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Violência contra mulher também atinge classes ricas

Um tapa na cara. Foi o que uma mulher da classe alta de Alagoas recebeu do marido, também considerado influente no Poder Público. O casamento acabou. A agressão não foi a primeira, mas, por decisão dela, virou a última.

Um tapa na cara. Foi o que uma mulher da classe alta de Alagoas recebeu do marido, também considerado influente no poder público. O casamento acabou. A agressão era a gota d’água: não foi a primeira, mas, por decisão dela, virou a última.

A descrição é real e está nos arquivos do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher. Ele virou uma espécie de antessala das Delegacias da Mulher alagoanas. As vítimas mais ricas e agredidas não procuram uma delegada, por causa do prestígio e da posição social que ocupam. Elas temem ser reconhecidas e o caso acabe ganhando as páginas dos jornais.

Por isso, apelam para o "ombro" da presidente do Conselho, Maria Aparecida. No caso da mulher agredida no rosto, foi apenas um desafabo. "Ela não denunciou, contou toda a sua história. Mas, se separou dele", explicou. As mulheres mais ricas assinam um papel, exigindo anonimato.

Maria Aparecida é professora da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Ela fez uma pesquisa na década de 90 sobre as mulheres espancadas pelos maridos na classe alta de Alagoas. Apenas 4% dos casos chegam a uma delegacia.

No Conselho, diz ela, são investigados cinco casos. O mais grave foi o desta mulher. Os outros quatro são agressões verbais. "É a violência psicológica", afirmou. Ela não informou se o número de casos com mulheres das posições mais abastadas vêm aumentando no Estado.

O Conselho recebe cinco casos por dia de mulheres agredidas, 99% de classes mais pobres. Os números não são diferentes da Delegacia da Mulher do Salvador Lyra, parte alta de Maceió: em média, dez mulheres, a maioria pobres, denunciam o agressor, geralmente o marido ou companheiro.

Para a delegada interina da Mulher, Kátia Emanuelle, é possível traçar uma radiografia dos espancamentos: eles são frequentes no final de semana e as agredidas apanham várias vezes antes de procurar uma delegacia. "Aí elas não aguentam mais. O ideal mesmo é que a mulher não deixe de procurar seus direitos. O Estado tem como oferecer medidas protetivas", apontou Emanuelle.