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Renan defende união para garantir investimento

Desempenho do PMDB surpreendeu aliados e oposição.

José Ronaldo

Na entrevista, Renan avalia eleição municipal, crise econômica e outros assuntos

Na recente eleição municipal, o desempenho do PMDB surpreendeu aliados e oposição. Após os resultados das urnas, o partido já começa a traçar estratégias de médio e longo prazo para consolidar a liderança conquistada. No meio do caminho está a eleição para as direções do Congresso, a escolha dos novos líderes partidários e, principalmente, a crise econômica que está tirando o sono de todos os dirigentes do planeta. O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) fala sobre estes temas e também sobre os projetos políticos no Estado. Na entrevista exclusiva à Revista Municipal, o senador Renan Calheiros alerta que o debate político em torno de 2010 não deve prejudicar Alagoas e o País: "É prudente congelar o debate presidencial até atravessarmos a turbulência".

RM – Que avaliação o senhor faz da eleição municipal?

Renan – Inicialmente é necessário destacar que o Brasil, mais uma vez, dá novas lições de comportamento democrático ao mundo, especialmente em matéria eleitoral. O processo todo é muito ágil, seguro, moderno e a apuração é quase instantânea. Mais do que a confiabilidade das urnas eletrônicas, o processo eleitoral brasileiro exorcizou para sempre as fraudes eleitorais, cuja prática acabava por não espelhar a real vontade da sociedade. Em um País com números eleitorais superlativos, mais de 150 milhões de eleitores e milhares de candidatos, todos já vão dormir sabendo os nomes dos eleitos e seguros que na eleição prevaleceu o desejo da maioria.

RM – Mas a mudança é só tecnológica?

Renan – Não. Há mudanças sociais eloqüentes manifestadas nas urnas. O amadurecimento da sociedade brasileira pode ser verificado nas eleições. De maneira geral, o comportamento da sociedade brasileira é superior ao da classe política. A partir da eleição direta – é bom frisar que isso faz muito pouco tempo – o povo elegeu o presidente Fernando Collor quando quis mudar a agenda brasileira. Depois elegeu o presidente Fernando Henrique Cardoso quando a circunstância impunha uma certa cautela que tangenciava o conservadorismo econômico e, por fim, quando presidente Lula, depois de várias disputas, flexibilizou seu discurso, que pode ser resumido no slogan "paz e amor", foi eleito e reeleito por uma ampla maioria que o rejeitava outrora.

RM – Mas em uma análise partidária, qual é o balanço?

Renan – Em qualquer critério que se pretenda abordar, há um consenso entre os mais conceituados analistas e a classe política de que PMDB se saiu bem na eleição municipal. Foi o partido que elegeu o maior número de prefeitos, mais de 1.200 cidades em todo o País. Venceu também em seis capitais onde há uma enorme densidade eleitoral, como foi o caso do Rio de Janeiro, Salvador, Porto Alegre, Goiânia, Florianópolis e Campo Grande. O PMDB também elegeu o maior número de vereadores – 8.446 -, mais que o dobro que o segundo colocado. Na minha modesta avaliação, a reinserção do partido nas grandes capitais, a despeito das análises de que o PMDB acabaria sendo empurrado para os grotões, talvez seja a melhor notícia nos últimos tempos para a legenda.

RM – Melhor que a quantidade de votos?

Renan – Mas a quantidade de votos deve-se, em parte, a aceitação da sigla em grandes centros. O partido atingiu uma marca eleitoral que nem os mais otimistas acreditavam. Foram 18 milhões de eleitores no primeiro turno e, se considerarmos, o segundo turno, o patrimônio eleitoral do PMDB subiu para 19,4 milhões de votos. Em 2006 o PMDB já havia feito a maioria da Câmara, do Senado Federal, o maior número de deputados estaduais e também e a maior quantidade de governadores estaduais. Essa vitalidade, agora reiterada, reforça que o partido tem capilaridade, está organizado em todo o Brasil, tem credibilidade, a confiança do eleitor, os melhores projetos e pujança eleitoral. Isso é muito bom, aumenta a responsabilidade.

RM – E com esse arsenal, o PMDB, desta vez, vai ter um projeto próprio de poder, ou seja, um candidato a presidência?

Renan – Esse é um sonho antigo do partido e todos têm direito a sonhar.
Deixar de sonhar é subtrair uma fatia importante da vida. Vamos agora conversar muito sobre os desempenhos eleitorais do PMDB, analisar os números e debater internamente. Há uma avaliação coincidente no partido que o apoio majoritário do partido ao governo do presidente Lula acabou desencadeando a unidade interna e o fortalecimento do partido. Não dá para dizer que há uma unanimidade, mas há uma unidade que aglutinou a maioria. Mas, voltando a 2010. Não é legítimo você sair dessa eleição já prospectando presidenciáveis.

RM – Por que não?

