estão vigentes. De todos os convênios, no entanto, 148 têm prestação de contas aguardando análise, 103 ainda não apresentaram prestação de contas, quatro tiveram contas rejeitadas e um foi cancelado.