Prestes a completar 67 anos, o deputado federal Francisco Rossi (PSDB-SP), ex-prefeito de Osasco, na Grande São Paulo, e deputado em outras duas legislaturas (79-83 e 87-91), afirmou que já recebeu dois carros de "presente" de fornecedores enquanto era prefeito, mas afirma que devolveu os "mimos".
“Na década de 70, tive que devolver dois carros. Um era um Fusca que uma empresa havia mandado. Outro, era uma chave para ir na loja e escolher carro de valor popular. Mas não aceitei. Devolvi, dando lição de moral. Eu estava no fim de gestão, eles eram fornecedores, e como eu paguei direitinho, acho que eles fizeram no sentido de retribuir algo”, narra o deputado.
Rossi conta ainda que, também quando estava à frente da prefeitura de Osasco, recebeu um quadro de presente. “Achei lindo e recebi. Depois soube que valia uns R$ 5 mil”, afirma. Esse presente, segundo ele, acabou não sendo devolvido por ter passado algum tempo.
O deputado destaca, porém, que considera normal os parlamentares ganharem chaveiros, camisetas, agendas e canetas. “Receber uma agenda eu não acho um mal, a gente recebe de monte. Mas não uma agenda com capa folhada a ouro, por exemplo.”
Ao ser informado pela reportagem de que o Executivo tinha a regra de brindes com valor de até R$ 100, Rossi disse que a Câmara também deveria ter normas para recebimento de presentes. “Acho que R$ 100 ainda é um valor alto. Isso pode ser até objeto de projeto de lei. R$ 50 seria um valor adequado.”
No fundo no fundo, quando alguém manda um brinde, está esperando que se abram portas. Quando comecei minha carreira política achava até simpático, mas fui aprendendo. Hoje dispenso totalmente qualquer presente caro que um empresário queira me dar”, contou Francisco Rossi ao G1.
Segundo Rossi, quando se fica fora da política é que se percebe o interesse das empresas. “Fiquei 14 anos fora da política, sem mandato. Quando se está fora, no máximo você recebe um cartãozinho de Natal. E olhe lá”, afirmou.
Agendas
A deputada Manuela D’Ávila (PCdoB-RS) conta que entre os presentes que já recebeu estão pote de geléia, caixa de maçãs e livros. “Ganho muito produto regional, muita comida. Acho que existe uma diferença do que é brinde. Uma coisa é você ganhar um item de decoração num custo baixo, irrisório. Outra coisa são presentes de valor alto.”
Manuela diz que é normal receber material de escritório. “A gente recebe 40, 50 agendas… É natural, é uma das formas de comunicação da empresa.” Para a deputada, poderia ser criada uma regra na Câmara sobre o assunto. “A principal regulamentação é o bom senso de quem recebe e de quem envia o brinde. Mas cada caso é um caso. Existem múltiplos tipos de relação. Nem todo brinde que é dado significa uma tentativa de corromper. Mas acho que poderia se criar uma regra.”
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) também diz nunca ter recebido presentes de valor elevado. “Já recebi uma caixa de sabonetes. Também uma cesta com quatro ou cinco frutas de conde que outro senador mandou. Coisas assim, mas nunca presentes de grande valor.”
Para Suplicy, seria importante esclarecer os critérios de recebimento de presentes também no Senado. Ele avalia, no entanto, que a questão do recebimento de ‘mimos’ precisa passar pela conduta de cada um.
“Cada um tem de saber. Se um parlamentar apresentar qualquer proposta de emenda para determinado prefeito, potencialmente realizado, e daí receber presente, isso é quebra do decoro, quebra de ética. E foi isso que levou muitos parlamentares a perderem seus mandatos na CPI do Orçamento”, lembra.