"Dirceu sabia de empréstimos do PT". A declaração foi dada na terça-feira em depoimento espontâneo à Procuradoria Geral da República. O documento da PGR foi entregue nesta quarta-feira a CPI dos Correios.
Segundo a declaração, teria sido o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares a fonte da informação de que Dirceu reuniu-se com dirigentes dos dois bancos sobre o tema.
O ex-chefe da Casa Civil, de acordo com a declaração do empresário, jantou com dirigentes do Banco Rural, em Belo Horizonte, no hotel Ourominas, e em Brasília, com a diretoria do BMG. Não está claro a época do encontro.
Valério afirmou ainda que se encontrou com Dirceu em três audiências oficiais. O empresário acompanhou a diretoria de ambos bancos para tratar de visitas “à fábrica instalada em Luiziânia, do Grupo BMG, e ao projeto de mineração de nióbio da Mineração Rural”.
As declarações de Marcos Valério contrastam com o depoimento de Dirceu ao Conselho de Ética da Câmara, no qual o ex-ministro enfatizou que não participou das decisões sobre os empréstimos feitos ao PT.
O empresário foi avalista de um empréstimo no valor de 2,4 milhões de reais tomado junto ao BMG, e outro de 3 milhões de reais, cuja fonte foi o Rural.
Marcos Valério voltou a dizer que Delúbio havia lhe informado das pendências financeiro-eleitorais do PT no começo do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2003. “No início do governo federal, em fevereiro de 2003, nas conversas que vinha mantendo com Delúbio Soares, este informou ao declarante (Marcos Valério) que existiam pendências financeiras dos diretórios regionais do PT referentes às eleições de deputados federais, estaduais e governadores”, consta do termo de declaração em posse da CPI.
Envolvimento de Tarso?
O empresário cita ainda que Marcelino Pies, tesoureiro do PT do Rio Grande do Sul, recebeu dinheiro através de Jorge e Paulo Antonio Bassotto, em Belo Horizonte. Bassotto é é funcionário da tesouraria do PT ligado ao núcleo de Canoas, maior cidade da região metropolitana de Porto Alegre.
Uma cópia do documento apresentado por Marcos Valério à Procuradoria que lista as pessoas que receberam recursos emprestados ao PT mostra que Pies foi beneficiado com um total de 1,2 milhão de reais, em dois saques, um de 700 mil entre junho e julho de 2003, e outro de 500 mil entre setembro e outubro do mesmo ano.
O deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS), candidato derrotado a Porto Alegre, cobrou explicações do presidente do PT, Tarso Genro, que foi candidato ao governo do Rio Grande do Sul em 2002. “Acho que o Tarso precisa se explicar. Ele não disse que veio para limpar o PT? Então, ele deve explicações”, afirmou Lorenzoni.
Mas há parlamentares da oposição que adotam uma avaliação mais audaciosa. “Está provado que o dinheiro do Marcos Valério não era só para pagar campanha. Era para pagar despesas em geral”, afirmou o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ).
Os governistas tentam jogar água fria na iniciativa da oposição de envolver o presidente do PT, afirmando que é preciso cautela nas avaliações. “A secretaria de Finanças do PT fez uma gestão temerária e não ficamos sabendo de tudo o que ela fez, mas não podemos generalizar e afirmar que todo mundo recebeu dinheiro sujo”, disse o deputado Maurício Rands (PT-PE).