O encontro contará com a presença do secretário nacional de comunicação do PT, Humberto Costa, representando a chapa do campo majoritário e do historiador Valter Pomar, representando a chapa A Esperança é Vermelha , ambas concorrendo ao diretório nacional do PT. O Alagoas24horas conseguiu conversar com Valter Pomar para saber o que ele irá defender.
O Partido dos Trabalhadores realiza debate hoje, a partir das 9h, no Sindicato dos Urbanitários, um debate sobre o Processo de Eleições Diretas (PED). O encontro contará com a presença do secretário nacional de comunicação do PT, Humberto Costa, representando a chapa do campo majoritário e do historiador Valter Pomar, representando a chapa A Esperança é Vermelha , ambas concorrendo ao diretório nacional do PT. O Alagoas24horas conseguiu conversar com Valter Pomar para saber o que ele irá defender.
Nos últimos dias sua campanha vem sendo feita pelos estados do Nordeste. Pomar é vice-presidente nacional do PT e faz parte da tendência Articulação de Esquerda (AE). Ele e é um dos candidatos de oposição a presidência do partido nas eleições que acontecem em setembro.
A sociedade brasileira vive uma crise brutal, que começou no final dos anos 70, e é produto do esgotamento do modelo econômico vigente desde os anos 30. Frente a essa crise, a direita tentou aplicar a política neoliberal, que a agravou, ao invés de solucioná-la. Com o governo Lula, havia uma enorme expectativa de que ele seria uma saída para a crise, que é estrutural. E não está sendo. E, o que é mais grave, não está tentando construir essa saída. Ele não produziu alterações nem na economia, nem na política, para construir outro modelo. Se fala muito que a política do governo Lula é conservadora, e é.
Primeiro, golpear o capital financeiro. Em seguida, golpear o latifúndio. A terceira ação seria fortalecer a classe trabalhadora. Vou explicar. O capital financeiro, desde os anos 90, é o setor que mais tem se beneficiado com a política econômica. Acontece que a dinâmica do capital, hoje, é muito vinculada à especulação, e muito pouco ao investimento produtivo. Isso faz com que haja uma enorme massa de recursos na mão do capital financeiro, que, do ponto de vista social está esterilizado. Portanto, qualquer política que vise o crescimento do país, exige golpear profundamente o capital financeiro, para que os recursos que ele concentra sejam irrigados para o conjunto da sociedade.
Quando chegamos ao governo, não tínhamos clareza de qual política deveria ser implementada. Se observarmos a ação do governo do início de 2003 até agora, o que impressiona é que é um governo conservador no âmbito da economia e no âmbito da política. É um governo que corrói as bases de sua própria sustentação. Portanto, a estratégia que foi adotada no PT de 1995 para cá, foi capaz, pelo menos aparentemente, de chegar ao governo, mas não está sendo capaz de se manter no governo, e muito menos está sendo capaz de nos permitir disputar o poder.
A luta pelo socialismo e a luta pelo poder exige combinar luta social e luta institucional. No atual período histórico, a luta pelo poder passa pela disputa e pelo exercício de governos. Tanto é verdade, que o processo mais avançado na América Latina, nesses últimos anos, é o da Venezuela, que também passou pela disputa e pelo exercício de governo. Ou seja, a crise que vivemos não coloca em questão o fundamental da estratégia. Só que a estratégia implementada pelo Campo Majoritário do PT é uma perversão, uma deformação da estratégia original do partido. A original continua correta. Não é possível um país com uma forte classe média, com uma burguesia poderosíssima, com a complexidade da luta de classe do país, imaginar uma estratégia que não combine luta social e luta institucional.
A maior parte da esquerda trabalha com a idéia de que, como a política econômica é conservadora, logo ele é nosso inimigo. Eu não tenho essa opinião. O governo Lula é um governo de conciliação de classes, de alianças de classes, de coligação de partidos e classes sociais, é um governo que está sendo progressivamente hegemonizado, desde o seu início até agora, pela direita brasileira e por frações do capital, executa uma política conservadora, mas, contudo, não é um governo das elites. E constitui, principalmente, um obstáculo às pretensões dos Estados Unidos na América Latina. Por isso, a derrota do governo Lula, ao invés de abrir espaço para o crescimento da esquerda brasileira, significará, ao longo dos próximos dez, 15 ou 20 anos, uma derrota para toda a esquerda brasileira.
Mudando a direção do partido, elegendo um novo grupo dirigente e adotando uma nova política que, no curto prazo implicaria em alterar a política econômica e a condução política do governo. Depois, a partir da direção do PT, e de tudo o que o PT significa na sociedade brasileira, disputar espaço no governo e empurrá-lo para a esquerda. Isso implica em realizar uma ampla mobilização na sociedade brasileira para, ao mesmo tempo em que combatemos a direita, pressionarmos o governo no sentido de fazer as alterações que o partido defende, e dentro do governo executar a mesma operação.
O partido tem de ter autonomia em relação ao governo. Porque o governo tem mandato determinado, tem que levar em consideração uma determinada correlação de forças, um determinado orçamento, uma determinada legislação. Um governo é sempre mais amplo do que um partido, ele atua para o conjunto da sociedade e tem no seu interior diversas organizações políticas, sociais, partidárias etc. O partido não. O partido cresce numa parcela da sociedade. Agora, do ponto de vista histórico, o partido é mais importante, porque é o instrumento que organiza a luta por outra sociedade, que viabiliza na conjuntura, presente e futura.
Há um setor da esquerda petista que considera que o projeto do PT está esgotado, e que é preciso construir outra coisa. E coloca o PED como divisor de águas. Essa não é nossa opinião. Primeiro, porque achamos que nunca houve uma condição tão propícia para a esquerda do PT se tornar majoritária. Portanto, nesse momento, falar em sair do PT, falar em marcar data para sair do PT ou falar em condições para ficar ou sair do PT, ajuda o Campo Majoritário porque, na disputa de rumos do PT, o Campo Majoritário acusa esse setor da esquerda petista, que na verdade estará disputando o PED apenas para marcar posição e depois sair.
Na minha avaliação, o PT não será mais governado pelo Campo Majoritário a partir de setembro, porque o setor que dirigiu o partido nesses últimos dez anos está hoje no banco dos réus. E é evidente que isso vai ter impacto na eleição do PT. A questão é saber qual será o impacto. Que o PT vai à esquerda, tenho absoluta certeza. Então, no dia 18 de setembro e no dia 9 de outubro, que é quando acontece o segundo turno, vamos estar dando o primeiro passo para reconstruir o PT como um instrumento estratégico para a luta pelo socialismo no Brasil. E eu estou convencido que o papel que o PT cumpre na esquerda brasileira é insubstituível. Ou seja, é preciso ter um partido de massas que combine luta social e luta institucional.
Tem 38 anos, é mestre e doutorando em História Econômica pela Universidade de São Paulo. É terceiro vice-presidente nacional do PT e ex-secretário de Cultura, Esportes e Turismo da cidade de Campinas (SP). É integrante do Diretório Municipal do PT Campinas. Desde fins de 2004, exerce também o cargo de secretário-adjunto de relações internacionais do PT.