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Sem trégua: Fla planeja ‘asfixia financeira’ para contra-atacar Ferj

A diretoria rubro-negra considera que a Ferj lucra mais do que deveria com os clubes e pretende encontrar maneiras de fechar o máximo possível da torneira.

Pedro Henrique Torre/ESPN

Presidente Eduardo Bandeira de Mello garantiu que o clube está rompido com a Ferj

Nem mesmo o recuo da Ferj na questão de ingressos em nota publicada na noite de terça-feira parece evitar a questão. Externada pelo presidente do clube, Eduardo Bandeira de Mello, desde o Arbitral em que afirmou ter sido xingado, a guerra do Flamengo com a Federação não tem data para acabar. Sem trégua, o clube estuda maneiras de contra-ataque. Às discussões internas se somaram participações externas e, juntas, apontam em uma direção predileta: uma "asfixia financeira".

A diretoria rubro-negra considera que a Ferj lucra mais do que deveria com os clubes e pretende encontrar maneiras de fechar o máximo possível da torneira. E, por consequência, diminuir o poder da entidade. A primeira ação é negociar individualmente o contrato de cotas de televisionamento com a Rede Globo para o Carioca, em processo similar ao realizado no Campeonato Brasileiro há quase quatro anos. O vínculo atual se encerra neste ano e, de acordo com os moldes, a entidade recebe a cota da emissora e a repassa a bel-prazer aos clubes.

m 2014, um dos grandes atritos foi a decisão da Federação de equilibrar as cotas dos quatro grandes clubes e aumentar a premiação do Carioca, buscando torná-lo mais atraente. Para isso teve de diminuir os valores de Flamengo e Vasco. O Rubro-Negro, por exemplo, viu suas quatro parcelas de R$ 2 milhões caírem para quatro de R$ 1,3 milhão. Perda de R$ 2,8 milhões no total. Irritados, os rubro-negros reclamaram e ouviram de um alto cardeal da Ferj, de forma irônica:

"Ganhe o campeonato. Aí vocês recuperam tudo de novo"

O Flamengo até venceu a competição, com lance irregular sobre o Vasco, recuperou parte da verba, mas não ficou satisfeito. No total, a Ferj arrecadou cerca de R$ 14,7 milhões entre verbas publicitárias e participação no contrato da TV. Desta soma, cerca de 57% permaneceram nos cofres da entidade, com o restante direcionado para premiação e afins. Os 16 clubes receberam, também como cota de televisionamento fixa, um total de R$ 28,8 milhões repartidos em diversas faixas, entre R$ 280 mil e R$ 3,9 milhões. Caso a negociação seja feita individualmente, a entidade perderia grande parte de sua participação. É nisso que o Flamengo aposta para começar a mudar o quadro.

Redução de taxas e criação da liga, outros caminhos

Em cada partida do Campeonato Carioca, a Ferj cobra 10% da renda bruta. O dobro do praticado por outras Federações como a paulista e a mineira, que abocanham 5%. Apenas em 2014, no Campeonato Carioca, R$ 1,3 milhão foi destinado à Ferj por meio das taxas. O Flamengo foi o maior pagador: R$ 594 mil, de acordo com o site Futdados. O caminho estudado para seguir ampliar a asfixia financeira e contra-atacar a entidade é costurar alianças políticas e criar uma liga carioca, livre de taxas consideradas abusivas e desmandos. A tarefa, no entanto, é dura.

O Flamengo garante ter o respaldo da lei para criação de uma liga. Nos bastidores, já tenta convencer outros clubes a segui-lo, de olho nos próximos anos do futebol carioca. O problema seria conseguir uma chancela da CBF para consequente vinculação à Fifa. Em miúdos, mais política e costuras seriam necessárias. Descentralizar o poder na própria Ferj parece sonho de verão: em março de 2014, Rubens Lopes, o atual presidente e desafeto dos rubro-negros, foi reeleito para mais um mandato em um processo eleitoral complexo, que compõe clubes e ligas amadoras, com cerca de 110 filiados.

Um passo mais avançado na tentativa de asfixiar financeiramente a entidade que gere o futebol carioca é a conversa com patrocinadores, convencendo-os a apoiar uma possível nova liga. O clube, irritado com o Arbitral que determinou a redução dos valores ingressos, já sondou parceiros sobre a situação. Nesta terça, no entanto, a Federação recuou, flexibilizando o tabelamento dos ingressos pelos clubes. O Flamengo, do outro lado da trincheira, garante que não vai ceder à guerra. Por isso, vai acionar a Justiça contra a decisão do Arbitral como maneira de evitar que o mesmo imbróglio se repita em 2016.