Para mantega, Brasil alcançará desenvolvimento da Grã-Bretanha em 20 anos.
Para os britânicos Rob Murray e John Milton, que fazem parte de um grupo crescente de estrangeiros vivendo no País, o Brasil terá de percorrer um caminho difícil, porém não impossível para atingir o nível de desenvolvimento da Grã-Bretanha em duas décadas, como previu o ministro da Fazenda Guido Mantega. O comentário de Mantega foi feito no contexto de projeções recentes que indicam que o Brasil pode ultrapassar, já em 2011, a Grã-Bretanha como 6ª maior economia do mundo.
Há cinco anos no Rio de Janeiro, o escocês Rob Murray recomenda que o Brasil combata dois de seus maiores problemas, se quiser alcançar os britânicos em outros indicadores. "É preciso acabar com a corrupção e diminuir a desigualdade de renda, investindo em educação", afirma o escocês, em entrevista à BBC Brasil. "Vai ser um grande desafio, mas, em 20 anos, as coisas podem mudar."
Adaptado ao país, Murray, que trabalha como engenheiro de uma grande multinacional do petróleo, sabe que não tem o mesmo estilo de vida de um brasileiro médio, fadado a encarar serviços públicos muito diferentes dos oferecidos na Grã-Bretanha. "Eu acho que a minha vida é muito boa no Rio. Eu gosto de morar aqui porque tenho dinheiro, mas se não tivesse, seria muito diferente", diz, explicando que os problemas sociais não afetam diretamente a sua vida.
Uma das coisas que mais o impressionam são os preços dos produtos e serviços nas grandes cidades brasileiras. "O custo de vida aqui representa o dobro do que eu gastaria vivendo em qualquer cidade do Reino Unido que não fosse Londres", afirma. "Os restaurantes são caros, o acesso à tecnologia é caro, os produtos importados são caros."
Para ele, quem sai perdendo com o alto custo dos importados é a população mais pobre. "É muito difícil ter acesso a produtos tecnológicos no Brasil, por exemplo", explica Rob, lembrando a polêmica em torno do preço do último lançamento da Apple no País. "Você já viu quanto custa um iPhone aqui?"
Segundo a consultoria Mercer, o Rio de Janeiro subiu 17 posições no ranking de custo de vida e é hoje a 12ª cidade mais cara do mundo. São Paulo é a 10ª mais cara. O inglês John Milton também se diz impressionado com os gastos na cidade, mas se diz otimista. Seu choque com o alto custo de vida aconteceu logo que chegou ao Brasil há um ano. Sua mulher, que é brasileira, estava grávida e as despesas não foram poucas.
"Gastamos muito dinheiro com médicos, hospitais, etc. Quando você vem de um país desenvolvido, vê que as coisas aqui são muito diferentes. Na Inglaterra, eu tinha saúde e educação públicas de qualidade e gratuitas", conta Milton. Para o inglês, que é professor, a experiência o fez comprovar as diferenças entre o Brasil e um país com alto índice de bem estar social mesmo antes mesmo de seu filho nascer.
Os impostos altos no Brasil também o deixaram impressionado. "Na Inglaterra, a carga tributária deve ser quase a mesma do Brasil. No entanto, lá pagamos impostos e sabemos que o dinheiro é utilizado para melhorar educação, saúde, etc. No Brasil é diferente." Apesar dos problemas, Milton decidiu que seu filho crescerá no Rio de Janeiro. "Aqui, no geral, a qualidade de vida é melhor, o clima é mais agradável. Meu filho vai poder frequentar a praia, praticar um esporte ao ar livre."
Murray também não pensa em deixar a cidade que adotou para viver. Nem a famosa violência do Rio de Janeiro parece ser um problema para o escocês. "As pessoas falam bastante sobre isso, mas nunca vi nada. Gosto muito de viver no Brasil." Segundo o Ministério da Justiça, há atualmente 1,466 milhão de estrangeiros vivendo no Brasil (dados até junho de 2011), um aumento de 50% em relação a dezembro de 2010.