Democratas brancos guardam sentimentos negativos.
Um profundo medo racial pode custar a Barack Obama votos de eleitores brancos democratas, revelou uma pesquisa da agência Associated Press e do site de notícias Yahoo News, divulgada neste sábado. Um terço dos democratas brancos guardam sentimentos negativos com relação aos negros: muitos consideram que eles são preguiçosos, violentos ou responsáveis por seus próprios problemas.
A pesquisa, conduzida pela Universidade de Stanford, mostrou que a porcentagem de eleitores que podem desistir de votar em Obama por ser negro poderia facilmente ser maior do que a diferença entre os candidatos que concorreram nas eleições de 2004. Naquele ano, a diferença de votos entre George W. Bush e o democrata John Kerry foi de 2,5 pontos percentuais.
A pesquisa faz a ressalva de que John McCain também tem seus próprios obstáculos: é aliado de um presidente com baixa popularidade e seria o presidente mais velho a assumir a Casa Branca. Mas Obama pode ter um problema maior: 40% de todos os americanos brancos tem, ao menos em parte, alguma visão negativa sobre os negros, incluindo muitos eleitores democratas e independentes.
Esses eleitores são indispensáveis para a eleição de Obama e, segundo a pesquisa, eles concordaram em ao menos um dos adjetivos negativos atribuídos a negros. Por isso, eles são menos propensos a votar em Obama do que aqueles que não compartilham dessa visão.
A pesquisa pode trazer um choque de realidade para a campanha de Obama, que é o primeiro candidato negro com chances reais de chegar à Casa Branca. Sua nomeação pelo Partido Democrata –que confirmou oficialmente sua candidatura– ocorreu exatamente 45 anos depois do discurso histórico do ativista Martin Luther King Jr, contra a discriminação racial nos EUA.
A intenção da pesquisa era saber por que Obama permanecia empatado com McCain nas intenções de voto, num momento político que favorece a candidatura democrata. A impopularidade de Bush, a Guerra do Iraque e a sensação de insegurança causada pela atual crise econômica seriam fatores suficientes para que os eleitores democratas superassem os republicanos.
Enquanto que sete entre dez pessoas que se consideram democratas irão votar em Obama, 85% dos republicanos autodeclarados disseram que irão votar em McCain. Muitos republicanos também carregam preconceitos, mas a pesquisa disse que eles não votariam em Obama por ser negro; eles simplesmente não votariam em nenhum democrata, seja branco, negro ou pardo.
A pesquisa mostra também que nem todos os brancos são preconceituosos. Existem mais brancos que dizem coisas boas do que os que dizem coisas ruins sobre negros. E muitos dos que vêem os negros negativamente ainda estão dispostos a votar em Obama, de acordo com a pesquisa.
Entre a população negra, Obama tem quase a unanimidade dos votos, mostram os números da pesquisa. No entanto, essa parcela não é suficiente para compensar o efeito da visão negativa de parte dos brancos sobre os negros.
No entanto, a pesquisa mostrou que o fator racial não é ainda o que mais afasta os democratas de Obama. Dúvidas quanto a sua competência para administrar o país influem mais nos votos dos democratas de qualquer origem étnica. Mais de um quarto de todos os eleitores democratas expressaram dúvida na capacidade de Obama trazer a mudança que querem.
Ainda assim, a questão racial desponta na pesquisa. As estatísticas mostram que Obama teria mais 6 pontos percentuais caso não houvesse preconceito por parte dos brancos. Os realizadores da pesquisa disseram, no entanto, que outros fatores podem interferir nas eleições de novembro, que não tem precedentes na história americana.
Entre os eleitores independentes, o estereótipo contra negros também não é incomum, revelou a pesquisa. Enquanto 20% desse grupo disse consideram os negros inteligentes ou espertos, mais de um terço disse que são "reclamões" e 24% disse que eles são violentos.
A pesquisa foi feita via computador e entrevistou 2.227 adultos entre os dias 27 de agosto e 5 de setembro. A margem de erro é de 2,1 pontos percentuais para mais ou para menos.