Para o professor doutor em Ciências Sociais, Sérgio Lessa, a crise do PT não é uma disputa por projetos de classes sociais distintas, mas apenas uma briga pelo butim oriundo da corrupção por diferentes grupos políticos da mesma classe dominante. Confira entrevista completa.
única saída viável é a revolução comunista. É o que defende o professor Sérgio Lessa como forma de reduzir ou acabar com as injustiças sociais existentes no Brasil, se é que isso é possível dentro dessa conjuntura atual. Sérgio Lessa é docente da Universidade Federal de Alagoas, doutor em Ciências Sociais, e se destaca no debate político por suas críticas ao regime capitalista e ao governo Lula. Ele afirma que a crise por que passa o PT “é uma briga pelo butim da corrupção por diferentes grupos políticos da mesma classe dominante”.
Não vejo esta possibilidade no horizonte. A crise do PT não é uma disputa por projetos de classes sociais distintas, mas apenas uma briga pelo butim oriundo da corrupção por diferentes grupos políticos da mesma classe dominante.
Há que haver uma ruptura com nossa história desde 1500. Isso significa romper com nosso passado colonial e colocar a nossa produção a serviço das necessidades do povo brasileiro e não do capitalismo mundial. Todavia, como não há mais a possibilidade de um capitalismo nacional e, portanto, como o projeto de desenvolvimento do capitalismo nacional é uma utopia (no sentido de não ter lugar na história), esta ruptura apenas pode ser a ruptura com o capitalismo. Portanto, a única saída viável é a revolução comunista.
Medidas paliativas não passam de medidas paliativas dos efeitos e, portanto, são instrumentos para manter inalteradas as causas mais profundas da miséria e da alienação. Portanto, elas não auxiliam no acúmulo de forças revolucionárias. Não há um "caminho da libertação", como também não há "timoneiros" para esta travessia. A história de todas as revoluções tem demonstrado à sociedade o quanto todos os projetos foram destroçados pela luta de classes e pelo acaso – uma dimensão ineliminável da história. Por isso os revolucionários apenas podem se preparar para a revolução estudando e conhecendo a história. Como a revolução não tem receita, não há manual que possa dar conta da difícil tarefa de compreender a realidade no seu dia a dia. E sem esta capacidade, não há direção revolucionária possível.
Que a história evolua, da situação contrarevolucionária que nos encontramos, para uma crise revolucionária. Isto é o máximo que podemos dizer com segurança, pois uma das características mais notáveis das crises revolucionárias é que elas não são previsíveis, correspondem a um salto de qualidade que tem uma dimensão pontual que não pode ser eliminada. Em poucos dias, a reprodução da sociedade é paralisada e os seus principais fundamentos deixam de funcionar. Está, então, aberta uma crise revolucionária.
Não há reforma que prepare a revolução. A reforma do capitalismo é apenas – e na melhor das hipóteses – deslocar para o futuro as contradições essenciais do sistema, ao preço de destruir o planeta e destruir as pessoas.
Dentro do razoável, podemos dizer que não há nada, digamos, necessário e inevitável na história – e certamente a reforma não é uma pré-condição para a revolução.
Esta é uma resposta que apenas pode ser dada sob a forma de uma previsão muito mais weberiana que marxista. Seria necessário ir atrás dos tipos ideais e, a partir deles, tentar uma classificação. Isto não funciona, porque a legalidade imanente da história dos homens não possibilita uma tal linearidade entre o passado e o futuro. Por outro lado, a posteriori a pergunta pode ser respondida analisando como, no passado, em situações concretas da história, constituiram-se vanguardas revolucionárias. E, em todas elas, em grau surpreendentemente alto, a vanguarda surge juntamente com uma nova interpretação da história do país que coloca em relevo a sua essência enquanto nação. Portanto, todas as vezes que no passado tivemos o surgimento de uma vanguarda revolucionária, ela trouxe um novo patamar de compreensão da história do país, o que significa que elas sempre foram portadoras do conhecimento o mais avançado da realidade que pretendiam revolucionar.
Não creio. Talvez não antes que tenha se alterado o país. Mas isso é pura adivinhação, pois o extremo atraso também pode, em algumas circunstâncias, levar ao futuro por um atalho. É o famoso desenvolvimento desigual e combinado formulado por Trotsky.
Em todas as revoluções, até hoje, a estrutura sindical do período anterior à revolução foi substituída por outras formas de organização mais universais (ou seja, que não levava em consideração a profissão do trabalhador) e mais dinâmicas. Os conselhos (soviets) foram a alternativa mais freqüente até hoje.
Jamais! A educação oficial é sempre polarizada pela ideologia dominante, exceções existem, mas apenas confirmam a regra mais geral. Tenho argumentado que uma vanguarda que sequer conhece Marx e Lenin não me parece que reúna as condições mínimas para cumprir a função histórica que se propõe.
Como difusores da ideolgia oficial. Os meios de comunicação, no desenvolvimento da vanguarda de que necessitamos, não joga qualquer papel a não ser negativo. Não é pela posse dos meios de comunicação (como as TVs alternativas) que daremos sequer um minúsculo passo nesse sentido. O que precisamos nós já temos; e o que não temos, não será qualquer meio de comunicação que nos fornecerá: pessoas dedicadas e disciplinadas que encarem o estudo como a tarefa prática mais urgente na quadra histórica em que vivemos.
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Sérgio Lessa é professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Alagoas e nos pós-graduações em Serviço Social da UFRJ, UFPE, UFAL e em Educação na UFCE.
Mestre em Filosofia pela UFMG e doutor em Ciências Sociais pela Unicamp, sendo um dos mais destacados especialistas brasileiros na obra Ontologia do ser social, de Georg Lukács.
Membro da editoria da revista Crítica Marxista (RJ: Revan) e dos conselhos editoriais da revista Outubro (SP: Xamã) e da Coleção Filosofia (Ed. Unijuí), com diversos artigos publicados em periódicos científicos.
Autor dos livros: Sociabilidade e individuação (Maceió: Edufal, 1995), A ontologia de Lukács (Maceió: Edufal, 1996 – com reedição prevista pela Ed. Unijuí), Mundo dos homens: trabalho e ser social (SP: Boitempo, 2002) e organizador, com Maria Orlanda Pinassi, de Lukács e a atualidade do marxismo (SP: Boitempo, 2002).
Tradutor, ao lado de Paulo Castanheira, da obra de István
Mészáros, Para além do capital: rumo a uma teoria da transição (SP/Campinas: Boitempo/Unicamp, 2002).