Embora a Emancipação Política de Alagoas, em 1817, tivesse sido um ato unilateral do Imperador, a idéia da formação do novo Estado criado a partir do desmembramento de terras ao Sul da Capitania de Pernambuco ainda hoje, 188 anos depois, apresenta-se incompleta no que se refere aos limites geográficos.
Embora a Emancipação Política de Alagoas, em 1817, tivesse sido um ato unilateral do Imperador, a idéia da formação do novo Estado criado a partir do desmembramento de terras ao Sul da Capitania de Pernambuco ainda hoje, 188 anos depois, apresenta-se incompleta no que se refere aos limites geográficos. Por conta disso, Alagoas perdeu três municípios para Pernambuco; são eles: Bom Conselho, Águas Belas e Correntes. E, no último censo, o IBGE registrou vários povoados localizados nos municípios alagoanos de Cacimbinhas, Poço das Trincheiras, Maravilha e Dois Riachos como se fossem pernambucanos.
A maioria dos historiadores alagoanos discorda da tese segundo a qual o Estado de Alagoas foi criado como recompensa ao apoio dado à Corte, durante a Revolução Republicana de 1817, que eclodiu em Pernambuco e arrastou o Nordeste na aventura pioneira de mudança de regime – a queda da Monarquia. Na época a Capitania era dividida em comarcas e o responsável pela Comarca de Alagoas, Antônio Ferreira Batalha, tomou duas providências: arregimentou forças para lutar contra os revolucionários republicanos e rompeu a ligação administrativa com Pernambuco, submetendo-se à Bahia – como se vê, Alagoas já pertenceu à Bahia quando ainda não era Estado.
O professor e pesquisador Douglas Apratto Tenório é um dos que discorda da tese da recompensa; ele sustente que a parte ao Sul da Capitania de Pernambuco, onde hoje está localizado o Estado de Alagoas, iria fatalmente alcançar a independência devido ao desenvolvimento comercial que superava as demais regiões. Além da cana-de-açúcar, a economia se baseava na produção de coco, embarcações com vários estaleiros instalados ao longo do litoral, a pesca, o algodão – isto lhe dava vida comercial própria, com a implantação de vários escritórios comerciais estrangeiros, principalmente ingleses, em Penedo e, mais tarde, em Maceió.
“A região tinha tudo para ser independente, ou seja, se tornar Estado”, assegurou o professor Douglas Apratto.
Mas, o certo é que não havia nenhum movimento no sentido de tornar a região independente; o mais provável é que isto nunca tivesse acontecido se não fosse a decisão do ouvidor (espécie de corregedor) Batalha. A prova de que não havia movimento político lutando pela independência é que, apesar de o Estado ter sido criado a partir da luta contra o movimento republicano, após a sua consolidação, quem dominou a política alagoana foram os republicanistas liderados pelo Barão do Sinimbu – os pais deles organizaram forças em defesa da República; a mãe, dona Maria, é heroína da causa republicana em Alagoas.
Os municípios de Bom Conselho, que se limita com Palmeira dos Índios e Quebrangulo; Águas Belas, que se limita com Santana do Ipanema, e Correntes, que se limita com Santana do Mundaú, pertenciam originariamente a Alagoas; as pendências duraram até 1945, no final da II Guerra Mundial, quando os governadores de Pernambuco e de Alagoas assinaram o acordo, com o aval do Instituto Histórico e Geográfico, encerrando o impasse geográfico mais sério entre os dois Estados. Pelo acordo, o governo alagoano reconheceu oficialmente o domínio de Pernambuco e desistiu de reaver os três municípios.
Os litígios que ainda hoje se registram não causam impasse; eles apenas servem para confundir. Por exemplo: a divisa entre os municípios de Colônia Leopoldina-AL e Maraial-PE é uma linha imaginária que separa praticamente o centro da cidade alagoana. A confusão pode ser na conta de luz – a empresa pernambucana fatura do lado alagoano; ou no titulo de eleitor: os 300 eleitores dos povoados Cruz e Capelinha, em Cacimbinhas, são eleitores alagoanos, mas, para o IBGE, nasceram e vivem do lado pernambucano. Onde há rios, ainda que temporários, como o Moxotó e o Ipanema, o marco é visível; onde não há rios, o limite geográfico fica por conta da imaginação os recenseadores do IBGE, que continuam confusos ao definirem o solo alagoano.