O Instituto de Promoção da Paz registrou – entre 2008 e 2009 – 177 homicídios, 51 prisões por porte de entorpecentes, 76 prisões por tráfico de drogas, 162 portes de armas, 526 lesões corporais, 14 estupros, nove atentados violentos ao pudor e 1.116 casos de pertubação da tranquilidade. Os números assustariam qualquer cidade. No entanto, o Instituto traça o diagnóstico de um bairro de Maceió: o Complexo Benedito Bentes, que é tido como um dos mais críticos.
A situação no bairro é tão preocupante que ele é o escolhido para a implantação do programa do Governo Federal, Território da Paz. Porém, enquanto não chega a solução por meio das autoridades, a população resolveu se unir em um movimento, na tentativa de reduzir estes números e traçar metas para mudar o quadro no Benedito Bentes. Uma das organizadoras do movimento, Poliana Morais, destaca que a situação é agravada ainda pelas lacunas deixadas pelo poder público.
“Grande parte das crianças do Benedito Bentes não encontram vagas nas escolas e estão sem estudar. Isto já é um braço aberto para o tráfico de drogas, que por sua vez é o motivo para a maioria dos homicídios que acontecem na região. Estas vítimas, por sinal, acabam sendo esquecidas e se tornando mais um número nas estatísticas”, colocou Morais.
Na manhã de hoje, dia 24, o Instituto realizou mais um ato público simbólico na tentativa de chamar a atenção para o número de assassinatos e demais crimes contra a vida. No terminal rodoviário do bairro foram estendidas 177 camisas, cada uma lembrando uma das pessoas mortas. A maioria delas jovens, que figuram como vítimas em inquéritos que – conforme os parentes – não apresentam culpados. Neste complexo, mais uma questão faz com que a violência encontre terreno fértil: a impunidade, destacam os organizadores.
Poliana Morais destaca que a ação desta manhã faz parte da 1ª Semana de Prevenção ao Uso das Drogas, que já contou – em um dos eventos – com uma reunião com diversas autoridades, inclusive representantes do 5° Batalhão da Polícia Militar, que possui sede dentro do Benedito Bentes, e da Polícia Civil de Alagoas. “A questão das drogas tem que ser combatida e este é um dos pontos do Instituto de Promoção da Paz. Nós hoje somos, reconhecidamente, pelo poder público, um dos bairros mais violentos da capital, mas aqui no Benedito Bentes há pessoas de bem que estão aflitas com tudo isto e cobram uma resposta”, salientou.
O movimento conta com o apoio de diversos familiares de vítimas. É o caso da funcionária pública Leda Rios, que perdeu o filho no dia 20 de janeiro de 2008. “Eu suspeito que tenha sido por conta do tráfico de drogas, mas não posso afirmar isto com certeza. Ele virou mais um número nas estatísticas, já que nunca soube o que de fato aconteceu”. Indagada sobre o inquérito policial que apura a morte de Carlos André da Silva, Leda Rios fala: “não sei como anda. Nunca soube quem foi o culpado”. “Já faz mais de um ano e nunca ninguém veio me dizer nada. É só mais um número entre os 177, mas para mim era o meu filho e quero resposta”, destacou.
No terminal de ônibus, os manifestantes realizam um protesto pacífico distribuindo panfletos e tentando conscientizar a população. Para isto, o movimento conta com um estande no local. “Nosso objetivo maior é chamar a atenção tanto da população, quanto das autoridades para que o Estado assuma o seu papel e para que nós possamos nos mobilizar contra as drogas. O Benedito Bentes é um bairro populoso, com pessoas que trabalham duro, que são honestas. Não podemos ter nossas crianças fora da escola e entregues ao tráfico. É uma afronta ao Estatuto da Criança e do Adolescente”, finalizou um dos organizadores.