O presidente do Senado, Renan Calheiros, fez um apelo à Câmara dos Deputados para que vote ainda nesta semana o projeto de decreto legislativo que marca para outubro a realização do referendo sobre a proibição de comercialização de armas de fogo e munição no país. Durante solenidade de lançamento do livro Mortes Matadas por Armas de Fogo no Brasil – 1979-2003, de autoria do sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, pesquisador da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), Renan disse que a resistência de 20 ou 30 deputados sobre a questão é um equívoco, pois é preciso entender que as mortes por armas de fogo no Brasil hoje são "dramáticas" e representam mais de 10% das mortes por armas de fogo que acontecem no planeta.
A campanha pelo desarmamento, segundo Renan, "tem apresentado resultados fantásticos para o país". Até agora, informou, foram retiradas 364 mil armas de circulação nessa campanha. Na Austrália, em campanha semelhante, comparou, foram recolhidas 60 mil armas. O presidente do Senado afirmou que está crescendo a consciência dos brasileiros sobre esse assunto e que o mercado inescrupuloso da venda de armas de fogo não pode continuar.
– Não dá mais para conviver com isso – declarou.
Segundo Renan, o presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti, comprometeu-se a limpar a pauta para aprovar o projeto de decreto legislativo. Renan observou que, apesar de a semana ser cheia e de o país estar vivendo uma crise política, os assuntos relacionados às denúncias de corrupção não podem desviar a atenção da sociedade para uma questão tão importante quanto o desarmamento.
Na cerimônia, realizada na manhã desta segunda-feira (27), o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), também fez um apelo à Câmara dos Deputados para que aprove nesta semana o projeto de decreto legislativo de autoria do presidente do Senado, Renan Calheiros, sobre o referendo.
– 364 mil armas foram devolvidas na campanha pelo desarmamento da população. Isso mostra que o país está atento a essa questão. Faço um apelo à Câmara para que aprove ainda esta semana o plebiscito, para que este se realize este ano em outubro – disse Mercadante.
Já o representante da Unesco no Brasil, Jorge Werthein, que também participou do lançamento do livro, informou que mais de 550 mil pessoas foram mortas por armas de fogo no Brasil de 1979 a 2003. Werthein disse que a obra mostra a "tremenda necessidade que o Brasil tem de dizer não à livre comercialização das armas de fogo e dizer sim ao desarmamento". A publicação ressalta que o número de mortes por armas de fogo no país, "que não tem conflitos religiosos, étnicos ou enfrentamentos políticos no plano da luta armada, é maior do que muitos conflitos armados em diferentes partes do mundo."
Participaram também do lançamento do livro Julio Jacobo Waiselfisz, o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) e Paulo Rangel, representante do movimento Viva Rio.Para que o projeto sobre o referendo seja votado, a Câmara deverá desbloquear a pauta do Plenário. Com esse objetivo, o presidente da Câmara convocou todos os deputados, por telegrama, para uma sessão extraordinária nesta segunda-feira, às 14h.