Renan – O motivo é simples. O planeta agoniza hoje diante de uma crise do setor financeiro sem precedentes. Em 1929, ano do sempre lembrado "crash" da economia, não tínhamos a complexidade, a instantaneidade da informação e entrelaçamento dos mercados como temos hoje, a conhecida globalização. Um espirro lá fora pode significar uma pneumonia interna. Todos sabemos que as condições brasileiras são melhores que outrora e isso se deve a políticas preventivas, vacinas, criadas ao longo dos anos. Mas mesmo que estejamos em uma situação de menor vulnerabilidade é necessária uma fiscalização permanente para não perdermos as conquistas da economia nos últimos anos. Então acho prudente, em nome do Brasil, congelarmos o debate presidencial até atravessarmos essas turbulências da economia mundial. A votação expressiva no PMDB, essa confiança depositada pela sociedade, só aumenta a responsabilidade de seus representantes.

RM – E em Alagoas, o PMDB foi igual ao resto do Brasil?

Renan – Aqui em Alagoas, graças ao trabalho, a bons candidatos e projetos viáveis e factíveis, tivemos um ótimo desempenho também. Além da maior quantidade de prefeituras, o PMDB fez prefeitos em grandes cidades. Isso é uma demonstração de que boas administrações, projetos inovadores, honestidade, soluções criativas e boas parcerias proporcionam este reconhecimento. Em Alagoas, com candidatos próprios ou coligados, disputamos em todos municípios e vencemos em várias cidades, numa junção de bons nomes, projetos assimilados, idéias novas e responsabilidade.

RM – O resultado aqui em Alagoas com a reeleição de seu filho tem algum significado especial?

Renan – A gestão de Murici vinha sendo avaliada há algum tempo e as pesquisas sempre indicaram percentuais de aprovação da administração. A eleição veio corroborar esta percepção positiva de conforto da sociedade com sua vida, como seu cotidiano. A reeleição se deveu ao trabalho dele à frente da prefeitura e isso, suponho, é um reconhecimento do povo de Murici ao trabalho que ele vai desenvolvendo na cidade. Não tem nenhuma relação comigo. Hoje a sociedade está muito amadurecida e não vota em alguém por motivos alheios à sua vida. Ela vota em quem tem projetos, já demonstrou ser competente, sério e trabalhador. O eleitor, cada vez, mais vem demonstrando estar acima dos políticos brasileiros. Ele quer saber é do transporte de qualidade, do sistema de saúde funcionando, com remédio na prateleira, da boa educação, da coleta do lixo, enfim, o eleitor está mais criterioso e, com toda razão, mais exigente. Claro que para mim e para Verônica é uma satisfação ver que nosso filho é respeitado como um administrador e conceituado. Esse orgulho é bom e eu, cada vez mais, cultivo a família e minha mulher – Verônica. A família e, particularmente, a Verônica é quem tem me dado razões, motivos para sorrir, para seguir em frente, para tocar adiante. A Verônica passou este espírito muito bem para nossos filhos: a tenacidade, a capacidade, a vontade de ir em frente, a disposição de lutar e, ao mesmo tempo, serenidade. Nessa vida atribulada que a gente vive, ela é quem suprindo a família de energia, de entusiasmo e disposição e sempre ensinando que a vida pulsa e nós temos de seguir em frente, sempre em frente.

RM – Quais os projetos para o futuro; é candidato ao governo?

Renan – Prioritariamente trabalhar muito e ajudar o Brasil a atravessar essa crise financeira que amedronta o mundo. Temos várias medidas para serem votadas no Congresso Nacional e penso que, para amenizar o sofrimento com a crise, devemos fazer todo o esforço para recuperar os percentuais do crédito interno e mantermos o nível de atividade. Ao mesmo tempo quero continuar trabalhando para as melhorias sociais de Alagoas e do Brasil como estamos vendo nos últimos anos. Os alagoanos e eu particularmente devemos muito isso ao presidente Lula que tem muita sensibilidade e preocupação com o nordeste brasileiro. Minha obrigação é trabalhar para ajudar Alagoas e o governador Teotonio Vilela. Somos amigos e de partidos diferentes, mas temos integral convergência na defesa dos interesses do estado e dos alagoanos. Não importa onde estarão os dois em 2010. Podemos até não estar juntos. Isso não é importante. Aliás, é irrelevante no momento atual. A eleição quem decide é a sociedade soberanamente e na hora certa. Até lá essa mesma sociedade quer desenvolvimento, crescimento econômico, investimentos, empregos, melhoria de vida, melhores salários e qualidade de vida.

RM – E até 2010, o senhor é candidato a líder do PMDB ou será líder do governo?

Renan – Posso e devo colaborar onde for necessário, independente de cargos oficiais e postos honoríficos. Eu não estou tratando disso agora e nem creio que liderança seja uma função cartorial, que dependa de uma placa na porta e no cartão de visita. Quero continuar trabalhando por Alagoas, trazendo recursos, obras, investimentos que geram emprego, aumento de renda, redução das desigualdades e dignidade para todos os alagoanos. Se eu puder continuar a fazer isso penso que estou à altura do mandato e da confiança da sociedade alagoana. Forças para trabalhar não me faltam, graças a Deus.

RM – Com essa crise na porta, os recursos do PAC estão ameaçados?

