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Situação política na Bolívia pode prejudicar o Brasil, diz Fernando Collor

Para Collor, a crescente instabilidade política poderá acarretar três prejuízos ao Brasil: ameaça ao fornecimento energético; a vulnerabilidade da população brasileira estabelecida naquele país; e incertezas na consolidação do Mercosul.

Em pronunciamento na tribuna do Senado na última quarta-feira, 13, o senador Fernando Collor (PTB-AL) disse que a situação de crescente instabilidade política na Bolívia poderá acarretar três prejuízos ao Brasil: a ameaça ao fornecimento energético; a vulnerabilidade da população brasileira estabelecida naquele país; e incertezas na consolidação democrática do Mercosul.

Em seu discurso, Fernando Collor disse estar preocupado com o arco de instabilidade que cerca o Brasil na América do Sul, e ainda com a manipulada disseminação de sentimentos antibrasileiros na região. Na avaliação do senador, a vitória dos referendos autonomistas nos departamentos de Media Luna, Santa Cruz, Beni, Pando e Tarija, ocorrida no último dia 10, longe de ser um sinal de autonomia, mostra os sinais de divisão na Bolívia.A vitória do presidente Evo Morales e a reafirmação de suas diretrizes políticas dificilmente levarão à diminuição de antagonismos há muito enraizados, disse Fernando Collor.

– Temos, na Bolívia, a superposição de duas poderosas e perigosas clivagens. De um lado, a divisão regional, com a região mais rica da Media Luna em busca de autonomia e, de outro, a cisão étnico-social, de que se aproveitam forças políticas para acirrar a desconfiança entre compatriotas – avaliou. A conjunção de fragmentação étnica e territorial e a interferência externa, disse Fernando Collor, são fatores que também estiveram presentes na região dos Bálcãs, no período que antecedeu a 1ª Guerra Mundial.

– Embora, felizmente, ainda estejamos longe daquele tipo de cenário, os fundamentos de instabilidade não podem ser ignorados – avaliou, ressaltando que o Brasil deve estar preparado para enfrentar as vicissitudes que se avolumam em seu entorno. Fernando Collor disse que o Brasil deve construir cenários que contemplem essas ameaças, antecipando-se aos fatos e agindo de forma preventiva. Em sua opinião, o país deve agir com firmeza e determinação no repúdio às interferências indevidas, buscando exercer o papel de promover a paz e a estabilidade no continente.

– No caso da Bolívia, o Brasil pode contribuir como elemento de aproximação entre as partes, desobstruindo canais de comunicação, em papel construtivo e não divisivo. Para isso contamos com a capacidade de nossa diplomacia e nossa dimensão geopolítica e econômica. Cumpre apoiar os países de menor desenvolvimento, mas com políticas compensatórias de Estado – defendeu, salientando ainda que o adestramento e o reequipamento das Forças Armadas são essenciais para a segurança do Brasil.

Fernando Collor disse ainda que as recentes descobertas petrolíferas na costa brasileira são fatos auspiciosos para a economia brasileira, mas ao mesmo tempo abrem um novo flanco a ser defendido. A recente revitalização da Quarta Frota dos Estados Unidos – com jurisdição sobre o Atlântico Sul – sinaliza a importância estratégia das descobertas energéticas em momento de escassez e altos preços do petróleo, na avaliação do senador.

– O Brasil, por sua tradição diplomática de conciliação, tem natural responsabilidade com a estabilidade, a paz e a segurança em seu entorno. É vital para o Brasil uma Bolívia sem impasses, estável e próspera – afirmou.

Em aparte, o senador Gerson Camata (PMDB-ES) manifestou apoio a Fernando Collor e disse que o senador por Alagoas, quando ocupou a Presidência da República, agiu de forma positiva ao desativar experimentos atômicos no país. A iniciativa, assinalou Camata, contribuiu para encerrar a corrida armamentista na América Latina e para a manutenção da paz na região.