Internautas usam comunidades no Orkut para criticar garoto e defender crime. Usuários tentam apagar essas informações, que podem ser condenadas pela lei
Usuários do site de relacionamentos Orkut passaram a divulgar ofensas a João Hélio Fernandes Vieites, o menino de seis anos que ficou preso no cinto de segurança e foi arrastado depois de um assalto.
No entanto, essa atitude pode ser considerada criminosa, segundo um especialista.
Textos que criticam o garoto e incentivam o crime causaram a revolta de muitos internautas que usam esse mesmo site para homenagear a vítima.
Essa postura chocante deu início a uma verdadeira guerra virtual: os usuários colocam comentários negativos sobre a criança, criam comunidades ofensivas, e aqueles que se comoveram com o crime tentam excluir essas informações. Com base em denúncias, o próprio Google (empresa responsável pelo Orkut) retirou do ar diversas páginas, mas ainda é possível encontrar muitas delas on-line — isso acompanha a lógica da internet, ambiente no qual é difícil censurar ou excluir o que já foi publicado.
A prática de escrever textos que revoltam usuários do Orkut não é nova: foi vista, por exemplo, nas páginas das vítimas do acidente da Gol. No entanto, ela apareceu com mais força depois da morte do garoto e deu origem, inclusive, a um tópico para denúncias na comunidade Luto por João Hélio.
O advogado Renato Opice Blum, especialista em direitos digitais, afirma que essas mensagens contra a criança podem ser consideradas criminosas. “Uma coisa é liberdade de expressão, outra é o abuso desse direito”, disse o especialista ao G1. Dependendo do conteúdo do texto, explica, esses textos podem ser enquadrados como crimes de apologia ao crime, de difamação ou de injúria.
Motivos
Uma das possíveis explicações para essa necessidade de aparecer — mesmo que de maneira negativa — é o fato da página de recados dos politicamente incorretos tornar-se extremamente “popular” depois que eles chocam os internautas. Um deles, por exemplo, já soma cerca de 22 mil mensagens.
Há também outro motivo, como lembra o psicólogo Erick Itakura, pesquisador do Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática (NPPI) da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. “Todo ser humano tem um lado bom e um lado ruim. Como nem todos sabem lidar com suas maldades, eles usam a internet para expressar esses sentimentos. No entanto, o Orkut não é um ambiente propício. Imagine se a família do garoto, que já está abalada com essa situação, ler um texto ofensivo?”, diz.
O especialista acredita que esse tipo de comportamento é visto na internet pelo fato de não haver censura no ambiente virtual: “o teclado aceita tudo”, afirma. Essa agressividade, no entanto, deve ser trabalhada de outras formas, como através da psicoterapia, dos esportes ou qualquer outra atividade sadia. “É necessário saber trabalhar esse lado sombrio para que ele não seja despejado na sociedade”, continua.
Essa não é a atitude do criador da comunidade “Anti-Joãozinho pixe de asfalto”, que afirma estar indignado com o enfoque dado à morte da criança. “Por que não se preocupam com os vivos, que estão passando fome e não têm onde morar?”, questiona o dono do grupo que tem 77 membros (no final da semana passada eram 26).
Revoltados, os internautas invadem essa comunidade e também a página de seus participantes para disparar frases como: “tu vai morrer, mané. Vou te denunciar ao Ministério Público”, “quer o quê? Ganhar scrap no Orkut?” e “você acha que o que está fazendo é bonito?”.