Esse alongamento vai melhorar a dor, sem precisar elevar a sua ingestão de sódio.
Você acorda no meio da noite em desespero. O músculo da sua panturrilha parece ter ganhado vida própria e está em espasmo, provocando uma dor lancinante na batata da perna. Você tenta fazer sua perna relaxar, mas não consegue. E percebe que terá pela frente uma noite mal dormida.
Bem-vindo ao misterioso mundo da câimbra.
Esse tipo de contratura é muito comum e ocorre com frequência à medida que uma pessoa envelhece ou ganha peso. Mas, na realidade, também pode acontecer com qualquer um, a qualquer momento do dia ou da noite.
A causa para essa aflição geralmente é atribuída a um baixo nível de sal na alimentação – mais precisamente do sódio presente no sal de cozinha.
A crença popular é que se tomarmos sal a dor vai embora. Mas aqui temos uma solução muito mais simples – e literalmente, menos salgada.
Mal de marinheiros
As câimbras frequentemente atingem o músculo da panturrilha, aquele que fica na parte de trás da coxa, ou ainda o quadríceps (da parte da frente da coxa).
Algumas vezes, elas podem ser um sinal de algo mais grave, como a claudicação, processo pelo qual os músculos não recebem oxigênio suficiente, sendo obrigados a se retraírem quando uma pessoa está caminhando.
Em ocasiões raras, as câimbras podem ser causadas por um nível extremamente baixo de cálcio associado a um problema da glândula paratireoide.
Há mais de um século, percebeu-se que os homens que alimentavam as fornalhas dos navios a vapor tinham câimbras com frequência.
Isso deu origem à tese de que a causa era a falta de sal. A ideia era de que o calor do fogo fazia os homens transpirarem tanto que passavam a ficar carentes de sódio. Por isso, a reação de ingerir sal para evitar as contraturas veio naturalmente.
Uma explicação biológica para isso é de que a falta de sal e a desidratação que a acompanha fazem com que os espaços entre as células musculares se contraiam, o que por sua vez aumenta a pressão nos terminais nervosos, provocando a dor.
O problema dessa teoria é a falta de evidências robustas que a sustentem.
Difícil de estudar
Assim, as causas da câimbra são um mistério. Como o processo é involuntário, nunca se sabe exatamente quando vai ocorrer, o que dificulta as investigações.
O estudos atuais se baseiam em acontecimentos da vida real – como a descoberta de que os jogadores de futebol americano sofrem mais câimbras quando faz calor, o que alimenta a teoria da falta de sal.
Só que atletas também têm câimbras no frio. E quando cientistas mediram a perda de sódio entre os participantes de uma ultramaratona na Cidade do Cabo, na África do Sul, a diferença entre aqueles que tiveram câimbras e aqueles que não tiveram era pequena demais para ter alguma importância clínica.
Outra abordagem já testada foi induzir as câimbras em corajosos voluntários usando correntes elétricas. Se a falta de sal estivesse relacionada, seria necessária uma pequena corrente para induzir a contratura em alguém parcialmente desidratado, sem sal no organismo.
Mas pesquisadores da North Dakota State University, nos Estados Unidos, liderados por Kevin Miller, descobriram que isso não fazia diferença – apesar de admitirem que o efeito da grande perda de fluido no limiar das câimbras ainda é desconhecido.
Se você prestar atenção na solução para câimbras que vemos durante uma competição esportiva, terá uma grande pista de como resolver o problema sem que seja preciso uma alta dose de sal: a melhor forma de aliviar a dor lancinante é alongar o músculo atingido. Pegue os dedos dos pés e puxe-os em sua direção.
Esse alongamento vai melhorar a dor, sem precisar elevar a sua ingestão de sódio.