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Locutor cego recebe bolsa integral do Prouni e se prepara para cursar direito

'Fiz o Enem para concluir o Ensino Médio, não estudei para a prova', contou. Antonio Cezar, de Américo Brasiliense, SP, obteve 940 pontos na redação.

André Luiz Padilha/Arquivo Pessoal

Antonio Cezar trabalha como voluntário em rádio de Américo

Antonio Cezar Ribeiro, de 49 anos, é cego e está há mais de 30 afastado das escolas, mas essa distância vai diminuir em março, quando as aulas do Centro Universitário de Araraquara (Uniara) começarem. Ele realizou o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e foi aprovado no Programa Universidade para Todos (Prouni) com bolsa integral para o curso de direito.

"Fiz o Enem para concluir o Ensino Médio, não estudei", contou. Mesmo sem um preparo específico, ele obteve 940 pontos na redação e afirmou que poderia ter se saído ainda melhor se o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pela prova, oferecesse a acessibilidade digital.

"Fui ao Ministério Público pedir para fazer a prova em um computador, mas o Inep alegou que teria problemas com os sintetizadores de voz e fiz a prova com um ledor, em uma sala individual. Ele ia lendo as questões e eu dizia as respostas. Fiz a redação em braille, ditei e aí transcreveram para o cartão. Fazia tempo que não usava braille e o processo todo demorou. Tive de chutar questões por conta do tempo gasto na redação e acho que perdi pontos", criticou.

Acostumado com computadores, Ribeiro afirmou que preferia cursar direito a distância, porém ainda há poucas opções nessa área. "Um amigo vai me dar um notebook para eu levar às aulas, mas, com o barulho da sala, é difícil deixar o sintetizador de voz em um volume baixo, que é o mais recomendado", contou. Ainda assim, pretende prosseguir com a faculdade e já está reunindo a documentação necessária para a matrícula.

Apoio

Nascido em Santa Catarina, Ribeiro morou em São Paulo e se mudou para Américo Brasiliense (SP), onde vive atualmente e atua como voluntário na rádio comunitária Maranathá. "Sou locutor desde 1991 e participava da programação em Américo esporadicamente, mas, há cerca de um ano, tenho um programa diário", contou.

Para ele, o apoio dos companheiros de rádio antes e após a prova fez diferença, assim como a página de datas comemorativas que mantém. "Escrevo bastante para o site e acho que isso serviu de base para a redação", afirmou. De acordo com o RankBrasil, que reúne recordes nacionais, a coleção de dias especiais de Ribeiro é a maior do gênero no país.