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Wikipedia inspira denúncia anônima na web

Wikipedia disponibiliza WikiLeaks com o sistema de criptografia para “esconder” identidades. Página já recebeu 1,2 milhão de documentos confidenciais.

Uma nova ferramenta da internet pode ajudar as pessoas que querem fazer denúncias, principalmente contra governos, mas têm medo de serem identificadas — a novidade funciona como um Disque Denúncia global. Trata-se do WikiLeaks, um site que garante o anonimato de qualquer internauta que queira divulgar na internet informações confidenciais.

Segundo o grupo responsável pela página — sem qualquer relação oficial com a enciclopédia on-line Wikipedia — , os principais alvos são países como a China e a Índia, além de outras nações adeptas à censura na Eurásia, Oriente Médio e África Subsariana. Apesar de ter esses países como foco, o acesso e a divulgação de conteúdo na página são permitidos a internautas de qualquer nacionalidade.

Ainda não é possível fazer buscas por informações no site — que afirma já ter recebido mais de 1,2 milhão de documentos –, mas seus organizadores esperam que o conteúdo passe a ser divulgado entre fevereiro e março deste ano. “Acreditamos que a transparência em atividades governamentais reduz a corrupção, cria governos melhores e democracias mais fortes”, diz um texto da página.

A tecnologia “wiki” tornou-se conhecida por causa da Wikipedia. Essa alternativa leva ao extremo o conceito de colaboração na internet, segundo o qual os próprios internautas fornecem e editam as informações disponíveis no universo virtual.

Criptografia

A revista “New Scientist”, que divulgou a novidade, afirma ser impossível identificar o responsável pelas informações divulgadas porque a WikiLeaks utiliza um sistema de criptografia.

Geralmente, é possível rastrear um e-mail ou documento enviado a um site graças a seu endereço protocolo de internet (IP, na sigla em inglês). “Para prevenir isso, a WikiLeaks utiliza um protocolo conhecido como TOR (The Onion Router), que envia os dados recebidos a um servidor no qual a criptografia é utilizada, para esconder a origem da informação”, explica a revista.

“Imagine um quarto cheio de pessoas, onde todas elas fiquem trocando envelopes. Como você poderia saber qual foi o início desse processo?”, questiona Bruce Schneier, um especialista em criptografia do Vale do Silício entrevistado pela “New Scientist”.

A organização Reporters Without Borders (Repórteres sem Fronteiras), que defende a liberdade de expressão, considera essa uma ferramenta valiosa para garantir o anonimato das pessoas que fazem denúncias em países adeptos à censura. No entanto, Julien Pain, um dos membros do grupo, afirma que não apostaria sua vida na eficácia dessa solução de criptografia.

Credibilidade

Uma das preocupações relacionadas à divulgação de conteúdo pelos próprios internautas está na veracidade daquilo que é publicado. Especialistas temem que a questão do anonimato possa ser usada por pessoas de má fé. “Essa iniciativa pode fazer com que pessoas divulguem documentos falsos”, alerta Steven Aftergood, da Federação de Cientistas Norte-americanos.

Os responsáveis pela WikiLeaks afirmam que os comentários divulgados pelos internautas pode indicar se as informações postadas são verdadeiras ou não. “Um fórum envolve o potencial para abuso, mas algumas medidas podem ser tomadas para minimizar o possível mal. A mais simples e eficaz delas está baseada na comunidade de usuários informados e editores que pode examinar e discutir os documentos publicados”, diz o site.