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Mamografia: câncer de mama está além da promoção desse exame

Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade alerta que prevenção em excesso é prejudicial à saúde.

Divulgação

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Em 5 de fevereiro é celebrado o Dia Nacional da Mamografia, data instituída em 2008 no Brasil com o objetivo de enfatizar a importância desse exame na redução da mortalidade por câncer de mama. Para a Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC), contudo, os meios para prevenir o câncer de mama reduzir sua mortalidade e estão além da realização de mamografias.

Pesquisas realizadas pelo DATASUS têm demonstrado que a mamografia não tem trazido os benefícios que se esperava no que cabe a redução de mortalidade por câncer de mama. Dados do Ministério da Saúde mostram que em um período de 12 anos (1998-2009) não houve redução na taxa de mortalidade por câncer de mama no País, mesmo com o número de mamografias realizadas tendo triplicado no período.

“Frente a estas novas evidências da baixa efetividade da mamografia na redução da mortalidade por câncer de mama, enquanto exame de rastreamento populacional em massa e de forma periódica, recomendamos que a solicitação desse exame seja feita com prudência, sendo avaliado o risco individual de cada mulher, e definido com ela a necessidade de se realizar o exame, e seu seguimento”, ressalta o presidente da SBMFC, Thiago Trindade.

Combinando as estimativas de mortalidade fornecidas pelo Globocan, projeto da Organização Mundial da Saúde (http://globocan.iarc.fr/Default.aspx), e as estimativas de redução de mortalidade pela mamografia fornecidas por instituições como Fundação Cochrane, USPSTF (United States Preventive Services Task Force) e IARC (International Agency for Research on Cancer), observa-se que para cada mil mulheres que se submetem ao rastreamento com mamografia, apenas três têm suas vidas salvas pelo diagnóstico precoce. Mas para cada vida salva, 250 mulheres sem doença apresentarão um exame alterado ao longo de 20 anos, o que traz estresse e sofrimento psicológico desnecessário. E destas, pelo menos nove receberão um diagnóstico errado de câncer, o que levará a cirurgias e tratamentos desnecessários.

“O essencial é que as mulheres tenham um serviço de atenção primária a que estejam vinculadas, para fazer seu seguimento clínico, com acesso facilitado ao cuidado integral com uma equipe de saúde de atenção primária, e a partir daí em decisão compartilhada com seu médico possam decidir fazer ou não a mamografia de rastreamento”, finaliza o médico de família Thiago Trindade.

Quem é o médico de família e comunidade (MFC)?

A medicina de família e comunidade é uma especialidade médica, assim como a cardiologia, neurologia e ginecologia. O MFC é o especialista em cuidar das pessoas, da família e da comunidade no contexto da atenção primária à saúde. Ele acompanha as pessoas ao longo da vida, independentemente do gênero, idade ou possível doença, integrando ações de promoção, prevenção e recuperação da saúde. Esse profissional atua próximo aos pacientes antes mesmo do surgimento de uma doença, realizando diagnósticos precoces e poupando-os de intervenções excessivas ou desnecessárias.
É um clínico e comunicador habilidoso, pois utiliza abordagem centrada na pessoa e é capaz de resolver pelo menos 90% dos problemas de saúde, manejar sintomas inespecíficos e realizar ações preventivas. É um coordenador do cuidado, trabalha em equipe e em rede, advoga em prol da saúde dos seus pacientes e da comunidade. Atualmente há no Brasil mais de 3.200 médicos com título de especialista em medicina de família e comunidade.