Deve demorar para o Banco Central diminir elevação de juros.
Ao examinarem os últimos números divulgados sobre a inflação, muitos especialistas estão detectando sinais de arrefecimento da ameaça inflacionária que assustou o país neste ano. No entanto, segundo eles, deve demorar um pouco para que o Banco Central diminua o ritmo da elevação dos juros, pois é preciso verificar se a tendência é sólida.
"No acumulado em 12 meses, o pico [da inflação] ainda está por vir e deve se dar em outubro. Porém, falando das taxas mensais, houve uma descompressão importante", afirma Fábio Romão, economista da LCA Consultores.
O analista se refere aos preços dos alimentos, que dispararam nos últimos meses, impulsionando os indicadores de inflação, e agora estão mais brandos, conforme observado no IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), nos IGPs (Índices Gerais de Preços, medidos pela FGV) e no IPC da Fipe (Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, que diz respeito à cidade de São Paulo).
"Carne e feijão, que aumentaram bastante, mostram um certo alívio, embora ainda estejam forçando os indicadores", comenta Romão.
Isso se deve principalmente à queda nos preços das commodities no mercado internacionais, depois de atingirem recorde histórico, e à regularização de safras que tiveram quebras.
As cotações continuam em nível elevado. Entretanto, não devem ter espaço para subir mais, porque a atividade de grandes economias, como a dos Estados Unidos e as européias, está perdendo fôlego, o que desencoraja os produtores a promover reajustes.
"Aconteceu uma situação de desequilíbrio mundial em determinados bens [alimentos]. No entanto, não existem mecanismos –como indexações– que vão perpetuar as pressões e transformá-las em um processo inflacionário. Tampouco temos no país um cenário de pleno emprego", ressalta a professora Leda Maria Paulani, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo.
Por isso, na sua opinião, "evidentemente" o BC nem sequer deveria ter começado a elevar a Selic. "A retomada da economia mal começou. Os próprios organismos oficiais prevêem que o crescimento em 2009 será menor. Então, é o caso de perguntar para as nossas autoridades: cadê o tal do crescimento sustentável?"
Os economistas do mercado financeiro apostam em pelo menos mais uma alta de 0,75 ponto percentual da Selic, na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do BC), em setembro. "Apesar das indicações positivas que estão aparecendo, são apenas as primeiras", diz Romão. "A autoridade monetária quer evitar que as pressões existentes sejam repassadas [aos preços]."
"Um banco central conquista credibilidade no longo prazo. O brasileiro precisa ficar vigilante para assegurar o cumprimento da meta no ano que vem", diz André Delben Silva, sócio-diretor da Advisor Asset Management.
"Também tem de administrar as expectativas. Assim, é mais provável que o BC mantenha a agressividade para mostrar ao mercado que seguirá fazendo o que for necessário para manter os preços sob controle. Não pode se precipitar e dar um passo em falso."
João Sicsú, diretor de estudos macroeconômicos do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), explica que o BC não tinha a intenção de combater a inflação dos alimentos com os juros. "O objetivo era atuar sobre os demais preços para que o IPCA convergisse de forma mais rápida para a meta. A desaceleração dos alimentos era esperada, pois os preços se encontravam demasiado altos." Para ele, "não está configurada uma trajetória descendente da inflação". "Mas precisamos esperar um ou dois meses para ter a confirmação."