"Eu amo o chão da terra onde nasci e com toda paixão".
Muito já se falou sobre um sentimento que desde os primórdios impulsiona, estonteia e seduz a natureza humana: a paixão. Outro dia, me deslocando pelas ruas do Centro de Maceió, avistei ao longe uma fisionomia para mim muito conhecida e que fez brotar um verdadeiro e inesperado sentimento: a saudade. Ela invadiu meu coração e fez com que a aproximação do rosto revelasse que se tratava de um amigo de infância, Ramiro Gato, que com seu uniforme de trabalho cumpria sua missão, e eu a caminho de também cumprir a minha.
Senti-me emocionado em ver que o cara que ali estava, era o mesmo que há algum tempo atrás se encontrava na praça central da nossa pequena Anadia, ou melhor, nos encontrávamos: eu, Ramiro, Soldadinho, Manoel da Guinela, Marivan, Tião do seu Darci, Carlinhos do Brejo, Delmiro do Panchanchão, Luis Barguilha, Zé Pretinho, Didi Paulino, Buranha, Jumentinho, Beba, Neguinho do Miguel Preto, Báu, Milton do Sena, Gerson do Boião, Cícero Bela Gorda, Jota do Zé Farias, Roberto da Maria Prudêncio, Bira Julião, Paulinho do Juza, Manoel do seu Né do Hotel, Loiceiro, Aluizo do Luis Lucas, Paulo do seu Generino, Tonho Caetano, Edvaldo do João Alfaiate, Paulo Eugenio, Fernando do Adelmo Bento, Dudui, Milton do Dada, Neno do seu Pedinho, Mané Coelho, Paulo e Dão da Chã do Brejo, Luis do Pinche e Roberto Caçolinha.
O que está escrito na lembrança vale mais do o que ficou perdido no passado. Devem estar se perguntado, o que faziam naquele tempo. Digo. Jogávamos pião, brincávamos de garrafão, construíamos carros de lata de óleo, jogávamos chimbra e futebol, traçávamos planos para visitar sítios e quintais, aonde frutos da doce terra eram subtraídos com tamanha inocência. Não duvidem, nós éramos milionários do tempo, que a nossa disposição se oferecia como uma benção, uma dádiva, pronto para ser desfrutado o que hoje parece impossível, a paz.
O pensamento invadiu meu coração trazendo uma saudade matadeira… Como a me torturar, mostrando que as lembranças estão muito vivas na nossa memória, apenas adormecidas. E como despertando de um sonho, algo me trouxe a realidade. O barulho do trânsito, a agitação da cidade grande, me fazendo pensar com o poeta: "Quem ama nunca sente medo de contar os seus segredos, sinônimo de amor é amar…”.
Numa fração de segundo tudo ficou muito claro: eu amo o chão da terra onde nasci e como toda paixão, não tem tamanho que se faça medir. Anadia, um grande celeiro, berço de tantos homens e mulheres que espalham mundo afora o sentimento ímpar de ser anadiense.
(*) Ex-secretário de Estado.