A própria Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), que promete a "normalização" após cada auge da crise, agora não quer surpresa: deve anunciar amanhã a criação de uma força-tarefa para atuar em todos os feriados e fins de semana.
A três semanas do feriado de Carnaval, considerado a nova prova de fogo da crise aérea, Aeronáutica, controladores e empresas aéreas prevêem caos nos aeroportos e já trocam acusações veladas entre si sobre quem serão os culpados.
A própria Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), que promete a "normalização" após cada auge da crise, agora não quer surpresa: deve anunciar amanhã a criação de uma força-tarefa para atuar em todos os feriados e fins de semana.
Na Aeronáutica, a ordem é reforçar as escalas dos controladores e manter de plantão técnicos especializados nos equipamentos, para evitar o constrangimento da pane de 5 de dezembro, que paralisou o espaço aéreo. E ela aponta problemas de gestão nas empresas.
Estas, por sua vez, estão contratando mais funcionários e fazendo uma "readequação" da malha de vôos como precaução contra o efeito TAM, empresa que precisou alugar aviões da FAB e da concorrência para resgatar passageiros nos aeroportos nas vésperas do Natal.
Segundo o Snea (Sindicato Nacional das Empresas Aéreas), porém, não há como se preparar para um problema de controle de tráfego aéreo.
E, para fechar a equação, os controladores de tráfego aéreo estão na berlinda. Após iniciar a operação-padrão no fim de outubro e obter apoio do governo para desmilitarizar o setor em dezembro, sentem agora um revés de força política.
Está na mão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva há mais de um mês a proposta de desmilitarização, mas, entre férias e prioridades de agenda, ainda não há decisão oficial.
O ministro Waldir Pires (Defesa), uma espécie de aliado da categoria dos controladores, saiu de mãos vazias de uma audiência com Lula na última quarta. E há sérias dúvidas de que ele vá permanecer no cargo depois da reforma ministerial.
"O presidente tem que acenar, se pronunciar, fazer algo. Senão vai chegar a um ponto no qual não poderemos mais segurar nosso pessoal, mas são coisas isoladas", disse Jorge Botelho, presidente do sindicato dos controladores civis.
Controladores ouvidos pela Folha são quase unânimes em dois pontos: temem que a opinião pública se volte contra eles se houver novo caos e avaliam que a situação é "insustentável" em termos de tensão, frustração e medo de represália militar sem a desmilitarização.
Há rumores de demissões e pedidos de licença médica simultâneos. Mas parece ganhar força a opção de uma operação-padrão mais intensa, que elevaria o controle de fluxo aéreo sem infringir regulamentos.
Um exemplo seria seguir as regras de situação de degradação de sistema (limitar pousos e decolagens) inclusive em caso de falhas de radar ou rádio, que hoje são toleradas.
Os controladores também se queixam do clima interno, com confrontos entre sargentos e oficiais. A ABCTA (Associação Brasileira de Controladores de Tráfego Aéreo) está pedindo "paciência" em assembléias.
A suspeita dos controladores de que as reivindicações não serão atendidas foi reforçada pela oferta aos sargentos de migração para cargos subordinados de controlador civil. Sargentos também foram liberados, temporariamente, de cumprir escala paralela de serviço militar.
Segundo a Folha apurou, a Aeronáutica vê a proposta como uma "saída honrosa". Permitiria a desmilitarização de parte dos profissionais sem perder o controle do setor. Haveria aumento da minoria civil de controladores e um pacto implícito para não haver represálias ou punições posteriores.
A postura da Aeronáutica –antes severa com aquartelamentos e investigações internas contra operadores– mudou porque há a avaliação de que a categoria tem sido manipulada por interesses privados.
Militares vêem com desconfiança o apoio das empresas aéreas à insubordinação do setor num momento em que ficou evidente que as companhias podem ter deficiências operacionais e de gestão.
Alguns vôos tiveram atrasos superiores a uma hora ontem nos aeroportos de Congonhas (zona sul de São Paulo) e Cumbica (Grande SP). O Comando da Aeronáutica informou que os problemas foram causados pela manutenção programada de um radar em Minas Gerais.