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Atentado deixa 37 mortos no Paquistão

Antes das eleições clima esquenta no País.

da Folha Online

Um carro-bomba explodiu neste sábado contra um escritório do oposicionista PPP (Partido do Povo do Paquistão), da ex-premiê Benazir Bhutto (morta em dezembro, em um atentado), deixando ao menos 37 mortos e outros 93 feridos, segundo o Ministério do Interior do Paquistão.

O ataque ocorreu na região de Parachinar (noroeste do país, próximo à fronteira com o Afeganistão), dois dias antes das eleições parlamentares no país. Segundo o porta-voz do ministério, Javed Iqbal Cheema, a explosão ocorreu quando um grupo de membros do partido voltava de um evento político e se reunia no local para um lanche.

Segundo o representante da administração da zona tribal de Kurram, Mushtaq Hussain, o ataque ocorreu quando o suicida "lançou seu carro carregado com explosivos contra o escritório". O escritório do partido contra o qual foi cometido o atentado hoje era usado pelo candidato do partido ao Parlamento Riaz Hussein, segundo o porta-voz do PPP, Nazir Dhoki.

Segundo pesquisas de opinião, a Liga Muçulmana do Paquistão-Q (PML-Q) –que apóia o ditador Pervez Musharraf– vem perdendo terreno enquanto o PPP avança, segundo a agência de notícias Associated Press (AP).

A organização defensora dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW) informou na semana passada que as eleições no Paquistão não poderão ser consideradas imparciais porque a comissão eleitoral do país não agiu para investigar as acusações de irregularidades. "A estrutura da comissão, que tem amplos poderes para investigar queixas e agir, também sugere que não agiria de modo justo nas eleições", diz o relatório da HRW.

Musharraf também já afirmou que não irá tolerar protestos após as eleições, mas tentou tranqüilizar os eleitores, ao dizer que "apesar dos rumores, insinuações e todo tipo de preocupação, essas serão eleições livres, justas, transparentes e pacíficas", segundo a AP.

Uma outra explosão ocorreu hoje em Khar (povoado próximo à região onde ocorreu a primeira explosão), mas não deixou mortos nem feridos. A explosão ocorreu em um hospital onde estavam sendo instaladas cabines de votação para as eleições de segunda-feira, segundo a rede de TV americana CNN.

"Diversos de nossos partidários estão mortos", disse o membro do PPP Zafar Ali, que estava próximo ao local, segundo a AP. "Estamos levando os feridos para picapes e levando-os para o hospital". Ainda não havia informações sobre a autoria do atentado, informou a agência.

Eleições

Mais de 80 milhões de paquistaneses devem comparecer às urnas na segunda-feira (18) em eleições legislativas federais e provinciais no Paquistão. O país passa por um momento de crise política e enfrenta uma onda crescente de atentados terroristas ligados à rede Al Qaeda.

As eleições pretendem pôr fim à crise (que já se arrasta a um ano) e facilitar a transição à democracia no país. Os paquistaneses irão votar em um cenário muito diferente do previsto quando os Estados Unidos facilitaram o acordo que permitiu o regresso da ex-premiê Benazir Bhutto, líder do PPP. Ela encerrou seu auto-exílio de oito anos em 18 de outubro de 2007 e sofreu um atentado no mesmo dia.

Dois meses e meio depois, ela foi morta em um atentado após um comício: um suicida atirou nela e depois detonou os explosivos que trazia junto ao corpo, matando a ex-premiê e outras 12 pessoas.

Após a morte de Bhutto, a campanha eleitoral foi considerada inexpressiva. Os políticos passaram a temer a realização de grandes comícios, e os paquistaneses começaram a se preocupar mais com a rápida queda de seu poder aquisitivo e com sua segurança do que com disputas políticas em um país comandado, de fato, pelo Exército.

Violência

Com a aproximação das eleições, a violência terrorista se intensificou. Nesta semana, quatro atentados ligados à campanha eleitoral fizeram cerca de 40 mortos. Os ataques contra comícios criam o temor de um baixo comparecimento nas urnas.

Musharraf assumiu o poder em 1999 em um golpe de Estado. O ditador precisou abandonar o cargo de comandante do Exército depois de ter sido reeleito em 6 de fevereiro em condições polêmicas, e apenas desistiu da farda por pressão de Washington.

Segurança

O ministro do Interior do Paquistão, Hamid Nawaz, disse hoje que os observadores da União Européia (UE) terão segurança para realizar seu trabalho nas eleições. Entre as medidas de segurança adotadas pelo governo está a mobilização de 386 mil policiais e soldados.

O ministro disse que os observadores e jornalistas são ‘livres’ para visitar qualquer colégio eleitoral, mas o governo recomendou que não se aproximem daqueles considerados ‘muito delicados’. Dos 64.171 colégios abertos para a eleição da segunda-feira, 8.923 foram catalogados como ‘muito delicados’ e serão vigiados pelo Exército e por paramilitares, enquanto outros 19.380 foram qualificados de ‘delicados’.

Em 22 de fevereiro, a missão deve anunciar suas primeiras observações sobre o desenvolvimento da votação e a apuração dos votos. Na segunda-feira, os paquistaneses elegerão os deputados de seu Parlamento central e das quatro assembléias provinciais.