Num discurso duro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta sexta-feira, na festa dos 27 anos do PT em Salvador, que o partido dá tiro no próprio pé com as disputas internas e que precisa saber dividir espaços com as legendas aliadas dentro do governo.
Num discurso duro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta sexta-feira, na festa dos 27 anos do PT em Salvador, que o partido dá tiro no próprio pé com as disputas internas e que precisa saber dividir espaços com as legendas aliadas dentro do governo.
"A gente não sabe levantar um pouco a metralhadora para atingir os inimigos e atiramos tanto nos nossos pés. A impressão que tenho é que não gostamos do pé. Gostamos de nos triturar. Se a gente levanta a metralhadora na altura do peito, a gente acerta o adversário. Mas adoramos acertar nós mesmos. É fantástico", disse Lula, que abandonou o discurso escrito por sua assessoria para falar de improviso.
No local, um restaurante de um hotel de Salvador, dois dos principais protagonistas da briga interna dentro do PT: o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, e o deputado cassado e ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu. O último, aliás, recebeu um forte abraço de Lula após o discurso, e ambos conversaram rapidamente.
Em sua fala, Lula disse que os petistas trocam mais acusações do que as feitas pelas CPIs do Congresso: "Vejo dentro do PT que estamos contribuindo para que acusações dentro partido sejam mais fortes do que as da CPI contra nós. Eu fico me perguntando: aonde é que queremos chegar?", indagou, recebendo aplausos dos presentes, inclusive de Dirceu e Tarso.
"Muitas vezes as vacilações que tivemos, entre nós, era porque a gente gostaria que fosse verdade, que o companheiro tivesse cometido o erro que a imprensa disse que ele cometeu. Muita vezes a disputa interna nos transforma em inimigos maiores que somos. Está na hora de dar uma trégua a nos mesmos e dizer: companheiros, vamos ser companheiros, acreditar em nós, ter as divergências internas que são saudáveis. Mas não vamos perder de vista quem é o inimigo. Porque se perder de vista, eles nos destruirão", afirmou.
Lula avisou ainda que seu governo não vai se intrometer na briga dentro da legenda. "Não me peçam que o governo entre na disputa do PT, ou na briga do PT. Não vamos entrar. Embora no meu sangue corra o sangue do PT", disse. "O que me constrange é abrir o jornal e perceber que a briga entre nós merece mais espaço do que as coisas boas que a gente faz. É triste, mas estamos contribuindo para isso. Muitas vezes para nós, a prioridade não é um adversário, mas é um aliado".
Irritado com a cobrança que o PT vem fazendo para ter espaço em seu governo, Lula mandou outro recado: o partido terá que dividir com as legendas aliadas. "Preciso montar o governo com todas as forças políticas: com quem a gente gosta ou não gosta. Eu consigo transformar meus apetites presidenciais em meus apetites familiares. Nem sempre eu posso atender a familia. Esse é o papel de um partido politico que conseguiu chegar ao ponto que o PT chegou. Estabelecer as alianças que o PT estabeleceu. Estamos aprendendo", afirmou.
"Nós precisamos construir maioria no Congresso para governar, aprovar o PAC (Plano de Aceleração de Crescimento), fazer as reformas. Não existe outra hipótese", ressaltou.
Por fim, ele ainda ironizou os colegas. "O PT não pode diminuir sua importância histórica. Não pode passar anos e anos discutindo sua pendengas internas. Elas são importantes. Agora, por que o PT não dedica dois anos para discutir a questão da educação do país?"
Lula aproveitou para provocar o PFL, que faz oposição ao seu governo. Lula ironizou a decisão do partido de trocar de nome para PD, Partido Democrático.
"O PFL vai se chamar Partido Democrático. Estou quase desistindo de ser democrático. Mas como sou social-democrata, continuo sendo democrata", disse. "Não acredito que o PFL seja democrático", ressaltou.
Ao fim do discurso, Lula deixou o local e saiu para um jantar privado com o governador da Bahia, o petista Jaques Wágner.
G1