Sempre tive muita dificuldade de pronunciar essa palavra...
Estou passando por um momento de reflexão sobre a arte de se dizer não. Tenho pensado muito nesse assunto nos últimos dias e fui pesquisar a respeito na internet. Tem muita coisa sobre o tema. Sempre tive muita dificuldade de pronunciar essa palavra para alguém. Puxei ao meu pai, porque mesmo que ele não concordasse com alguma atitude como ceder algo que ele não quisesse para outra pessoa, ele não tinha coragem de expressar, tinha vergonha de dizer, a gente percebia isso, ele ficava sem jeito, travado mesmo.
E confesso aqui que sou muito parecida com seu João também nesse aspecto, mas estou começando a me policiar e a melhorar meu desempenho na vida. Outro dia eu consegui dizer uns dois nãos para umas pessoas e depois fiquei vibrando com isso, achando que o espírito da minha mãe tinha baixado em mim, porque ela sim, dona Antônia, era danada e ninguém lhe passava a perna.
Tenho tanta dificuldade com o fato de me negar a fazer alguma coisa ou de dizer não para outra pessoa, que isso me prejudicou a vida inteira, tanto no profissional quanto no pessoal e estou vivendo esse momento de novo. Recebi um e-mail de minha madrinha Rita, que também é minha prima e mora no Rio de Janeiro, com essa temática. Outros amigos também me enviaram textos sobre essa difícil missão.
É um texto de uma filósofa e especialista em educação, que circula na internet. Tânia Zagury discorre sobre o fato de os pais hoje em dia não saberem dizer não a seus filhos. Ela diz que dizer sempre não aos filhos é uma faca de dois gumes e isso se aplica também a outras pessoas do nosso convívio, avalio eu, aqui.
O especialista em Marketing Gilberto Mendes, em artigo publicado no site da UOL, diz que uma das mais importantes habilidades de um free lance é sua capacidade de dizer não e acredito que isso se aplica a todas as profissões também.
Mendes argumenta que “dizer não, apesar de você poder sentir que os outros possam se sentir ofendidos (e isto é possível), também envia uma mensagem forte, de que você valoriza seu tempo, tem suas prioridades e que você respeita a pessoa a quem você diz não, já que você não quer se comprometer com algo e depois fazer um trabalho de segunda categoria ou até mesmo não fazer nada”.
No plano sentimental isso pode ser aplicado, mas o pior de tudo é quando a pessoa que precisa ouvir o não, se esquiva para não saber a verdade que ela no fundo já tem conhecimento. “Dizer não é uma arte que passa a vida inteira para ser aprendida e aperfeiçoada”, diz Reinaldo Polito, mestre em Ciências da Comunicação.
Para Reinaldo, está na hora de deixar de ser o bonzinho. “Você não vai, gratuitamente, azucrinar a vida de ninguém. Por outro lado, também não vai baixar a cabeça e permitir que os outros tripudiem sobre você. Se você tiver de escolher entre ficar aborrecido porque se manteve quieto diante do comportamento inconveniente de alguma pessoa ou agir para se defender, mas com chances de que ela se chateie, meta o xis na segunda hipótese”, observa.
“Dizer não e recusar é uma arte que leva uma vida inteira para ser aprendida e aperfeiçoada. Uma arte que precisa ser cultivada o tempo todo, pois nunca desaparece o risco de que possamos cair em tentação, fraquejar diante do canto da sereia e dizer sim, quando na verdade desejaríamos dizer não”, complementa o especialista. Resta saber se vou aprender a lição.