A história de amor entre cineastas e Alagoas sempre rendeu enredos de sucesso, entretanto nunca se divulgou o Estado com tanta visão de mercado, como no início deste novo século.
Repleta de cenas surpreendentes e tramas inesquecíveis, a relação do cinema nacional com cenários e a gente alagoana foi construída ao longo das últimas quatro décadas, com boa dose de entrega e produções ousadas. Entretanto, nunca se divulgou o turismo, a arquitetura e a história de Alagoas com tanta visão de mercado, como no início deste novo século.
Quem não se recorda de ter invejado Fábio Assunção num dos muitos mergulhos dados pelo mocinho no azul das águas do Rio São Francisco, durante o longametragem Espelho D’Água?
Exibido no ano passado, o filme destacava a arquitetura e o casario colonial de Penedo com takes e diálogos propositalmente planejados para valorizar os roteiros turísticos da região. Com cenas rodadas em Penedo e Bom Jesus da Lapa, no sertão baiano, Espelho D’Água abusou da beleza plástica de cenários naturais para contar as lendas da região do vale do São Francisco.
Um ano antes, em 2003, foi a vez de Deus é Brasileiro, filme dirigido pelo alagoano Cacá Diegues, mais uma produção a revelar cenários paradisíacos de Alagoas.
Um apaixonado pelo assunto, o crítico cinematográfico e professor Elinaldo Barros, faz questão de lembrar que a história de amor entre cineastas e Alagoas sempre rendeu enredos de sucesso. Contrariando o pensamento comum de que o cinema nacional vive seu melhor momento na atualidade, Barros apela para recordações do passado, evocando tempos em que as salas de exibição lotavam e não faltava platéia, mesmo quando a crítica, conservadora, condenava grandes obras a comentários preconceituosos.
Se as produções das décadas de 70 e 80 esbanjavam em ousadia e originalidade, o crítico reconhece que os novos filmes conseguem realizar de modo inteligente a divulgação do marketing institucional de Alagoas. Vendem a imagem do Estado com eficiência e talento, avalia.
No início da década de 70, o diretor alagoano Cacá Diegues ousou ao filmar em Alagoas o longametragem Joana Francesa. Estrelado pela atriz Jeanne Moreau, o filme foi a primeira produção do cineasta em sua terra natal. Antes disso, em 1963, Diegues havia filmado o longa Ganga Zumba – Rei dos Palmares, produção que apesar de inspirada na história de um líder negro das Alagoas, foi totalmente rodada no Rio de Janeiro.
Com Joana Francesa, em 1971, Cacá Diegues brindava o público com imagens de Alagoas e um enredo que contava a passagem do período de transição dos engenhos de açúcar para as usinas.
“A história misturava lendas do povo brasileiro com aspectos trágicos da mitologia grega”, recorda Elinaldo Barros.
Depois de Joana Francesa, o diretor voltou seu foco novamente para Alagoas, em 1981, com a produção de Bye, Bye Brasil, filme rodado na histórica cidade de Piranhas. O longa também teve locações em Murici e Saúde, além de uma cena rodada em Maceió. No elenco brilharam globais como Bety Faria, José Wilker e Fábio Júnior.
No início dos anos 80, os estados de Alagoas e Pernambuco compartilharam o sucesso do longa Delmiro Gouveia, estrelado pelo ator Rubens de Falco, no papel do coronel nordestino. A direção foi de Geraldo Sarno.
Outra produção cinematográfica a revelar a natureza e paisagens do insólito sertão alagoano foi Baile Perfumado, um filme sobre a saga do cangaço, dirigido por Lírio Freitas e Paulo Caldas, com trilha sonora de Chico Science e o ator Luís Carlos Vasconcelos, no papel de Lampião. A produção de 1986 mobilizou atores e figurantes de Alagoas, destacou a beleza dos canions do São Francisco e da vegetação nativa da caatinga.
As décadas de 60 e 70 também marcaram um período de ouro para o cinema nacional, época em que os romances do escritor alagoano Graciliano Ramos ganharam as telas de todo Brasil. A estréia da trilogia aconteceu em 1963, com o filme Vidas Secas, dirigido por Nélson Pereira dos Santos.
Além de explorar a natureza árida do agreste e sertão alagoanos, Vidas Secas revelou para o Brasil o talento do ator Jofre Soares. Filmado no município de Palmeira dos Índios, o longa teve locações em Minador do Negrão.
O segundo filme inspirado na obra do escritor Graciliano Ramos foi São Bernardo, longa dirigido pelo cineasta Leon Hirszman, em 1972, e que exibia imagens da região de Viçosa.
Em memórias do Cárcere, filme de 1980, com Carlos Vereza no papel de Graciliano Ramos, paisagens alagoanas misturam-se a imagens de Recife.