Grande São João

O São João das fogueiras não é o mesmo São João que batizou Jesus, mas ficou mais famoso; a cada ano as festividades juninas atraem mais gente e ganha colorido especial – é o mais novo filão do turismo cultural do Nordeste e a Globo já percebeu; a estimativa é a de que, este ano, os festejos caipiras vão gerar negócios na ordem de R$ 3 bilhões contabilizando-se apenas Pernambuco, Paraíba, Sergipe e o Ceará.

Para quem enfrentou a discriminação cultural brutal dos sulistas, a música nordestina pode ser considerada hoje como vencedora em todos os níveis – harmonia e letra, na configuração perfeita dos solos das sanfonas de oito baixos.

Não foi fácil romper as barreiras colocadas no caminho da música nordestina; o grande Luiz Gonzaga chegou a ser reprovado num programa de calouro por pura pirraça regional – logo ele, o gênio que o músico grego Demis Rousso imortalizou internacionalmente com Asa Branca.

Há de se fazer justiça também aos baianos Gilberto Gil e Caetano Veloso, e ao carioca Chico Buarque de Holanda, que foram os primeiros compositores da elite musical nacional a gravarem músicas de autores regionais; Gil gravou o clássico “Chiclete com Banana”, sucesso de Jackson do Pandeiro; Caetano gravou Asa Branca e Chico gravou “Carcará”, obra de João do Vale. A partir daí, as barreiras foram sendo retiradas uma a uma; os brasileiros do sul mudaram de opinião e hoje o forró, que se confunde com os festejos juninos assim como o samba se liga ao Carnaval, tem salões nobres em São Paulo.

Será gratificante se os brasileiros do sul descobrirem, finalmente, que o Nordeste estereotipado como terra seca e miserável é falso; e muito mais gratificante se essa descoberta vier no rastro do forró de pé-de-serra ou ao lado de uma fogueira comendo milho verde assado, bebendo quentão, assistindo a disputa dos bacamarteiros.

O mês de junho, que marca o início do inverno, assinala também o novo período para as atividades comerciais; é necessário, portanto, que se cuide desde já da infra-estrutura turística e, esta, não se restringe às obras físicas – é fundamental incentivar as manifestações populares, pois elas são o combustível da estação turística invernosa.

Viva, pois, São João, que não perdeu a cabeça e acendeu a fogueira da alegria e dos negócios no Nordeste.

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