Uma das possibilidades investigadas para a origem do foco de aftosa em Mato Grosso do Sul - levantada pelo governador José Orcílio dos Santos, o Zeca do PT - é que a doença pode ter sido trazido a terras brasileiras por meio de gado contrabandeado do Paraguai.
Os policiais do DOF (Departamento de Operações de Fronteira) encontraram em uma propriedade rural em Japorã (MS) cabeças de gado possivelmente trazidas do Paraguai. O departamento investiga a origem do foco de febre aftosa que apareceu no município de Eldorado, localizado a 18 km de Japorã. O foco foi confirmado no último dia 10 pelo Ministério da Agricultura.
Uma das possibilidades investigadas para a origem do foco de aftosa em Mato Grosso do Sul –levantada pelo governador José Orcílio dos Santos, o Zeca do PT– é que a doença pode ter sido trazido a terras brasileiras por meio de gado contrabandeado do Paraguai.
"Pelas marcas encontradas no gado periciado, há fortes indícios de que ele tenha vindo do Paraguai. As marcas [impressas no couro do gado] fogem à regra das marcações brasileiras", disse o delegado Antônio Carlos Videira, do DOF.
Segundo o delegado, normalmente as marcas brasileiras são menores do que as marcas feitas no país vizinho.
"Não é uma regra, mas geralmente as marcas paraguaias são até duas vezes e meia maiores do que as brasileiras", disse Videira. "Para quem lida com gado na fronteira, bate o olho na marca e já sabe qual a procedência do gado."
Para identificar a origem dos animais, os policiais fizeram o registro das marcas impressas no couro de cerca de 900 cabeças de gado de uma fazenda em Japorã, localizada próxima da fronteira com o Paraguai.
A partir de amanhã os peritos do DOF irão confrontar as marcas colhidas nos animais com as marcas registradas na ficha sanitária dos produtores brasileiros. Caso seja encontrada uma marca não registrada no Brasil, pode ser solicitado às autoridades sanitárias do Paraguai o eventual registro da marca por um produtor do país.
O resultado oficial da perícia deve sair nos próximos dias. Paralelamente, está sendo investigado também se os animais da fazenda estão contaminados com o vírus da febre aftosa.
"Caso dêem positivo os exames na fazenda, haverá indícios também de que o foco de aftosa tenha vindo do Paraguai", disse Videira.
Só o município de Japorã tem 40 km de fronteira seca com o Paraguai, com propriedades rurais ao longo de toda linha que divide os países. No município, a maioria das pessoas com quem a reportagem da Folha conversou disse que há contrabando de gado, mas ninguém dá provas ou indícios convincentes.
As autoridades sanitárias do Paraguai negaram que exista contrabando de gado na fronteira. O país foi certificado pela OIE (Organização Mundial de Saúde Animal) como zona livre de aftosa com vacinação em janeiro.
Um produtor rural de Japorã que se identificou apenas pelo apelido de Chiquinho e que tem cerca de 90 cabeças de gado com suspeita de contaminação disse hoje que não vai deixar que matem seus animais.
"Gado meu que não tiver doente, não vou deixar matar, não. Só tenho isso pra viver. Se matar, vai ter que me levar junto", disse Chiquinho.
Os animais de Chiquinho foram os primeiros a ter material colhido para exame depois da confirmação do foco em Eldorado.
Desde que a doença foi confirmada, técnicos da Iagro (Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal) estão vistoriando as propriedades localizadas em um raio de 25 km do foco para tentar identificar eventuais novos casos da doença. O resultado da análise do sangue e da mucosa dos primeiros animais analisados ainda não foi concluído.