Resultados preliminares de um grande teste clínico de uma vacina contra o HPV (papilomavírus humano) mostraram eficácia de 100% na prevenção de lesões causadoras de câncer do colo do útero de origem viral, informa um grupo internacional de cientistas.
Resultados preliminares de um grande teste clínico de uma vacina contra o HPV (papilomavírus humano) mostraram eficácia de 100% na prevenção de lesões causadoras de câncer do colo do útero de origem viral, informa um grupo internacional de cientistas.
Os dados serão apresentados nesta sexta-feira numa conferência médica sobre doenças infecciosas em San Francisco, nos Estados Unidos. Em razão dos resultados, a farmacêutica Merck Sharp & Dohme, fabricante da vacina, já pretende entrar com pedido de aprovação do medicamento para a FDA (agência que regula drogas e fármacos nos EUA).
Os resultados são dos chamados testes de fase 3, que envolvem grande número de voluntárias e consistem na última etapa antes da chegada de uma nova droga ao mercado. O programa de testes envolve 25 mil mulheres com idades entre 16 e 23 anos, em 33 países. Do Brasil, nesse grande grupo, são cerca de 3.000 voluntárias.
Os dados agora apresentados dizem respeito a um subgrupo de cerca de 12 mil mulheres. Metade delas recebeu a vacina, a outra metade tomou um placebo (substância inócua).
"Da metade que tomou vacina, nenhuma teve lesão [precursora do câncer]. Da que tomou placebo, apareceram dezenas de casos", relata Luisa Villa, do Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer, em São Paulo. Ela liderou o grupo que faz o estudo no Brasil.
A vacina já havia apresentado resultados promissores em abril, publicados na revista médica "Lancet Oncology", mas o número de mulheres testadas ainda era relativamente pequeno, pouco mais de 500. Os novos resultados, que envolveram o acompanhamento das 12 mil voluntárias por 17 meses, trazem confiabilidade ainda maior à nova droga.
A vacina desenvolvida pela Merck é preventiva, ou seja, só serve para conferir imunidade a pessoas que ainda não foram infectadas com o vírus. Segundo Villa, quando chegar ao mercado, ela deverá ser majoritariamente aplicada em adolescentes e crianças, que ainda não iniciaram a vida sexual e, portanto, estão livres de qualquer contato com o HPV.
HPV é uma denominação "guarda-chuva": há vários tipos diferentes do mesmo vírus, cerca de cem. Alguns são inócuos, outros produzem verrugas genitais e os mais perigosos produzem lesões que levam ao câncer. A vacina da Merck protege contra quatro tipos: HPV-6, 11, 16 e 18.
"Os tipos 16 e 18 são responsáveis por 70% ou mais dos cânceres de colo de útero", diz Villa. "Já os 6 e 11 respondem por mais de 90% das verrugas genitais."
A conclusão do estudo de fase 3, segundo Villa, com dados relativos às 25 mil mulheres, deve acontecer no ano que vem.
A vacina da Merck é apenas uma das drogas que estão sendo desenvolvidas para combater o HPV. No Brasil, uma outra vacina passa no momento por testes com animais. Desenvolvida pela USP e pelo Instituto Butantan, ela só se aplica aos tipos 16 e 18. E outros grupos buscam novas estratégias, tanto preventivas quanto terapêuticas (para tratamento após uma infecção) para atacar o vírus.
O balanço dos esforços é que a luta contra o HPV parece estar caminhando para um final feliz, ainda que por ora não se possa combater todos os tipos do vírus, nem ter uma terapia satisfatória. "Aumentam as esperanças de que possamos erradicar boa parte dos tumores que hoje acometem muitas mulheres", diz Villa.