Renan – Estou, junto com a bancada de Alagoas, trabalhando muito para assegurar os investimentos e, felizmente, temos uma excelente parceria com o governo federal. O presidente Lula já demonstrou várias vezes o carinho que ele tem por Alagoas. Lula é o presidente não alagoano que mais ajudou o estado. Teremos pela frente um trabalho considerável para garantir os investimentos do governo federal em Alagoas já que muitas obras já estão em andamento. Temos o Canal do Sertão que vai garantir abastecimento e irrigação para 42 municípios e mais de 900 mil pessoas. Já fizemos a restauração das rodovias federais existentes e vamos asfaltar a BR 316 de Carié a Inajá em Pernambuco. Isso além da restauração das outras rodovias estaduais e a duplicação da BR-104 do aeroporto até Messias que está em andamento. Vamos nos empenhar ainda para a construção da estrada que vai margear o São Francisco entre Piaçabuçu e Delmiro Gouveia e a rodovia de Chã Preta a Correntes.

RM – As prioridades serão rodovias e obras infra-estrutura?

Renan – Ainda nesta esfera precisamos agilizar a duplicação da BR-101 com um elevado em São Miguel dos Campos e, para essa obra, já conversamos com o Ministro Alfredo Nascimento. De outro lado já empenhamos no orçamento os recursos para a duplicação da Barra de São Miguel – Maceió e a duplicação para Barra de Santo Antônio está na fase de projeto. Ainda no setor de transportes, o presidente Lula garantiu a mim e ao governador Teotonio Vilela os recursos para metrô de superfície de Maceió utilizando o traçado ferroviário já existente chegando até Mangabeiras. Também vamos fazer o metrô de superfície em Arapiraca, onde a ferrovia já foi recuperada. Ainda tem reconstrução total da nossa ferrovia que liga Alagoas, na divisa com Sergipe, ao porto de Suape, em Pernambuco. Ferrovia que está parada há 20 anos. Na área de recursos hídricos e abastecimento temos a adutora Helenildo Ribeiro, em Palmeira dos Índios, a realocação da Sururu de Capote em Maceió e o saneamento básico também na capital, em Pajuçara, Benedito Bentes e na parte baixa da cidade. Temos também e o saneamento das bacias hidrográficas de Mundaú, Paraíba e Manguaba. Temos ainda obras de saneamento em Arapiraca e outros 50 municípios. Outras obras importantes já estão prontas como o Hospital Geral de Maceió e outras em andamento, como a reurbanização do Vale do Reginaldo. Isso só para citar os investimentos mais expressivos, já que temos também os campus de extensão da Ufal no interior e a abertura de mais cinco escolas técnicas que vai ampliar os horizontes da população mais jovem do interior do estado. Elas serão em Penedo, Maragogi, Piranhas, Murici e Arapiraca irão representar mais de sete mil novas vagas. Tudo isso significa mais renda, melhores salários, mais empregos e cidadania para os alagoanos. Tenho certeza de que, mesmo com crise, vamos tocar nossas obras que estão no PAC.

RM – Senador, retornando ao Congresso?

Renan – Quanto a projetos políticos, todos sabem que eles não derivam da minha vontade, mas de qualquer forma, ainda estamos muito longe da eleição e temos muito trabalho a fazer por Alagoas e pelo Brasil neste momento difícil da economia mundial. Eu não tenho vaidades, obsessão por postos. Já tive a honra de ocupar vários deles, de modo que a ambição para ocupá-los de novo diminui sensivelmente depois de você ter passado por eles. Devo ajudar onde o partido entender que for melhor e isso independe de títulos.

RM – Quais são os caminhos para superar essa crise?

Renan – A crise, já se sabe, não está mais confinada aos muros das hipotecas podres e virtuais. Ela já pulou esse muro, atravessou os Estados Unidos e contaminou a economia global. Nos últimos anos um dos fatores decisivos no crescimento do Produto Interno Bruto do Brasil foi a oferta de crédito, tanto o crédito direto ao tomador, quanto o financiamento a pessoa que vai comprar um carro e até mesmo o crédito consignado. É vital recuperarmos os patamares do crédito e liquidez existentes antes da crise e, nesse sentido, várias ações já foram desencadeadas, entre elas uma maior flexibilidade com o compulsório que os bancos são obrigados a recolher ao Banco Central. Outro ponto importante é a manutenção do nível de atividade e uma fiscalização de lupa com o câmbio, como já está ocorrendo, para evitar pressões inflacionárias derivadas da alta da moeda norte-americana. Ainda não está muito clara a proporção da desaceleração da economia mundial. As incertezas são quanto à existência ou não de uma recessão mundial, sua extensão, quanto tempo ela duraria, e também seu tamanho. Mas o Brasil, até por medidas tomadas anteriormente e pela resposta pontual à crise tem chances de se sair melhor que muitas nações do mundo. No campo político é preciso maturidade, equilíbrio e a compreensão da magnitude do problema para que os embates eleitorais, passados e futuros, não prejudiquem a solução de medidas para que o País não sofra com a recessão, falta de crédito e diminuição da demanda. O desafio é evitar que a crise financeira se torne uma crise econômica.