Parintins (AM) - A piramutaba e a dourada realizam a maior viagem conhecida de um peixe de água doce no mundo: para desovar, a partir dos três anos de idade, as fêmeas saem da foz do rio Amazonas, no litoral paraense, e nadam 5.500 quilômetros até a cidade de Iquitos, no Peru
Peixes amazônicos fazem maior migração em água doce no mundo
Parintins (AM) – A piramutaba e a dourada realizam a maior viagem conhecida de um peixe de água doce no mundo: para desovar, a partir dos três anos de idade, as fêmeas saem da foz do rio Amazonas, no litoral paraense, e nadam 5.500 quilômetros até a cidade de Iquitos, no Peru. A viagem demora até seis meses, mas as larvas desovadas percorrem o caminho de volta em no máximo 20 dias, carregadas pela correnteza. Os dados são do estudo "Grande Bagres Migradores", realizado pelo Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea (ProVárzea/Ibama).
"A piramutaba e a dourada são o carro-chefe da economia pesqueira da região, mas o ribeirinho não conhece todo seu ciclo de vida, por causa da longa migração", informou Maria Clara Forsberg, acrescentando que o resultado do estudo será divulgado nas comunidades ribeirinhas, por meio da distribuição de cartilhas e da realização de seminários.
De cada 100 peixes de couro (liso, sem escama) capturados na calha do rio Amazonas/Solimões, 70 são piramutabas ou douradas – cerca de 30 mil toneladas dessas duas espécies são comercializadas por ano na região. "Esse número cresceu a partir da década de 70, com a migração de sulistas para cá, porque havia um tabu quanto ao consumo de peixes lisos na Amazônia. Ainda existem algumas comunidades ribeirinhas que acreditam que eles são remosos, isto é, indigestos, que podem provocar problemas de pele, fazer mal à saúde", explicou Maria Clara.
Ela acrescentou ainda que, apesar do grande deslocamento da piramutaba e da dourada, os acordos de pesca local funcionam também para essas duas espécies. "Na época da seca eles ficam represados em algumas regiões", esclareceu.
O estudo do PróVárzea financiou a revisão da instrução normativa publicada em junho de 2004, válida por dois anos, e que regula a pesca da piramutaba no estuário do rio Amazonas. "Ela determina o número de barcos que podem pescar, o tamanho da malha que os pescadores podem usar e em qual período podem trabalhar. É importante também porque possibilita que nos dois meses e meio de defeso, quando a pesca é proibida, eles recebam seguro-desemprego", ressaltou.
Maria Clara Forsberg está em Parintins coordenando o seminário Políticas Públicas para a Calha do Solimões/Amazonas, promovido pelo PróVárzea, um subprograma do Programa Piloto para Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG7), coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente e executado com verba da cooperação internacional.