Sem família, casa e emprego, ele acha que pode cometer outros crimes. Mutirão deve ajudar na sua reintegração à sociedade.
O sonho de quase todos os presos é cumprir a pena e ganhar a liberdade. Mas, em Perdões, no Sul de Minas Gerais, o jovem Fabrício Crescêncio Marques, de 21 anos, pensa diferente.
No mesmo dia em que recebeu o alvará de soltura, ele escreveu uma carta para o juiz da comarca pedindo para continuar na prisão.
Fabrício foi preso em flagrante ao roubar uma mercearia. Ele afirma que fez o que fez por necessidade. “Eu tava na cidade passando fome, frio, pode-se dizer bem assim que a gente deu um tropeço, né?", tentou explicar.
Depois de quatro meses no sistema convencional, ele foi transferido, em setembro, para a Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (Apac). O método de recuperação tem como base o trabalho: durante o dia, os detentos fazem artesanato e marcenaria. Só ficam na cela para dormir.
Em poucas linhas ele justifica o pedido: está sem documentos, não tem trabalho, moradia e nem família em Minas Gerais. Fabrício acha que, se voltar às ruas, poderá não se reintegrar a sociedade e cometer outros crimes.
Surpresa geral
A iniciativa surpreendeu a todos e virou o assunto mais comentado na cadeia. "O pessoal aqui fica doido para receber o papel. Aí dona meu papel chegou, chegou, chegou pra mim (sic) sair? E ele, na hora que chegou, ele deu uma baqueada porque ele não sabia para onde ir. Ele não quer voltar para essa vida que ele tava vivendo", disse a diretora administrativa da Apac, Marly Heloísa Pereira.
Apesar da comoção, o pedido de Fabrício não poderá ser atendido. O Código Penal Brasileiro não permite que presos que já tenham alvará de soltura permaneçam na cadeia.
O juiz Sérgio Maia diz que autorizou a libertação porque Fabrício tem bom comportamento e cumprirá a pena prestando serviços à comunidade. O que ele não imaginava era que o preso não fosse gostar da notícia. "Em 12 anos de magistratura nunca enfrentei situação idêntica. Foi uma surpresa", afirmou.
O magistrado garantiu que Fabrício vai ter ajuda para se reintegrar à sociedade. "Toda a direção da Apac está envolvida e vai fazer de tudo para que o Fabrício reencontre a felicidade aqui fora, se Deus quiser", completou.
Prestes à ganhar a liberdade, Fabrício justifica sua preocupação: “eu quero ir pra rua, a liberdade não tem preço. Mas eu quero ter trabalho pra me sustentar, não ter que ficar batendo de porta em porta outra vez, pedindo prato de comida".