O presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PP-PE), avisou que informará hoje a seus amigos e a alguns dos seus aliados sobre a sua decisão diante da crise o "mensalinho": se irá renunciar, se vai optar pelo afastamento do cargo ou se irá permanecer no posto para enfrentar o processo de cassação que pode resultar na sua inelegibilidade até 2015.
"Ele disse que domingo diz aos amigos e a alguns aliados sobre qual é a sua decisão", afirmou, na sexta-feira, o deputado Ciro Nogueira (PP-PI), corregedor da Câmara dos Deputados e seu afilhado político.
A decisão de Severino Cavalcanti, que provavelmente deixará nesta semana a presidência da Câmara, começou a ser finalizada em uma reunião que ocorreu anteontem em sua casa, onde ficou confinado nos últimos dias devido ao agravamento das acusações de que teria recebido mesada de R$ 10 mil em 2003 de um concessionário de restaurantes do Congresso.
Na reunião, Severino sugeriu aos amigos que tentassem articular um nome para sucedê-lo no posto, de preferência com o aval do Palácio do Planalto. A intenção de Severino é assegurar que o próximo presidente da Casa seja um aliado, o que facilitaria a sua defesa no caso de ele, apesar de renunciar à presidência, tentar manter seu mandato.
"Ele deve renunciar ou se afastar do cargo para se dedicar exclusivamente ao mandato e se defender desse bandido", disse o deputado Benedito Dias (PP-AP), em referência ao empresário Sebastião Buani, autor da denúncia do "mensalinho".
Opções
Na prática, Severino tem quatro alternativas: 1) pode renunciar somente à presidência da Câmara; 2) renunciar também ao mandato; 3) apenas se afastar temporariamente do comando da Câmara ou 4) permanecer no posto e enfrentar um processo de cassação no Conselho de Ética.
Das quatro opções, o afastamento temporário de Severino é o principal temor do Palácio do Planalto, porque o comando da Câmara, neste caso, ficaria nas mãos do pefelista José Thomaz Nonô (AL), primeiro-vice-presidente. Já a renúncia ao posto resulta em novas eleições.
Segundo a Folha apurou, os integrantes do Conselho de Ética da Câmara já acertaram com o governo que, caso Severino não renuncie ao mandato, seu processo de cassação seguirá rapidamente ao plenário para não deixar a Câmara muito tempo sob o domínio da oposição.
Na sexta-feira, Severino mandou um recado ao Planalto por meio do quarto-secretário da Mesa, João Caldas (PL-AL). Disse que não descarta a possibilidade de se afastar temporariamente, o que, na prática, sinaliza que busca uma compensação do governo para abandonar a presidência da Câmara.
Nesse mesmo dia, Severino tentou e não conseguiu marcar uma audiência com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Nós não aceitamos licença. Ou o presidente reúne condições para permanecer no cargo ou renuncia. Deixar a Câmara nas mãos de Nonô é dar ao PFL uma função para a qual não foi eleito", disse o líder do PT, Henrique Fontana (RS).
"Isso [o afastamento] poderia despertar temor no governo se o Nonô fosse irresponsável, mas o Nonô é um oposicionista responsável e tem demonstrado isso", rebateu Ciro Nogueira.
Entre os chamados "severinistas", há um consenso de que o nome do sucessor de Severino deve ser indicado pelo grupo, embora admitam que dificilmente convencerão as outras forças políticas. O principal nome aventado entre eles é o do ex-ministro Francisco Dornelles (PP-RJ), que tem se mantido ao lado de Severino. O grupo agendou uma reunião para tratar do assunto amanhã, na casa de Severino.