Não é exagero dizer que a escolha de Joseph Ratzinger como novo Papa, em abril de 2005, mudou completamente a vida de sua cidade natal: nos últimos dois anos e meio, Martkl am Inn, pequena localidade de 2,7 mil habitantes do sul do estado mais conservador (e católico) da Alemanha, a Baviera, viu sua paisagem mudar.
Não é exagero dizer que a escolha de Joseph Ratzinger como novo Papa, em abril de 2005, mudou completamente a vida de sua cidade natal: nos últimos dois anos e meio, Martkl am Inn, pequena localidade de 2,7 mil habitantes do sul do estado mais conservador (e católico) da Alemanha, a Baviera, viu sua paisagem mudar.
Desde que Ratzinger foi consagrado Bento XVI, a cidade já recebeu mais de 500 mil visitantes de todas as partes do mundo.
Segundo moradores ouvidos pelo G1, a cidade mudou para melhor. Junto com os visitantes, veio um sem-número de investimentos.
Hotéis foram reformados para receber um número cada vez maior de turistas, museus foram abertos, e a casa onde nasceu o Papa Bento XVI, na praça principal de Marktl, está passando por uma longa reforma – os turistas já podem conhecer os cômodos da antiga casa da família Ratzinger, mas a fachada restaurada deve ser inaugurada nos próximos meses.
Junto com a publicidade da “cidade natal do Papa”, vieram também as oportunidades de negócios.
Uma antiga cervejaria da região, fundada em 1889, resolveu apostar suas fichas na onda religiosa e lançar a “Papst Bier” (“cerveja do Papa”).
Vendida em diversas embalagens, todas devidamente estampadas com a figura de Bento XVI, a cerveja do Papa custa o dobro das versões “pagãs”, vendidas em supermercados.
Duas garrafas da cerveja produzida artesanalmente pela empresa Weideneder Bräu custam 3 euros (cerca de R$ 8), quantia equivalente à de seis garrafas de cervejas do país.
A “cerveja do Papa”, porém, também vem em embalagem única, de dois litros, é feita a partir de trigo e vendida a 16 euros – aproximadamente R$ 40.
Na padaria local, é possível encontrar o biscoito Bento XVI, o bolo do Papa e mesmo o “pão do Vaticano” – uma variação do tradicional pão de centeio e cereais alemão, só que com uma cruz de farinha por cima.
Apesar de usarem a imagem do pontífice para ganhar dinheiro, o pão e o pedaço de bolo do Papa são vendidos por um preço razoável: 1,50 euro (aproximadamente R$ 4), mesmo preço de suas variações comuns. A torta inteira, de nozes, rum e chocolate, no típico estilo bávaro, custa 15 euros (R$ 40).
Aliás, a padaria e a cervejaria até fizeram uma parceria. De acordo com o representante da Weideneder Bräu em Marktl, Niedermeyer Reinhardt, quem compra uma “torta do Papa” inteira na padaria da cidade, pode atravessar a praça para ganhar uma garrafa de cerveja de graça.
O dono de uma loja de lembranças e presentes da cidade, Jürgen Brandstetter, foi criado nas proximidades do município, mas decidiu mudar-se para Marktl depois da consagração de Bento XVI.
Junto com os pais, abriu uma loja que vende velas, terços, quadros, esculturas, cartões postais e até isqueiros com a imagem do Papa.
Na Alemanha, segundo pesquisa recente, cerca de 40% da população adulta é de fumantes; além disso, o isqueiro pode ser usado para acender velas votivas.
As mercadorias de Jürgen são todas produzidas pela própria família de forma artesanal em um ateliê nos fundos da loja. Um isqueiro custa 2 euros (aproximadamente R$ 5). Os preços dos diferentes tipos de velas variam entre R$ 20 e R$ 60).
Segundo Kathrin Watenberger, do escritório de turismo de Marktl, muita gente aproveitou para transformar a casa em pensão para os visitantes.
“Muitos moradores montaram pequenas pensões de três ou quatro quartos. É uma forma de ganhar dinheiro e de conhecer gente diferente”, ressalta.
Além dos visitantes alemães, ainda maioria, Kathrin conta que a cidade recebe muitos visitantes da Itália e da Polônia, as duas maiores nações católicas da Europa. Os brasileiros também já apareceram em quantidade razoável em Marktl, durante a Copa do Mundo de 2006.
A abertura de pensões familiares não quer dizer que Marktl não tenha uma boa estrutura de turismo. Pode-se chegar de carro ou de trem à cidade, que fica quase na fronteira com a Áustria, e os pequenos oferecem a mesma estrutura encontrada em grandes cidades européias.
A diferença, porém, está no tratamento oferecido aos turistas: ao contrário das grandes redes, o visitante não precisa preencher ficha nem dar sinal de pagamento.
Tudo é feito na confiança, e a hospedagem é barata para padrões europeus: diária de menos de 60 euros (cerca de R$ 160), mesmo em quartos para duas pessoas.
Segundo o escritório de turismo, a temporada turística na cidade natal do Papa terminou no início de setembro. Por isso, é uma boa época para os visitantes consumistas fazerem bons negócios.
Uma loja de produtos para turistas do centro da cidade já oferece livros sobre a vida do Papa pela metade do preço, calendários como brindes e terços inspirados em Bento XVI com descontos de até 30%.