Mais de 200 militantes do PT lotaram o auditório do Sindicato dos Urbanitários na manhã de ontem para acompanhar o debate entre as chapas que disputam à direção nacional do partido no próximo dia 18 de setembro.
Mais de 200 militantes do PT lotaram o auditório do Sindicato dos Urbanitários na manhã de ontem para acompanhar o debate entre as chapas que disputam à direção nacional do partido no próximo dia 18 de setembro. Estiveram presentes representantes de sete dos 10 grupos que participam da disputa, porém o debate ficou polarizado entre os integrantes do Campo Majoritário e os militantes da Articulação de Esquerda que levaram o maior número de militantes ao encontro.
Entre os petistas locais que são candidatos ao diretório estadual estavam o presidente estadual, Paulo Fernando dos Santos, o Paulão – defendendo o Campo Majoritário com o apoio da Democracia Socialista, o secretário regional da Pesca, Paulo Nunes, dirigente da Articulação de Esquerda e o professor Luiz Gomes, pela tendência O Trabalho. Uma ausência que chamou atenção foi a da presidente municipal do PT, Claudia Amaral. Ela tem dado sinais de descrédito com a política implementada pelo grupo que dirigia o partido nacionalmente.
O debate serviu para mostrar que a crise na legenda adquire contornos mais visíveis com a proximidade do processo de eleição direta para as direções partidárias. A eleição, que em fevereiro parecia destinada a confirmar a preponderância do chamado Campo Majoritário, tornou-se uma grande incógnita depois das denúncias de corrupção que atingiram, no governo, o chefe da Casa Civil, José Dirceu, que renunciou e reassumiu seu mandato de deputado, assim como o ex-presidente do PT, José Genoino, seu ex-tesoureiro, Delúbio Soares, além do ex-secretário-geral, Sílvio Pereira e do ex-secretário de comunicação, Marcelo Sereno todos afastados.
A crise, longe de acabar, exacerbou a luta entre as tendências do PT, devido à fragilização deste grupo, que em Alagoas é apoiado pelo deputado Paulão, recentemente acusado de receber R$ 160 mil do caixa 2 do publicitário Marcos Valério.
No encontro a tendência foi defendida pelo ex-ministro da Saúde, Humberto Costa. “O Campo Majoritário acabou como ele era e vai se construir um novo campo de maioria no PT”, opinou. “A maioria do Campo Majoritário não é corrupta nem compactua com estes erros”, defendeu alegando que o partido precisa retomar o caminho ético do passado.
O dirigente petista considera fundamental a sustentação política ao governo Lula. Para ele, a derrota do governo Lula não será apenas do PT, mas a mortificação, inclusive, da esquerda internacional. “Precisamos de uma política desenvolvimentista mais clara e convencer o governo que este é o momento”, falou. Sua tese tem como principais pontos a defesa do governo Lula e seus indicadores positivos, assim como os avanços nos programas sociais.
“Este é um governo que tem o apoio dos setores mais desfavorecidos da sociedade. Hoje, o presidente Lula recebe força dos mais pobres que até bem pouco tempo não votavam no PT, entretanto a crise nos afastou da classe média, e ela que precisamos reconquistar”, disse o ex-ministro, não desconsiderando o leque de alianças com partidos de Centro.
Polarizando o debate com o representante do Campo Majoritário estava o
doutorando em História pela USP, Valter Pomar. Dirigente histórico do PT e vice-presidente nacional da legenda, ele discursou lembrando que o PT tem uma missão pela frente. “Primeiro precisamos golpear o capital financeiro. Em seguida, golpear o latifúndio. A terceira ação seria fortalecer a classe trabalhadora. Vou explicar.
O capital financeiro, desde os anos 90, é o setor que mais tem se beneficiado com a política econômica. Acontece que a dinâmica do capital, hoje, é muito vinculada à especulação, e muito pouco ao investimento produtivo”, disse.
“Isso faz com que haja uma enorme massa de recursos na mão do capital financeiro, que, do ponto de vista social está esterilizado. Portanto, qualquer política que vise o crescimento do país, exige golpear profundamente o capital financeiro, para que os recursos que ele concentra sejam irrigados para o conjunto da sociedade”, avaliou.
Valter Pomar culpou o Campo Majoritário por as sucessivas derrotas petistas. “Na minha avaliação, o PT não será mais governado pelo Campo Majoritário a partir de setembro, porque o setor que dirigiu o partido nesses últimos dez anos está hoje no banco dos réus. E é evidente que isso vai ter impacto na eleição do PT. A questão é saber qual será o impacto. Que o PT vai à esquerda, tenho absoluta certeza. Então, vamos dar o primeiro passo para reconstruir o PT como um instrumento estratégico para a luta pelo socialismo no Brasil. E eu estou convencido que o papel que o PT cumpre na esquerda brasileira é insubstituível. Ou seja, é preciso ter um partido de massas que combine luta social e luta institucional”, opinou.