Organizações de classe, associações, entidades religiosas, centrais sindicais e partidos políticos se posicionaram de maneira contrária ou favorável por meio de debates, manifestações e cartas públicas.
A sociedade brasileira participou dos debates das campanhas para decidir sobre a proibição do comércio de armas de fogo e munição no país. Organizações de classe, associações, entidades religiosas, centrais sindicais e partidos políticos se posicionaram de maneira contrária ou favorável por meio de debates, manifestações e cartas públicas.
Algumas organizações não adotaram posição oficial, liberando seus integrantes para a escolha. A maioria dos partidos políticos, por exemplo, não se posicionou oficialmente. Apenas quatro das maiores legendas oficializaram suas escolhas. Entre as entidades da sociedade civil que anunciaram que dirão "sim" à pergunta do referendo, estão o Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag). Entre as que dirão "não", a Associação dos Policiais Militares do Brasil (Aspom) e a União Democrática Ruralista (UDR).
O grande número de mortes por armas de fogo entre cidadãos comuns é o argumento mais forte das duas entidades entrevistadas que anunciaram que dirão "sim" à pergunta do referendo. A coordenadora nacional do MNDH, Rosiane Queiroz, diz que o movimento, que reúne mais de 400 entidades em todo o país, vai votar "sim" pela diminuição da violência.
"A proibição desse comércio de armas e de munição que impossibilite o acesso a essas armas pode fazer com que as pessoas matem menos, que a gente consiga diminuir esse nível de violência dentro do mundo das relações interpessoais, domésticas, entre cidadãos comuns morando em qualquer periferia, em qualquer lugar", justifica. Ela também diz que o cidadão armado não tem condições de se proteger sozinho. "Não é ele o responsável por fazer a sua segurança. Esta deve ser uma política pública garantida pelo estado, pelo governo, pelo poder público".
O presidente da Contag, Manoel dos Santos, diz que grande parte da população armada mata por motivos fúteis. "A população armada, com o nível educacional, cultural e de valores morais que nós temos, os acidentes, as mortes por motivos fúteis são muito grandes. Então entendemos que a proibição do uso da arma irá contribuir para diminuir o processo das mortes por armas de fogo", defende Santos.
Os que se posicionam contra a proibição e anunciaram que votarão "não" no referendo do próximo domingo dizem que não querem perder o direito de possuir uma arma. O diretor-presidente da Aspom, Talvani Ribeiro, afirma que teme que se o direito de possuir armas e munições for extinto, outros direitos também o sejam. "O nosso posicionamento pelo não é justamente porque nós defendemos um direito de todo o cidadão brasileiro. Já tiraram muito e hoje eles estão querendo tirar mais um direito nosso e simplesmente eu pergunto qual será o próximo direito tirado do cidadão brasileiro", comenta.
Como representante de uma entidade de policiais militares, Ribeiro também relata que os bandidos não poupam a vida de policiais, que precisam, segundo ele, estar quase sempre armados para se defenderem. "Hoje basta identificar o cidadão policial militar se ele for descoberto que é um policial em confronto com um bandido ele é um cidadão morto. Se ele estiver armado ele vai defender a vida dele", afirma. O que vai diminuir a violência no país "é valorizar a parte social e a educação no país, as escolas informando o cidadão de bem para o futuro", diz o policial.
A União Democrática Ruralista (UDR) também apóia o "não" à proibição da venda de armas e munição. O presidente da UDR, Luiz Antônio Garcia, diz que a zona rural é alvo de assaltos freqüentes e que as armas são necessárias nessas localidades. "Hoje os insumos têm um preço muito alto, máquinas agrícolas, defensivos, então existe hoje um índice muito grande de assaltos e criminalidade em zonas rurais", afirma.
Garcia critica o dispositivo do Estatuto do Desarmamento que prevê a concessão de armas para residentes em áreas rurais que comprovem depender de arma de fogo para prover sua subsistência: "É até uma contradição, porque a caça no Brasil é proibida".
No primeiro referendo do país, a população deve comparecer às zonas eleitorais das 8 horas às 17 horas. O voto no referendo é obrigatório, e quem não comparecer à votação deverá justificar a ausência em qualquer seção eleitoral. Para votar é preciso levar o título de eleitor ou documento com foto. O voto é facultativo para menores de 18 anos e maiores de 70 anos.