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Cidade foi cenário do primeiro assalto de Lampião

Cidade que já foi rota do couro e do cangaço, Água Branca mantém paisagens paradisíacas e tradições culturais centenárias, resguardadas por inúmeras serras e vales, ladeiras de pedras e casario da era Barroca. Distante da capital, mas próximo do rio São Francisco, o município de quase 20 mil habitantes já testemunhou incríveis encontros históricos em seus 130 anos de emancipação política

Edgar Dantas

Casa paroquial de Água Branca

Cidade que já foi rota do couro e do cangaço, Água Branca mantém paisagens paradisíacas e tradições culturais centenárias, resguardadas por inúmeras serras e vales, ladeiras de pedras e casario da era Barroca. Distante da capital, mas próximo do rio São Francisco, o município de quase 20 mil habitantes já testemunhou incríveis encontros históricos em seus 130 anos de emancipação política.

Cenário do primeiro assalto de Lampião, em 22 de julho de 1922, a cidade hospedou o modernizador do Nordeste, Delmiro Gouveia, no início do século passado, e mantém arquivados em seu Fórum, os autos do processo de investigação do assassinato do industrial, ocorrido em 1917.

"São fatos de uma riqueza surpreendente, que merecem o destaque da preservação", comenta Carlos Alberto Torres, bisneto da primeira geração de desbravadores de Água Branca, neto do juiz e do defensor público, que atuaram no julgamento dos assassinos do industrial pernambucano.

O município, que no passado atraiu gerações de senhores de engenho, coronéis e grandes latifundiários, preserva em seu sítio histórico tesouros como o casarão do benfeitor Joaquim Antônio de Siqueira Torres, o Barão de Água Branca, edificado em 1890. Ao rico casario por ele patrocinado, soma-se o templo da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, construção de 1871, com mosaicos e torres de 2,4 metros de altura, nave com detalhes de madeira trabalhada em ouro e imagens trazidas de Portugal, no século XVIII.

Para a cidade, a perspectiva de imortalidade cultural e arquitetônica também representa a realização de um antigo sonho. Transformar em memorial de fé, o Museu de Arte Sacra e Costumes, que há quase 30 anos sobrevive nas dependências da igreja matriz.

"São livros raros, a maioria de 1870", destaca monsenhor Roseval Caldeira, numa referência ao acervo de 150 peças, que inclui ainda, instrumentos musicais, bilhetes do cangaço, paramentos de celebração litúrgica, objetos indígenas e mobiliário que pertenceu à família do Barão e outros moradores da região.

"Nosso desafio está em construirmos o presente e o futuro sem nos esquecermos do passado", diz Carlos Alberto Torres, um dos defensores do tombamento.

"O patrimônio histórico e artístico materializa e torna possível a relação existente entre o passado e o presente, permitindo a visão do futuro", conclui a coordenadora do Pró-Memória.