Hoje, o carro mais barato vendido no Brasil é o Uno Mille, da Fiat, pouco acima dos R$ 22 mil. A chinesa Cherry fabrica em seu país, o "QQ", ao preço final de R$ 7 mil. No começo de 2008 a fabricante indiana Tata pretende mostrar seu carrinho de baixo custo, que custará em torno de R$ 5 mil. Está nos planos da empresa trazer o veículo ao Brasil.
A iminente chegada ao Brasil dos carros "superpopulares", vindos da China e da Índia, pode antecipar o "apagão" do trânsito nas grandes cidades. Essa é a visão de especialistas em engenharia de tráfego, para quem a idéia de se vender no Brasil carros que custam em seus países de origem valores entre R$ 5 mil e R$ 7 mil – preço de uma motocicleta – aliada à falta de uma política clara que priorize o transporte público, levará cidades como São Paulo a uma perda irreversível de produtividade econômica.
"A entrada massiva de veículos desse tipo e a falta de investimentos no transporte público significam acelerar em direção ao suícidio. Com esses veículos, agravariam-se as condições de circulação, indo na contramão de tudo o que se discute", diz Dario Lopes, professor de projeto urbano da Universidade Mackenzie.
O professor entende os projetos dos "superpopulares" como interessantes do ponto de vista industrial e econômico, mas condena o seu uso em larga escala. "É claro que em um sistema capitalista os empreendedores vão procurar nichos para aumentar os seus ganhos. Mas o poder público deve preservar o interesse geral, que está acima de qualquer outra coisa."
Hoje, o carro mais barato vendido no Brasil é o Uno Mille, da Fiat, pouco acima dos R$ 22 mil. A chinesa Cherry fabrica em seu país, o "QQ", ao preço final de R$ 7 mil. No começo de 2008 a fabricante indiana Tata pretende mostrar seu carrinho de baixo custo, que custará em torno de R$ 5 mil. Está nos planos da empresa trazer o veículo ao Brasil.
A Renault, em parceria com a Nissan, planeja também para o Brasil um veículo em torno de R$ 6 mil. Esses preços, praticados lá fora, devem chegar inflacionados, mas ainda abaixo dos carros populares que são vendidos hoje no País.
Lopes afirma que o grande desafio deste início de século é a operacionalização do trânsito. "A solução está clara para a sociedade de São Paulo: um sistema de transporte coletivo fortemente sustentável e um sistema viário estruturado para permitir a sua hierarquização, priorizando o coletivo", diz.
Sem espaço
Segundo Carlos Alberto Bandeira Guimarães, professor da área de Transportes da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o automóvel é incompatível com a topologia urbana. "O crescimento da frota na taxa de 4% ou 5% ao ano faz com que não haja mais espaço para tantos veículos", diz.
Guimarães afirma que a chegada dos veículos indianos e chineses é preocupante. "Isso pode fazer com que aumente a taxa de motorização da população. Grandes cidades como São Paulo e Campinas têm hoje um carro para cada dois habitantes. A média nacional é um carro para nove habitantes", diz.
De acordo com o professor, esse tipo de veículo reforça a idéia do transporte individual. "Não há outro jeito. O que precisa ser priorizado é o transporte coletivo", afirma.
Heloisa Martins, gestora da gerência de segurança de trânsito da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) de São Paulo, afirma que baratear muito o acesso individual aos veículos pode levar a uma situação insustentável.
"Não tem espaço para acolher todos. Se a pressão da demanda aumentar, novas medidas restritivas, como o rodízio, terão de ser tomadas. O custo coletivo disso é muito alto. É melhor ter espaços públicos de convivência do que viadutos ou avenidas largas", diz.
De acordo com ela, outro agravante dos veículos baratos é a falta de soluções para diminuir a quantidade de poluentes. "Isso pode agravar ainda mais a péssima qualidade do ar".