Governador em exercício, José Wanderley realizou transplante.
Transplante foi considerado um sucesso pela equipe médica
O comerciário aposentado João Batista Brito, 62, ganhou nas primeiras horas de hoje um novo coração. O transplante seria apenas mais um realizado pelo cirurgião-cardíaco José Wanderley Neto e sua equipe se não fosse uma particularidade: é o primeiro da história feito por um governador de Estado – Wanderley está assumindo o cargo interinamente desde a última sexta-feira.
O órgão foi doado por uma mulher de 35 anos que residia no município de São Miguel dos Campos e faleceu em conseqüência de um aneurisma cerebral. Além do coração foram também aproveitados os rins, córneas e fígado.
Em vida, ela havia manifestado à família o desejo de doação quando morresse, e teria reforçado o pedido após se sensibilizar com as doações feitas pela família da jovem Eloá Cristina Pimentel, assassinada pelo ex-namorado Lindemberg Alves, no ABC paulista.
A cirurgia de transplante foi iniciada às 19h deste domingo, 26, na Santa Casa de Misericórdia de Maceió, e concluída pouco depois da meia-noite. João Batista Brito sofria de uma doença que provoca a dilatação do coração (miocardiopatia), o que dificultava a circulação sangüínea e restringia severamente suas atividades normais, como andar, subir escadas etc.
Se não recebesse o novo coração o aposentado teria expectativa de apenas mais um ano de vida, segundo José Wanderley. Dois outros candidatos esperam doação na fila de transplante cardíaco em Alagoas.
Inédito – O ineditismo do transplante está no fato de Wanderley ser o governador de Alagoas no exercício do cargo. Não há registro nas literaturas médica e política do Brasil de que um governante tenha realizado transplante de coração, concomitantemente às suas atividades de dirigente executivo.
Em situação parecida só há registro de uma cirurgia cardíaca convencional, feita pelo também cirurgião-cardíaco Adib Jatene, quando ministro da Saúde. José Wanderley Neto encara o acúmulo das atividades médicas com a política como “uma peculiaridade na minha vida”. “Sempre militei na política médica, dirigindo entidades da área, a Sociedade Brasileira de Cardiologia, suas seccionais. Agora não seria diferente”, disse.
“Estar na interinidade do governo e fazer transplantes é mais trabalhoso, sem dúvida. Mas temos conciliado bem. Além do mais, doador não aparece todo dia – completou.
Hoje pela manhã, às 6h30, José Wanderley visitou João Batista Brito na UTI coronariana, onde se restabelece da cirurgia de transplante. Logo depois retornou ao centro-cirúrgico para fazer uma cirurgia de emergência – uma correção de válvula cardíaca – e uma cirurgia de ponte de safena.
O aposentado João Batista Brito se recupera bem e dentro de um mês poderá iniciar a retomada de suas atividades. Ele é morador do bairro de Bom Parto, em Maceió e pai de quatro filhos, sendo um do segundo casamento.