Ministério de Assuntos Exteriores disse querer solucionar falhas.
O Ministério de Assuntos Exteriores da Espanha reconheceu nesta quarta-feira (19) que houve "erros" no tratamento dado a passageiros brasileiros, deflagrando uma crise entre os dois países. Segundo um porta-voz do ministério, o conflito deve ser resolvido em uma reunião entre representantes dos dois governos.
No encontro se tentará colocar um ponto final no conflito e buscar formas de solucionar as falhas, comentou um porta-voz do ministério à Reuters. "Nenhum sistema é infalível… Isso disse o próprio (ministro do Interior, Alfredo Pérez) Rubalcaba", disse o porta-voz após, admitir que o ministério não tinha ciência "dos erros até que eles começaram a chamar a atenção da imprensa e da opinião pública".
"Graças à imprensa, os mecanismos para solucionar os problemas se aceleram", acrescentou. "O caso está em vias de ser solucionado", afirmou, ao confirmar a reunião de subsecretários dos dois lados no final do mês.
"O primeiro passo está dado, que é a conversa", completou o porta-voz, sem dar detalhes das medidas que podem ser adotadas.
Vontade política
A chancelaria espanhola não mostrou sinais de preocupação, pois considera que vontade política está presente em ambas as partes. Isso se evidenciou em uma conversa entre o ministro espanhol Miguel Angel Moratinos e o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim.
Em uma ligação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o primeiro-ministro espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, também foi mostrado interesse de resolver a situação.
Em resposta aos comentários do presidente da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara, deputado Marcondes Gadelha (PSB-PB), que insinuou que a conduta espanhola poderia ser resultado de pressões feitas pela União Européia, o porta-voz disse: "Não há pressão."
"O que há são alguns requisitos comuns para entrar no espaço Schengen (da União Européia)… Outra coisa é que se tenham cometido erros. Sobre essa opinião, pergunte aos brasileiros", afirmou o porta-voz, numa referência à zona sem fronteiras integrada pela maioria dos integrantes da UE.
Gadelha não estava imediatamente disponível para atender às ligações da Reuters.
Aborrecimento brasileiro
Os brasileiros se aborreceram por duas coisas, segundo o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores que falou à Reuters: "primeiro, nos últimos meses notamos que o número de pessoas não admitidas aumentou 20 vezes".
"Depois, começamos a ouvir falar de muitos passageiros que cumpriam todos os requisitos, mas mesmo assim foram deportados e maltratados", afirmou.
"Sabemos que existe imigração ilegal e não a defendemos, mas nos incomodou o fato de que foram recusadas muitas pessoas com toda a documentação necessária", disse. "Sendo assim, agora estamos trabalhando para a reunião (que ocorrerá em Madri). Esperamos que tudo termine bem", acrescentou.
Reclamações
As reclamações dos brasileiros surgiram devido a casos como o de Julio Marques. Seu irmão, Adriano, trabalha na Espanha há vários anos como cozinheiro, camareiro e, agora, na construção civil.
"Estava muito contente porque ia ver meu irmão", disse Adriano Marques à Reuters. "Ao perceber que tinha perdido o horário do avião, fui à polícia e me disseram que era provável que ele estivesse retido na sala de deportações e me deram o telefone", disse.
"Assim que telefonei, fiquei sabendo que há gente demais presa ali e é muito difícil achar alguém(…). Só consegui falar com meu irmão quando ele me telefonou, três ou quatro horas depois, e me disseram que ele seria deportado. Nunca pude vê-lo", contou.
Julio foi mandado de volta com a mesma passagem, que era de ida e volta. Ele teve de continuar pagando as prestações da passagem que comprou para visitar a Espanha, mesmo que só tenha conhecido a parte menos agradável de lá. "Ele nunca mais quer voltar à Espanha", comentou Adriano.