Movimento Negro realiza ato político em Maceió.
"Feitiçaria, bruxaria, religião do demônio…" são alguns dos termos pejorativos que religiosos de matrizes africanas (candomblé, umbanda, jurema, nagô, angola e gêge) continuam a escutar no seu cotidiano, além de sofrerem com o desrespeito aos rituais sagrados, repúdio às vestimentas e a hostilização em ambientes públicos. Apesar das discussões sócio-étnicos-culturais e avanços nas políticas públicas favoráveis ao povo afro-brasileiro, a intolerância religiosa e o etnocentrismo vem ganhando proporções assustadoras em todo País.
Lideranças do movimento negro alagoano, gestores, professores, estudantes, religiosos de matriz africana e outras comunidades de fé estarão reunidos num ato político contra a intolerância religiosa nesta quarta-feira (14.05) no Conjunto Village Campestre II. A atividade faz parte da semana reflexiva dos "120 anos de abolição e resistência".
Os participantes buscam chamar a atenção das autoridades sobre as adversidades que o povo brasileiro passa nos mais variados setores, conseqüências agravantes como: o desemprego, analfabetismo, moradia inadequada e o preconceito, inclusive, na religião. Para prestigiar o ato político encontra-se a atriz Chica Xavier: "Essa alforria que estamos comemorando são dos 120 anos, mas ainda tem muitos negros sem os grilhões, sem os ferros e sem saída para suas vidas", declarou.
O ato promoverá o diálogo inter-religioso e o respeito pela diversidade étnico-cultural. De acordo com Lúcia Marinho, advogada e Diretora de Articulação e Promoção dos Movimentos Sociais/Secretaria Estadual da Mulher, Cidadania e Direitos Humanos, qualquer cidadão que foi vítima de intolerância religiosa pode denunciar o caso e fazer valer o seu direito. "A Constituição Federal diz que todo e qualquer cidadão é livre para escolher sua religião, e discriminar uma outra religião é crime previsto que poderá gerar um processo judicial. A partir do momento que você sofreu discriminação tem que ir imediatamente prestar queixa numa Delegacia. Esse é um direito que nós temos e as pessoas não podem mais aceitar esse tipo de discriminação, independente de religião, as pessoas tem que aprender a respeitar as outras", afirmou.
Haverá um ônibus disponível às 17h na praça Sinimbu, no Centro, para transportar os interessados que serão conduzidos até o campo de futebol "Campo dos 30", por trás da Associação dos Moradores do Conjunto Graciliano Ramos (AMGR), que servirá para a concentração. A programação terá início às 18h com um cortejo afro pelas ruas do bairro, ao som do grupo percussivo Baque Alagoano até a sede do Grupo União Espírita Santa Bárbara (GUESB), onde terá o acolhimento afro.
Os participantes serão recebidos com o cântico "Toda cidade é D’Oxum" interpretado pela Ialorixá Neide de Oxum, que por duas vezes teve sua casa como vítima de intolerância religiosa. Em seguida será lido o texto-base e depois o espaço estará livre para depoimentos dos religiosos, autoridades e ativistas. Para finalizar a atividade terá a apresentação cultural da Orquestra de Tambores.
Na mobilização do ato político-cultural estão as entidades: Banda de Reggae Civilizações Roots; Centro de Cultura e Cidadania Malungos do Ilê; Centro de Cultura e Estudos Étnicos Anajô; Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira/AL); Conselho de Mestres de Capoeira de Alagoas; Federação Alagoana de Capoeira (FALC); Fórum de Entidades Negras de Alagoas (FENAL); Instituto Magna Mater; Núcleo de Identidade Negra em Ipioca; Núcleo de Saúde das Casas de Axé; Pastoral da Negritude da Igreja Batista do Pinheiro; Ponto de Cultura Quilombo dos Orixás / Casa de Iemanjá; Intermídia – Núcleo de Pesquisas Midiáticas/Ufal; Cátedra FENAJ/UFAL; Núcleo de Desenvolvimento e Estudos da Capoeira (NADEC); União de Negros pela Igualdade (UNEGRO-AL).