Centenas de pessoas comemoram na Serra da Barriga.
Homens e mulheres vestidos de branco. Batidas de tambor. Cantos. Passos e malemolência. Na sombra, rodas de capoeira. Em poucas palavras, esse foi o cenário do Dia da Consciência Negra, em Alagoas, mais precisamente na terra de Zumbi – Serra da Barriga, União dos Palmares.
“Zumbi representa para nós o conceito de nação. É o bom exemplo de Alagoas. É um modelo de líder para o mundo”, afirmou o vice José Wanderley, que representou o governador Teotonio Vilela na ocasião.
Esse ano, centenas de pessoas de todos os credos subiram a serra. Foram a pé, de carro, no lombo de cavalo. Às 4 da manhã, a primeira cerimônia – restrita, apenas para os religiosos de matriz africana. Duas horas depois, mais uma reverência aos ancestrais negros – o Iségun Káwojuba. Foi um momento inédito no alto de União dos Palmares.
Impressionante também foi o cortejo. Pela ladeira, que ficou estreita, um mar de branco. Eram negros vestidos de branco. Libertavam pássaros. Palmas para o gesto, palmas para o sentimento. Há 314 anos, morria Zumbi, um líder de milhares de ex-acorrentados.
Palmares, o maior quilombo de todo o país, resistiu a expedições armadas por mais de um século. Para celebrar essa luta e a Consciência Negra, o governo do Estado, em parceria com a Fundação Palmares e a prefeitura de União dos Palmares, realizou um evento inesquecível.
“Trabalhamos muito para esse momento. Durante semanas, uma comissão com dezenas de profissionais atuou para que durante um mês inteiro Alagoas refletisse sobre a Consciência Negra”, revelou o secretário de Estado da Cultura, Osvaldo Viégas.
Por todos os lados, os comentários eram de que a festa era a melhor de todos os tempos. “Pela primeira vez, reunimos religiosos de Maceió, de outras cidades, e também de União dos Palmares. É a primeira vez que eles participam desse dia aqui”, contou Maria Neide Martins, a Mãe Neide.
Ela faz parte em Alagoas do Mulheres do Axé. Foram para a Serra da Barriga representantes de outros 15 Estados. Além do grupo feminino, estiveram na solenidade integrantes da Rede Saúde nos Terreiros.
Com material informativo, eles trataram sobre as desigualdades raciais na saúde. Você sabia que para as crianças negras com menos de 1 ano, o risco de morte por doenças infecciosas é 43% maior que o apresentado entre os pequenos de pele branca?
Para reverter esse quadro é necessário investir em desenvolvimento. O secretário da Cultura, Osvaldo Viégas, apresentou o projeto de se criar na região um roteiro turístico que revele aos brasileiros a República de Palmares – numa ação que vai além de União.
“Da mesma forma como criamos a rota Caminhos do Imperador, nas cidades que margeiam o São Francisco, podemos estabelecer o turismo histórico-cultural sobre a luta de Zumbi”, contou.
Diversidade cultural, a região já demonstrou ter. União dos Palmares é berço de grandes artistas, inclusive de uma mestra reconhecida como Patrimônio Vivo, Irineia Rosa Nunes. Ela, nascida na comunidade quilombola do Muquém, cria negras, santos e bichos de argila.
A música de origem africana é cativante. Mostra desse potencial foi dado pela Orquestra de Tambores, coordenada por Wilson Santos. Esse 20 de novembro pode ser o primeiro passo para promover União dos Palmares como um destino para todos os brasileiros.
O governo de Alagoas trabalha nessa direção. Nesta sexta-feira, estiveram no lugar muitos gestores, a exemplo de Geraldo Magella, do Iteral, e Wedna Miranda (Mulher, Cidadania e Direitos Humanos). “Ainda assistimos homens e mulheres guerreiros nessa luta. O governo tem sido atuante com a integração de secretarias na busca de atendimento às necessidades das comunidades quilombolas”, assegurou a secretária.